
Vem flor vem hera
apesar de parente
é primavera
Copyright©2025 Maria Brockerhoff
O processo dos lapsos de linguagem é interessantíssimo. Para quem os comete, o melhor é dar uma risadinha… explicar, justificar, apenas complica e constrange, pois são, indiscutivelmente, reveladores; para quem os recebe pode ser uma boa fonte de descobertas.
O livro “Psicopatologia da Vida Cotidiana” (ed. 2023 Editora Autêntica) é delicioso!
Freud narra os próprios lapsos, os de outros psicanalistas e os de clientes, além de apresentar, claro, os valiosos e lúcidos fundamentos psicanalíticos.
Ficamos aqui com a parte lúdica de alguns lapsos de linguagem, leitura e escrita:
Continua na próxima…
O mestre da psicanálise resume os lapsos de forma magnífica: “o inconsciente nunca mente.”
Fomos ao Texas e, descuidados, não consultamos o poderoso Sr. Clima; de costa a costa, com raras exceções, as temperaturas beiravam 104°F (40°C). Foi a primeira vez que estivemos lá no verão… e fizemos meia volta para fugir do calor escaldante.
Não comunicamos nossa volta a ninguém; assim tínhamos mais dias de férias, fomos para um hotel e experienciamos certo exílio: sim, pois sabíamos que o celular não tocaria, não haveria visitas — um dos bons hábitos em Minas — nada de almoços coletivos, nem cafézinhos com prosa…
Descobrimos, aqui mesmo, lugares interessantes num bairro completamente desconhecido. Vimos o quanto a gente se apega à padaria, ao sacolão, à cabeleireira, à próxima esquina; como limitamos o círculo de convivência!
Deste nosso venturoso degredo pude avaliar a valentia de dois queridos amigos: M. e R. (abreviaturas invejando Freud). Ambos com faccia e coragem pediram as contas, juntaram um mínimo de tralha e foram-se… cada um, absolutamente, por sua conta e risco.
M. para Buenos Aires e R. para Paris. Estabeleceram-se nestas outras plagas, conquistaram amigos e boa colocação profissional (sem QI algum!). A certeza de ter as pessoas, o trabalho, a roda na pizzaria forma uma rede reconfortante deixada para trás.
Nas nossas andanças anônimas por aqui pude avaliar como a aventura dos meus amigos pode parecer meramente romântica, contudo os desafios da cidade grande e da língua estranha exigem boa dose de autosuficiência, determinação.
Este ir e vir solitário, incluindo todas as atividades e decisões, não é pra qualquer mortal. Certamente é uma bela aventura e pode ser um meio — talvez o único -— de nos virar pelo avesso e de nos fazer sair de um mundinho morno e, muitas vezes, medíocre.
Amigos M. e R., posso concluir que o impulso para uma corajosa virada só pode ser
…ou uma lança atravessada no peito ou uma esperança desvairada…
No sul da Itália — calcanhar da bota — a intrigante cidadinha de Alberobello com as torres de pedra. Trulli, plural de trullo, vem do grego, significa cúpula.
Antigamente, essas engenhosas construções de pedras calcárias, empilhadas sem argamassa, abrigavam os camponeses durante a colheita de azeitonas. Com destreza, os trulli eram desmanchados e reconstruídos rapidamente. Assim, os coletores de impostos do rei de Napoli eram enganados: deparavam com montes de pedras sobre as quais não incidia cobrança. Às costas dos fiscais os trulli eram reerguidos.
A região de Alberobello, a 55km de Bari, é solo fértil para a plantação de oliveiras muito elegantes… …e idade de Matusalém.
As oliveiras — a planta macho — são em número bem menor; então, planta-se uma oliveira macho e em volta uma dezena de oliveiras fêmeas para facilitar a polinização.
A habitação em trulli remonta a mil anos. O formato em cone é apropriado para a coleta de água de chuva em cisternas. O interior se mantém fresco e agradável. O centro antigo é recortado por escadarias, ruelas e lojinhas.
Excelentes hotéis e restaurantes modernos em estilo trulli:
Diante destes imponderáveis trulli fica patente o poder criativo dessa gente campesina em transformar inóspitas pedras em abrigo. Alberobello é mais uma grata surpresa por estas antiquíssimas bandas italianas.
..é um ato de profunda generosidade! A UFMG, há 26 anos, oferece a oportunidade para cada um de nós contribuir para a ciência e transformar a morte em algo útil e, ao mesmo tempo, simplificador. Isto mesmo!
Uma montanha de burocracia, como cartório, transporte, planos funerários, jazigo/cremação (atualmente um excelente e lucrativo negócio) se dissolve. Os custos decorrentes do falecimento ficam sob a responsabilidade da Faculdade de Medicina da UFMG com equipe alerta e bem-organizada.
Importante conhecer o VidaApósAVida. Há muitos preconceitos, enganos e desinformação sobre a doação de corpo. Novas perspectivas se apresentam àquele com disposição para ouvir, para tirar a venda dos olhos.
É até compreensível a ideia tradicional e, às vezes, até distorcida sobre sepultamento e/ou cremação. Contudo a doação de corpo, na realidade, é muito mais respeitosa quando assistimos, consternados, aos animados bate-papos em alguns velórios. Sem falar na maquiagem dos mortos; claro, uma moda importada dos americanos.
A doação de corpo traz a possibilidade magnífica para o ensino da anatomia médica, para pesquisas e para os treinamentos anatômicos e médico-cirúrgicos desenvolvidos na Faculdade de Medicina da UFMG..
Basta marcar uma entrevista pelo telefone (31)3409-9739.
É comovente e verdadeira a lápide no Cemitério da Saudade dedicada aos doadores.
É muito mais sensata e sensível a doação, pois é um desperdício descartar um corpo “que a terra há de comer”.
Ainda há outro bônus, saímos da entrevista de doação com a funda compreensão desta vida:
“o presente é um presente” — Saramago
…haicai de mineiro, uai!
agressão a gays…
pura inveja no peito
rapaz, que despeito!
Copyright©2025 Maria Brockerhoff
…hoje percorremos a diversidade das passagens por este mundão sem fim!
• Mar Vermelho: um golfo do Oceano Índico entre a África e a Ásia. À esquerda, o Golfo e Canal de Suez; a peninsula do Sinai ao centro, Egito; à direita, o Golfo de Aqaba.
O significado da Páscoa / Passagem é bem marcante para os hebreus perseguidos pelos egípcios diante da barreira intransponível do Mar Vermelho. O mar se abriu em uma passagem segura e se fechou sobre o exército egípcio. Há muitos e variados estudos sobre essa passagem. O nome em hebraico, Yam Suph significa “pântano de juncos”; assim, a hipótese é a de que as bigas egípcias se atolaram no pântano.
• Antártida, Passagem Drake:
A sala de entrada da Antártida; Pacífico e Atlântico se fundem sob ventos fortes e manto de gelo.
• Bahia, Península de Maraú:
Na Lagoa do Cassange, a trilha do fim do túnel…
• Sérvia, Portão de Ferro:
As pontes, passagens acolhedoras, são imprescindíveis nesta vida!
• Irlanda do Norte, a Carrick-a-Rede Rope Bridge:
Esta ponte de cordas une dois penhascos de 30m de altura. É usada pelos pescadores de salmão. …silêncio profundo só cortado pelos ventos…
• Bhutan, emblemáticos os portões de entrada ao reino da felicidade:
Para os indianos, o portão de entrada é a passagem para a terra prometida como os Estados Unidos o são para os mexicanos. A imigração é severamente restrita.
• Egito, Canal de Suez; liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo:
Este é um Mar feito à mão. Aqui, a ficção imita a vida.
Nesta viagem, a travessia, desfiladeiros, desvios, gargantas, estreitos, meandros são muitos… e significativas passagens… levam-nos a encontros, separação, alívio, fuga, plenitude, libertação…
Copyright©2020 Maria Brockerhoff
De mansinho
abril
o amor surgiu…
ninguém viu?
Copyright©2025 Maria Brockerhoff
Assim como as páginas
de um livro
o tempo nos aguarda
cheio de mistérios
As páginas do tempo disponíveis
para os desejos
à espera de impulsos da vontade
da ousadia de transformar
da capacidade de ultrapassar
Estas páginas
assim como todos os dias
serão preenchidos com
seiva suor lágrimas
Cada um de nós usará
a tinta das veias
para colorir umas e outros