A Música do Espinhaço…

…está na praça, outra vez, para o gáudio de um mar de gente! No novo CD, Bernardo, Gustavo, Matheus, Rafa, Zé Mauro mostraram, proficuamente, os resultados da imersão nos matos, nas cachoeiras e janelas da Cordilheira do Brasil.

Além da criatividade, esforço e suor, este bando visionário enfrentou todas as dificuldades com as tais “leis de incentivos” (não se sabe a que?!)… o Músicas do Espinhaço, como outros grupos talentosos, não conseguiu atingir os misteriosos e intrincados critérios das leis culturais. É outro setor clamante por mudanças, já! Entretanto, isto foi só mais uma barreira ultrapassada com a beleza dos poemas musicados do CD Janelas. As tais leis não valorizaram este grupo musical; porém, encontrou amplo apoio no patrocínio coletivo.

Sugerimos sejam as letras — de autoria de Bernardo Pühler — publicadas no site, pois são poesias de elevado quilate. Guimarães Rosa deve sorrir lá em cima! O texto de apresentação prova a maturidade do grupo, outra sugestão para o site. As fotos, muito bem feitas, revelam a fonte de inspiração.

As mãos e a arte de Eloíse Frota completam a excelência deste último lançamento. A capa do CD, em juta, num trabalho manual uma a uma desta artista iluminada, traduziu perfeitamente os anseios, os objetivos, os sonhos do Músicas do Espinhaço. Afora a expertise, está a profunda afeição pelos rapazes inspirados da Cordilheira!

Para o enlevo da galera, uma palinha:

Janelas

Anseios por minhas janelas
e eu nem as tenho para dar
me invento do lado de dentro
me experimento seu experimento ocular

me enquadro em lapso cintilante
errante desisto da fala
mas sou homem da boca pra dentro
no estojo da alma

A terra de lá onde eu venho
é pedra e não terra que há
mas vejam aqui nesse engenho
é a janela que posso dar

A noite na beira do rio
me cala milênios de voz
mas eu trago a voz desses bichos
no estojo da alma

minha alma, minha alma, minha alma…

Inhotim e Big Bands

Uma combinação harmoniosa! 🙂

Apresentaram-se no teatro do Inhotim a Big Band Palácio das Artes e a Big Band UEMG.

A BBPA é dirigida pelo pianista Nestor Lombida, muito conhecido e admirado com uma multidão de alunos e seguidores. Lombida já bem merece o título “Doutor Honoris Causa” pela competência e qualidade profissional – fica a sugestão!

Além de algumas peças de inspiração brasileiro-cubana, tocaram “Transit“, uma das nossas prediletas.

Uma grata surpresa a Big Band UEMG. O regente graduado em saxofone e pós-graduado em música brasileira pela UEMG é Ivan Egídio da Silva Junior, cujo entusiasmo dá gosto. Foram apresentadas músicas com arranjos notáveis de músicos mineiros, inclusive um do jovem Josué, trombone da Big Band. É um excelente estímulo valorizar a prata da casa!

O som, o ritmo, o estilo destas bandas são envolventes e contagiantes. A vibração, o vigor, a alegria e o companheirismo dos jovens músicos são a melhor demonstração de talento e virtuosismo.

 

Evelyn Glennie no Minas Tênis Clube

Uma virtuose escocesa, simpática, alegre e muito simples, como o são os grandes, apresentou-se em Belo Horizonte, MG.

Além da forte tradição musical no nordeste da Escócia, onde o desenvolvimento dos jovens músicos é levado muito a sério, o pai tocava acordeon e Evelyn Glennie tocava, inicialmente, gaita e clarineta. Começou a perder a audição aos 8 anos e aos 12 ficou profundamente surda.

Esta artista rompe paradigmas e preconceitos. Por volta dos 15 anos, Evelyn disse à conselheira vocacional que pretendia seguir a carreira musical. A orientadora, perplexa e um tanto obtusa, como sói acontecer, sugeriu-lhe cursar contabilidade (!!). Desde então, a busca do som tornou-se um desafio ainda mais forte. Ela aprendeu a “ouvir” com outras partes do corpo as vibrações sonoras que substituem, incrivelmente, os ouvidos. Sente vibrações específicas, por exemplo, no dedo indicador.

No palco, uma parafernália selecionada dos mais de 1800 instrumentos da sua coleção. A maior percussionista de todos os tempos é criativa e inventa sons de pedras, conchas e constrói instrumentos dos quais extrai belíssimos sons, como o “aquaphone”. A marimba é suspensa para melhor transmissão das vibrações, assim como a apresentação descalça. Ela toca, ainda, o “Hang”: instrumento suiço, incomum, feito apenas sob encomenda.

Evelyn Glennie fala normalmente, com enunciação precisa; não tem sequela alguma da deficiência. Faz palestras sobre a surdez, cuja natureza é incompreendida pelo público em geral. A carreira inigualável desta moça mudou os padrões do ensino musical no Reino Unido. Ela própria é a prova viva de superação, de desafio de limites e de força interior.

De quebra, ela desenha e fabrica jóias de uma beleza ímpar.

O insight incrível de Evelyn é a busca do som em si mesmo, muito além da música: o corpo é fonte de som.

 

Big Band P. Artes — Nestor Lombida

Pela primeira vez, assistimos ao show da Big Band Palácio das Artes. Uma agradável e afinada surpresa! Há cinco anos, a BBPA vem apresentando boa música sob a batuta do pianista e violonista, maestro e arranjador Nestor Lombida, formado pela Escola Nacional de Arte de Havana, Cuba.

Nestor se envolve, se incorpora e se transforma em ritmo. Tem uma forte presença alegre e carismática. Com os outros talentosos músicos a Big Band executa arranjos modernos e desafiadores.

A platéia, praticamente lotada, entusiasmou-se em aplausos prolongados. É uma sorte para os brasileiros que Nestor tenha escolhido esta terra para multiplicar seus talentos!

Uma Big Band geralmente tem 17 músicos: 4 trombones, 5 saxofones, 4 trompetes ou similares, piano, bateria, contrabaixo e guitarra. A BBPA acrescenta um trompete e, em algumas peças, um percussionista. Em contraste com outras formas de jazz, onde o improviso é constante, uma BB toca arranjos complexos e muito bem ensaiados intercalados com um ou dois solos improvisados. Nesse espetáculo, gostamos especialmente de “Transit”, composição do jovem maestro canadense Darcy James Argue — já esteve em Belo Horizonte. Veja esta peça executada pela BB do compositor, a “Secret Society“:

Note o solo de trompete na marca dos 3:00 minutos. A “idade de ouro” das Big Bands foi de 1930 a 1945 nos Estados Unidos e, no Brasil, na década de 60. O formato foi perdendo a popularidade por ser caro, devido ao número de integrantes e difícil de ser bem executado, devido à complexidade dos arranjos. Felizmente as BBs ainda existentes são de excelente qualidade, sobejamente comprovado pela BBPA.

Uma parte do concerto foi executada pelo Lyrical Jazz, pequeno conjunto com Rita Medeiros, cantando também alguns “standards” com a BBPA. Tem uma voz belíssima e bem afinada. A técnica é impecável… falta-lhe uma pitada de sal ou de pimenta!

Músicas do Espinhaço e…

Parque das Águas Burle Marx, no Barreiro de Cima (Belo Horizonte) foi uma bela combinação na gostosa tarde de domingo, 2/6.

O parque é uma agradável surpresa, um oásis na cidade grande: extenso gramado cortado por minicanais de água, canteiros floridos, cascata, riachinho cantante e belíssimas árvores! Lá se realizam atividades físicas, bem cedinho, embaladas pelo canto dos passarinhos, conforme nos contou Denise, uma gentil moradora, que num gesto espontâneo e cordial se transformou em “guia” do parque.

A banda do Bernardo (+ Zé Mauro, Gustavo, Matheus e Rafael) apresentou músicas novas — “Janelas”, por exemplo, é um poema — e foi atraindo as pessoas que, antes dispersas, foram se aproximando, silenciando-se e, finalmente, dançando… momentos deliciosos.

Adrilene, eficientemente, teve a feliz idéia de estender toalhas coloridas no gramado, onde o pessoal se sentou e degustou maçãs e laranjas oferecidas pelo grupo; as crianças adoraram! Não é um luxo?

A música do Espinhaço faz jus às suas raízes mineiras, à Estrada Real e à nossa “cordilheira”. As letras são substanciosas, valendo por si mesmas, até independentemente da melodia. A afinação é um dos fortes da banda, além de os rapazes, liderados por Bernardo, sentirem-se em casa no palco e com o público.

O apoio da Prefeitura para a apresentação destes shows em parques é louvável, sendo um avanço na distribuição de cultura.