Heloísa Schürmann – Sempre um Papo

Para a velejadora acostumada a domar ondas e ventos fortes, a tempestade de verão, pouco antes do “papo”, deve ter sido amigável e refrescante…

A autora lançou, no programa “Sempre um Papo“, o livro “Pequeno Segredo – a lição de vida de Kat para a família Schurmann”. Antes publicara “Dez Anos no Mar” (1995), “Um Mundo de Aventuras” (2000) e “Em Busca do Sonho” (2006).

Heloísa se mostra tão disponível, bem-humorada, e o seu abraço é um aconchego, um acolhimento imediato; assim, sentimo-nos como se já a conhecessemos há muito. Daí já se pode imaginar a aceitação incondicional da filha Kat.

Esta rica história deveria mesmo ser contada. Nenhuma ficção poderia tecer os fios entrelaçados destas vidas. Todas as pessoas envolvidas e sensíveis cresceram naquela situação, se transformaram e, em ondas sucessivas, transmitiam calor humano, dedicação e responsabilidade.

Sabemos das contradições e falhas da natureza humana e neste livro pudemos vivenciar, com a família Schürmann, a extensão dos preconceitos, dos julgamentos, das “verdades” pré-estabelecidas. Contudo, a força maior foi — e continuará sendo — o resultado positivo da alegre, intensa e fecunda vida de Kat, apesar de muito breve.

O mais importante foi a lucidez da família na educação e convívio com a pequena e inteligente menina. Com eles, Kat pôde, sem superproteção, se desenvolver plenamente, pôde aproveitar ao máximo de todo o mundo de viagens, experiências e aprendizagem.

O bom leitor — aquele que lê nas entrelinhas e/ou apreende o subtexto — pode perceber, através do estilo leve — não superficial — da autora a profundidade do drama, as incontáveis dificuldades e os percalços não escritos, mas superados.

O lúcido capitão Vilfredo, Heloísa, esta mulher forte, e os dedicados rapazes são admiráveis exemplos.

Felizmente em novembro de 2013 estarão se lançando ao mar em mais uma aventura enriquecedora… bons ventos!

Os livros de Heloísa nos inspiraram, muitas vezes, os roteiros de viagens exóticas. Visitamos as ilhas dos Mares do Sul e já chegamos até Brunei, seguindo os nossos sonhos, e as aventuras da, ainda bem, família “maluca” Schürmann!

A amante de Benito Mussolini

O filme “Vincere” de Marco Bellocchio (2009) retrata uma história de amor e ódio, como são as grandes paixões.

Ida Dalser, uma bela jovem, acreditou nos ideais de Benito Mussolini. Apaixonam-se. Ida vende tudo para financiar o jornal “Il Popolo dell’Italia” que contribuiu para que o socialista Mussolini se transformasse no amado e odiado “Duce”.

Por lutar publicamente pelo reconhecimento do filho e exigir direitos, Ida é internada em hospícios italianos dirigidos por padres e freiras católicos.

O ponto alto do filme é a lucidez de um psiquiatra ao tentar mostrar a Ida que, naquele mundo fascista, a verdade era intolerável. Ela teria, ponderava o médico, de comportar-se conforme o figurino, de fazer-se submissa, de, até, decorar poemas ao gosto da madre superiora… seria o único meio de se livrar do hospício para cuidar e proteger o filho, também internado em instituições para doentes mentais.

Contudo, Ida não conseguiu compreender e seguir as estratégicas recomendações que poderiam salvá-la. Como todo amante desesperado, não aceitou a rejeição da sua loucura de amor, envolvendo o filho desde a mais tenra idade neste drama doloroso, levando-os a um fim trágico.

Ao terminar o filme, fica a triste sensação de desperdício de vidas. Repete-se, ainda e sempre, de várias formas, a tragédia grega de Medéia, aquela poderosa mulher que, ao sentir-se abandonada pelo amado Jason, mata-se juntamente com os próprios filhos.

Apesar das controvérsias há documentos na cidade de Milão, onde Mussolini fora obrigado a pagar pensão alimentícia. Esta, ainda, é uma página obscura na história italiana, somente descoberta em 2005.

A Cidade dos Mórmons

…Salt Lake City é muito agradável, plana, arborizada, cercada de montanhas aveludadas.

A natureza é pródiga em Utah! A viagem vale por si só! As estradas rodeadas de vegetação colorida, de pedreiras ponteagudas, nos conduzem à progressiva cidade, sede das Olímpiadas de Inverno de 2002.

Como sempre, deixamos a pouca bagagem no hotel e saímos imediatamente, perambulando sem destino — o melhor jeito de descobrir maravilhas — pelas avenidas largas e limpas, pela praça do capitólio, um edifício imponente cheio de histórias e símbolos. Há muitos restaurantes exóticos, entre eles o Himalayan Kitchen, onde aproveitamos os sabores do Nepal e da Índia: “tikka masala” servido em recipientes e talheres de bronze.

Ainda perambulando, fomos parar no Temple Square: não sabíamos nada sobre este lugar, com 40 mil m² de jardins, templos, escritórios comerciais, conference center, o tabernáculo com um órgão gigantesco e coral de 360 vozes. Ainda, um belíssimo e antigo hotel transformado em memorial do fundador Joseph Smith. A réplica da imagem de Jesus Cristo de Copenhagen (3,4 m), esculpida por um artista dinamarquês, emociona fiéis e turistas. O templo principal, com espelho d’água, fontes e belíssimo jardim é magnífico. A construção toda em granito  foi iniciada em 1853 e durou 40 anos.

Naquele fim de semana se realizava a conferência semestral, com um número incontável de mórmons de todos os lugares. No intervalo de almoço, as famílias faziam piquenique na grama ao som do coral. Tudo bem organizado, muito limpo, muito bonito. Havia muitos jovens com placas anunciando a língua nativa para informações de, praticamente, todos os países. A partir de 18 anos, moças e rapazes já são missionários e partem mundo afora. Ficamos muito bem impressionados com a acolhida carinhosa; éramos “forasteiros” mas, por onde passamos, e de todas as pessoas com as quais cruzamos, recebemos mensagens amigáveis.

Nesta mesma noite tivemos um encontro agradibilíssimo em casa de amigos que confirmaram as gentilezas e a convivência fraternal dos princípios mórmons.

 

Aventuras de Pi – filme de Ang Lee

Não, não é para o público infantil. E isto se comprovou quando três mocinhas conversaram, se levantaram, ficaram inquietas durante toda a sessão. Infelizmente as pré-adolescentes nem tentaram aproveitar a beleza da história. Uma pena!

piMelhor seria se o nome original tivesse sido preservado: “A Vida de Pi“, pois Ang Lee vai muito além de aventuras. É uma novela de 2001, de autoria de Yann Martel e o talentoso Ang Lee, entre muitos diretores, foi escolhido para dirigir o filme. As fotografias são da Índia e a equipe ficou em Taiwan por cinco meses e meio, com tomadas no zoológico, aeroporto, no Kenting National Park (próximo ao lugar onde Ang Lee nasceu) e em Montreal no Canadá.

As cenas do oceano foram feitas num tanque construído num aeroporto abandonado, sendo o maior do mundo capaz de gerar ondas (4800 m³). A animação pesquisou e trabalhou durante um ano para desenvolver o tigre Richard Parker.

Surpreendente a filmagem na Piscine Molitor, nos arredores de Paris, construída em 1929, inaugurada pelo atleta olímpico Johnny Weissmuller, o saudoso Tarzan. Foi lá a apresentação do tão abrasileirado biquini em 1946, bem avançadinhos! O belo complexo em art deco foi fechado em 1989, hoje está todo grafitado por vândalos; ameaçado de demolição, o parque aquático, graças ao movimento “SOS Molitor” de cidadãos franceses, está sendo restaurado. Incluirá duas piscinas, centro médico e de saúde, restaurantes e um hotel 4 estrelas. A abertura está prevista para 2014. Alvíssaras!

O ator Suraj Sharma, no papel de Pi aos 17 anos, é estreante e se submeteu a intensivos treinos de sobrevivência no oceano, bem como à prática de yoga e meditação. Valeu todo o esforço e dedicação.

A “Vida de Pi” mostra vivamente a força da motivação interior, a crença de um jovem muito sensível, inteligente e determinado; Ang Lee transformou o filme em um conto de fadas trágico repleto de poesia, magia e simbolismo. A interpretação das histórias de Pi ficou, deliberadamente, para a imaginação e sensibilidade do espectador.

Jardim Botânico Plantarum – Nova Odessa, SP

O Jardim Botânico Plantarum, Av. Brasil 2000, Nova Odessa, SP, bem pertinho de Campinas, vai muito além dos 80 mil m² com 300 belas palmeiras brasileiras, das quais 200 são exóticas, da paisagem colorida, das esculturas, da perfeita organização, limpeza e bom gosto.

O Jardim Plantarum se nivela às grandes obras dos visionários, aquelas pessoas movidas por uma inabalável força interior e esperança sem limites.

Os parques do Grand Canyon e Yellowstone, por exemplo, nos Estados Unidos, além de receberem subsídios do governo, contam com milhares de contribuições voluntárias para a custosa manutenção. Parques europeus recebem apoio de empresas privadas. Este magnífico Jardim Plantarum é privado, nem tem isenção do pagamento de IPTU! O canteiro central da avenida do jardim, com belíssimas árvores meticulosamente classificadas, é mantido e limpo pelo parque. A água da chuva é armazenada e reaproveitada na irrigação.

O Plantarum tem um programa incipiente de associados que deve merecer o maior apoio. Associar-se a esta utopia verde é uma demonstração de cidadania.

O idealizador do projeto, o Eng. Agrônomo e botânico brasileiro, Harri Lorenzi, vai diariamente ao jardim e recebe os visitantes com máxima cordialidade e atenção. Um dos seus grandes méritos é conservar espécies ameaçadas de extinção e algumas até extintas no país. Lorenzi é também excelente autor de dezenas de livros. Há, ainda, variados cursos de paisagismo, pintura a aquarela de plantas/flores e oficinas verdes ao longo do ano, xiloteca, carpoteca, biblioteca e vasto material para pesquisa.

Há um excelente restaurante, espaçoso centro de eventos, empório de souvenirs, sementes e mudas. Chupar as mangas dulcíssimas caídas do pé, com caldo escorrendo pelos cotovelos, foi um luxo! A muda de vitória-régia é um espanto. Andar pelas alamedas, contemplar as incríveis formas verdes e coloridas, enfim, estar lá, traz uma sensação de leveza e bem-estar incomparáveis.

Nós, mineiros, levamos a boa nova do Plantarum para os amigos de Campinas, que se deliciaram. Por lá e por aqui a notícia de um jardim de tão alta qualidade, com fácil acesso, é uma grata surpresa.

Parques

Este mundão é inusitado! Está explicada a motivação do povo nômade em perambular por aí; além da coleta, da caça, a diversidade dos campos, das florestas, das montanhas, dos rios, certamente era um plus significativo e invejável!

Pobres de nós, cuja paisagem é um monte de janelas, filas intermináveis de bichos metálicos barulhentos, viadutos, pirâmides e outras figuras geométricas em vidros fosforescentes! Nem é bom lembrar daquela massa compacta emergindo de trens e metrôs…

Podemos avaliar a péssima qualidade de vida nas cidades grandes ao percorrer estradas vazias cortando as Montanhas Rochosas com o horizonte a perder de vista — sim, faz uma diferença enorme para a retina ver o infinito lááá looonge.

As árvores vestidas de dourado-amarelo-vermelho, as pedras pontiagudas enormes às margens das rodovias muito bem cuidadas, já indicam a beleza dos parques em torno de Moab/Utah, nos Estados Unidos. A cidadinha de Moab é muito agradável. A rua principal, cheia de hotéis, restaurantes, agências de aventuras radicais (e outras nem tanto), tudo em estilo do velho Oeste. Lojas muito boas. As galerias de arte e livrarias de alto nível são surpreendentes!

A cidade é ponto de partida para o Arches National Park, Canyonlands National Park e Deadhorse Point. A paisagem é indescritível: nenhum delírio, fantasia ou sonho humanos podem se comparar às brincadeiras da natureza por 300 milhões de anos. A cada momento, a cada curva, formações bizarras, impressionantes desenham palácios, pontes, círculos vazados e milhares de arcos frágeis, graciosos desafiam a gravidade. Os nomes, em tradução livre, são bem apropriados: as fofoqueiras, a torre de Babel, o órgão, o tribunal, as janelas, os jardins do diabo, etc. etc.

Os rios Colorado e Green se encontram e dividem Canyonlands em 3 partes. Apenas a parte norte pode ser percorrida de carro, nas outras há trilhas acidentadas, belíssimas para longas caminhadas e umas poucas para veículos 4×4. Uma antiga mina de urânio é hoje um dos lugares mais bonitos e mais bem conservados do parque. O Shafer Trail inexplicavelmente foi, no século passado, lugar para criação de gado e carneiros que, muitas vezes, despencavam canyon abaixo.

Em Deadhorse Point foi filmada a magnífica cena final do filme “Thelma & Louise“. Deadhorse Point é tão forte, tão imponente… silencia qualquer um.

As imagens deste lugar emocionam profundamente; estão guardadas para iluminar algum momento escuro!

A moça da Academia…

…a roupa de ginástica branca colante, o top bem decotado realça os seios fartos e o bronzeado; a risada alta, os dentes clareados, a boca carnuda… sente-se a dona do pedaço.

Com gestos amplos e requebros atrai os professores à sua volta e todos os olhares do salão.

Dá até gosto observar os volteios, a maquiagem perfeita, a satisfação de reinar ali entre os equipamentos de fortalecer o corpo, absolutamente invisíveis para a morena bonita, de bunda arrebitada.

… a voz — uma pena! — uma oitava acima, desafinada… com um mínimo de percepção ficaria caladinha.

A moça-corpo, acompanhada do personal trainer, finge malhar, disfarça com pesos leves, desfila a malha bem justa; mais gritinhos e, cumprida a pantomima, vai-se…

Copyright©2012 Maria Brockerhoff

Amour

Amour…é um filme forte pra gente forte! Michael Haneke, diretor e roteirista austríaco é bem conhecido pela competência e pelos temas perturbadores e inquietantes.

Haneke estudou filosofia, psicologia e dramaturgia na universidade de Viena. Foi diretor de TV em 1974, estreou no cinema em 1989, já no estilo arrojado que tornaria a sua marca. Entre grandes sucessos, destacam-se “A Professora de Piano” (2001) e o surpreendente “Fita Branca” (2009). Dirige, também, óperas em Berlim, Munique e Viena. Costuma filosofar: “filmes devem oferecer espaço para a imaginação e reflexões; filmes muito explicativos com lições de moral são para mentes vazias e consumistas”.

O ator Jean-Louis Trintignant tem 82 anos e sua parceira Emmanuelle Riva tem inacreditáveis 85. Uma surpresa do filme é a apresentação pessoal do pianista Alexandre Tharaud, no papel de si mesmo – uma gentileza do diretor.

Em “Amour”, Haneke teria se baseado em fatos da própria família. Aliás, o drama do filme está agora, praticamente, em cada família, ali mesmo no vizinho…

É um retrato sem pieguices de um casal idoso que consegue tomar as rédeas das suas emoções e dificuldades com lucidez e coragem. Ali nenhum deles “deixa na mão de Deus, Alá, Jeová” ou de quem quer que seja a solução de suas vidas.

O filme mostra incisivamente a arrogância, a pretensão, em geral, de filhos distantes em querer impor, ditar o que lhes parece acertado. É instigadora e lúcida a resposta do pai para a filha:

— a sua preocupação nós é inteiramente inútil —

Isto porque a dita preocupação nada mais era do que falta de sensibilidade e de empatia com os pais. Na realidade, a desnecessária preocupação é um discurso vazio para encobrir profunda indiferença e o consequente sentimento de culpa.

O filme é imperdível. Contudo, não se lhe aplica o adjetivo “lindo”, nem é para relaxar. Muitas vezes, é bom mesmo e válido enfiar a cabeça na areia como a avestruz :-); neste caso, Haneke cortando com precisão cirúrgica a hipocrisia, mostra, a quem quiser ver, outros rumos para a vida.