Numa bifurcação do Rhône, Arles — no sul da França — é a porta de Camargue: uma região muito rica em biodiversidade, escolhida pelos flamingos e morada dos intrigantes touros negros. Ao anoitecer, aportamos neste canal do rio, protegido por muralhas.
Neste canal havia uma ponte espetacular destruída na Segunda Guerra; restaram dois pilares e, relembrando a grandeza da obra, pares de leões em cada margem:
Arles, nos séculos IV e V, foi um grande centro cultural e comercial; ocupada por diferentes povos, até que os romanos fincaram pé e permaneceram por mais de 800 anos. Daí as características construções bem conservadas até hoje. Claro, um magnífico coliseu faz parte do currículo do império romano:
Aqui o passado volta com o clamor da turba, o rugido dos leões. Agora realizam-se festivais. Felizmente, nas touradas atuais, não se matam os touros; ágeis atletas tentam retirar as fitas dos chifres em uma arena civilizada.
Ouvir o caloroso ritmo cubano num boteco da esquina em meio às ruínas romanas significa convívio saudável; aproximamo-nos e gente de todas as cores dançava alegremente.
Como sempre, perambular sem rumo é o melhor destino. Arles, especialmente, é uma caixa de surpresas.
Seguir os passos de van Gogh nos leva às suas telas: Terrasse du café le soir, La Chambre à coucher, Les Alyscamps, Autoportrait à l’oreille bandée, dentre outras. Vale ver o filme Loving Vincent. Aqui van Gogh cortou a orelha. A criatividade deste pintor era, para o mundo medíocre, alucinações e loucura. Para “preservar a ordem pública” (!), o povo de Arles exigiu do médico a internação deste gênio em hospital psiquiátrico.
Constantino I, o Augusto romano, construiu as excelentes termas. Os banhos, com a incrível idéia dos hipocaustos, foram outra característica do savoir vivre dos romanos:
Arles, com uma história forte, é uma interrogação…