Assim como as páginas
de um livro
o tempo nos aguarda
cheio de mistérios
As páginas do tempo disponíveis
para os desejos
à espera de impulsos da vontade
da ousadia de transformar
da capacidade de ultrapassar
Estas páginas
assim como todos os dias
serão preenchidos com
seiva suor lágrimas
Cada um de nós usará
a tinta das veias
para colorir umas e outros
Foto
Cecília Meireles
Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente ondas.
Sabendo bem que eras nuvem, depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil
fiquei sem poder chorar quando caí.
3 de Abril
…vai fundo
o significado da despedida
não mais volta
nem ida
ao por do sol.
Delineia-se altivo
o definitivo
o fim da linha
Copyright©2024 Maria Brockerhoff
Páscoa — Passagem
…hoje percorremos a diversidade das passagens por este mundão sem fim!
• Mar Vermelho: um golfo do Oceano Índico entre a África e a Ásia. À esquerda, o Golfo e Canal de Suez; a peninsula do Sinai ao centro, Egito; à direita, o Golfo de Aqaba.
O significado da Páscoa / Passagem é bem marcante para os hebreus perseguidos pelos egípcios diante da barreira intransponível do Mar Vermelho. O mar se abriu em uma passagem segura e se fechou sobre o exército egípcio. Há muitos e variados estudos sobre essa passagem. O nome em hebraico, Yam Suph significa “pântano de juncos”; assim, a hipótese é a de que as bigas egípcias se atolaram no pântano.
• Antártida, Passagem Drake:
A sala de entrada da Antártida; Pacífico e Atlântico se fundem sob ventos fortes e manto de gelo.
• Bahia, Península de Maraú:
Na Lagoa do Cassange, a trilha do fim do túnel…
• Sérvia, Portão de Ferro:
As pontes, passagens acolhedoras, são imprescindíveis nesta vida!
• Irlanda do Norte, a Carrick-a-Rede Rope Bridge:
Esta ponte de cordas une dois penhascos de 30m de altura. É usada pelos pescadores de salmão. …silêncio profundo só cortado pelos ventos…
• Bhutan, emblemáticos os portões de entrada ao reino da felicidade:
Para os indianos, o portão de entrada é a passagem para a terra prometida como os Estados Unidos o são para os mexicanos. A imigração é severamente restrita.
• Egito, Canal de Suez; liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo:
Este é um Mar feito à mão. Aqui, a ficção imita a vida.
Nesta viagem, a travessia, desfiladeiros, desvios, gargantas, estreitos, meandros são muitos… e significativas passagens… levam-nos a encontros, separação, alívio, fuga, plenitude, libertação…
Copyright©2020 Maria Brockerhoff
Instituto Galo na Arena MRV
Em Belo Horizonte, a primeira casa do Galo foi em Lourdes — 1929 a 1968 — onde agora é o Diamond Mall. Hoje o Atlético Mineiro está na Arena MRV, bairro Califórnia, com 185 mil m2 de área construída, em terreno doado por Rubens Menin. O primeiro grupo do Clube dos 113 do Instituto Galo fez o tour pelo estádio.
O grande Bernardo Farkasvölgyi dispensa apresentação: é a arquitetura transformada em arte. O arquiteto e equipe visitaram mais de 20 estádios no Brasil e Europa para trazer mais tecnologia, segurança e conforto aos torcedores e jogadores.
Conseguiram admiravelmente: é possível evacuar a Arena MRV em até 8 minutos; não há pontos cegos, garantindo a visão do campo para todos, incluindo os portadores de deficiência. O acesso às arquibancadas superiores é pelas rampas inclinadas a 5%. As cadeiras são multicoloridas, resistentes e confortáveis:
Mais: o acesso dos torcedores visitantes ao estádio será por uma passarela direta para evitar contato com a torcida da casa. Excelente ideia é o setor sem cadeiras atrás de um dos gols: comporta 2800 torcedores para reviver a incrível Geral do Mineirão — esta, inspirada na Muralha Amarela do Westfalenstadium de Dortmund, Alemanha, onde os torcedores, também em pé, pressionam o time contrário.
O gramado é da espécie bermudas, Cynodon dactylon, indicada para climas quentes. Um moderno sistema de drenagem e irrigação automática lhe garante a saúde.
O isolamento acústico — cobertura da arena — mantém o máximo do barulho dentro do estádio, produzindo o efeito caldeirão: o som bate e volta, ensurdecedor e contagiante. Praticamente todas as 4800 cadeiras cativas já foram vendidas; os camarotes já se esgotaram. Notável a construção de uma rua em cada lateral do campo, com 7m de largura, onde os ônibus dos jogadores e carretas de até 24m entram e saem de frente. Neste sistema, o palco para eventos pode ser montado e desmontado em 24h; grande avanço, pois no Mineirão pode levar até 7 dias.
A Arena é também espaço de convivência e projetos sociais para a comunidade, além de realização de eventos. Importantíssimo é o compromisso da Arena com a revitalização da vizinha Mata dos Morcegos para o uso comunitário.
Novos troféus, novas conquistas hão de contribuir para o esporte transformar o mundo…
2023
A vida traz alertas
aponta rota de fuga
saída de emergência
Fingimos não sentir
os desacertos
a desatenção
o desamor
Fazemos camuflagem
até à beira do abismo
do incontornável
Para os atentos e saudáveis
logo ali o sinal singular
plantado na praia:
Copyright©2022 Maria Brockerhoff
Fim de Linha
a gente quer segurar o passado
a surpresa da sintonia
os volteados da dança
as corridas na areia
os olhares sem palavras
os encontros completos
engano puro
o passado é lacrado
o afeto ficou
distante
vencido
hoje a conversa é caricatura
as lembranças distorcidas
machucam o presente
hoje temos nada
inútil buscar os laços
lá longe
deixemos assim
as lembranças permanecem.
Agora entre nós somos ninguém…
Copyright©2022 Maria Brockerhoff
A Lição do Pequi
O pequi tem cabeça dura
— faca martelo pedrada —
nada o fura
naquele momento amadurece
se abre fácil
em estrela de cinco pontas e
oferece o fruto dourado
perfuma o cerrado
Spa Edy Mafra, Lagoa Santa – Copyright©2021 Rainer Brockerhoff
Tem gente também assim
com o tempo
— salgadas as feridas
temperados os desencontros —
desabrocha bem sortida
armada para a lida…
Spa Edy Mafra, Lagoa Santa – Copyright©2021 Rainer Brockerhoff
Prado — Bahia
Pé na estrada é a opção para evitar aeroportos, mas as rodovias por estas bandas desanimam. A malha rodoviária brasileira, em geral, há anos clama aos céus.
De Belo Horizonte a Prado, sul da Bahia, são aproximadamente 780km: 12 horas; alternativa de pernoite em Teófilo Otoni. As rochas escarpadas na região de Nanuque formam esculturas espetaculares.
Prado, às margens do rio Jucuruçu, aldeia indígena antes de 1755, cerca de 28 mil habitantes, é muito agradável, principalmente pelos cumprimentos dos amáveis pradenses e poucos turistas nesta época.
Aqui é o ponto de partida para as praias de Tororão, Paixão, Cumuruxatiba, Barra do Cahy e mais uma fileira a perder de vista.
Estivemos no Tororão, a 12km da cidade, a praia das falésias, muito boa para longas caminhadas:
A Pousada Novo Prado, a meio quarteirão da praia, tem uma equipe atenciosa e boas acomodações. Daniel Craide, o gerente-proprietário, cultiva variadas hortaliças do outro lado da rua. É um projeto inteligente e útil, um bom exemplo.
As barracas ocuparam parte da praia do Centro, próxima à pousada; o mar tem avançado aproximando-se da orla. Há registros, em alguns pontos, de erosão e avanço do mar em ±50 metros.
O enigma deste mar infinito é renovador…
A nota dissonante da viagem foi o corte de duas fortes e saudáveis árvores na praia do Centro. Vimos outros cortes na avenida próxima. Lamentável o despreparo dos órgão municipais na preservação destes preciosos seres vivos. Tais danos irreparáveis causaram perplexidade e tristeza a outros hóspedes e moradores. A cidade está com dezenas de visitantes: os urubus! Eficientes faxineiros sinalizam a má qualidade da limpeza ambiental.
A elegante igreja de N.S. da Purificação foi instalada por alvará em 1795. O término da obra levou quase 100 anos.
O alerta na tabuleta da praia — atribuído a Frida Kahlo — nos leva mais fundo:
Donde no puedas amar, no te demores…
Páscoa — a Ilha
De Santiago do Chile fomos a Valparaíso — por uma carretera ao pé da majestosa Cordilheira dos Andes — um dos portos mais importantes do Pacífico Sul. Perambulamos pelas ruas largas e limpas da cidade bem antiga; foi destruída por um terremoto em 1906, apenas o edíficio da Alfândega sobrou. Esta praça é o resultado da pitoresca mistura de estilos.
Preciosas descobertas de artistas desconhecidos:
Embarque no MS Columbus. Depois de algumas horas uma imensidão azul… um círculo infinito… apenas o navio nesta bola ondulante. A viagem se transforma em um exercício para experimentar, tão só, o presente.
Rapa Nui — em língua nativa — o reino dos Moais gigantes e misteriosos, à vista:
Um holandês, em 1722, espalhou para o mundo ocidental a notícia desta ilha misteriosa. São preocupantes as causas, ainda que controversas, do colapso ecológico na ilha. Uma das teorias é a exploração exacerbada dos próprios recursos. Um poderoso alerta para nós, do lado de cá, do prejuízo irreparável da queima das florestas e poluição das águas.
Moai-vigia vê tudo na ilha, como nos contou um gentil pascoense.
Em determinada época na lua cheia o Moai-vigia se ilumina integralmente — é o início da semeadura. Toda a ilha se involve. É consolador constatar a força destes costumes ancestrais.
Esta é a terra encantanda dos espantos e dos sustos…
Do porto fomos a pé ao vilarejo — lembra Trancoso — e contamos com a amabilidade de uma carona, além de informações, pela professora que jamais saiu daqui: na sua infância, não havia água corrente nem luz nem dinheiro! Tudo era troca. Um paraíso?
Pedimos e essa professora nos ensinou a falar Iorana / obrigado. Aliás, é a palavra essencial em qualquer terra estrangeira.
O cemitério…
Os muros todos são de pedras empilhadas, ao estilo celta. O artesanato é bem rico. Cultivam abacaxis, goiabas, abacates e hortaliças. Os professores têm uma queixa justificada: os jovens estão resistindo ao aprendizado da língua Rapa Nui. É uma inestimável perda cultural. Há 4 colégios, um para cada nível escolar; lá é servido almoço. A segurança e tranquilidade são inerentes à ilha.
Reviver boas lembranças é um bálsamo. Esta páscoa há de ser a passagem para a alforria…