Páscoa — Passagem

…hoje percorremos a diversidade das passagens por este mundão sem fim!

• Mar Vermelho: um golfo do Oceano Índico entre a África e a Ásia. À esquerda, o Golfo e Canal de Suez; a peninsula do Sinai ao centro, Egito; à direita, o Golfo de Aqaba.

Sinai Peninsula, ©1991 NASA Johnson — Creative Commons

O significado da Páscoa / Passagem é bem marcante para os hebreus perseguidos pelos egípcios diante da barreira intransponível do Mar Vermelho. O mar se abriu em uma passagem segura e se fechou sobre o exército egípcio. Há muitos e variados estudos sobre essa passagem. O nome em hebraico, Yam Suph significa “pântano de juncos”; assim, a hipótese é a de que as bigas egípcias se atolaram no pântano.

• Antártida, Passagem Drake:

Cabo Hornos, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

A sala de entrada da Antártida; Pacífico e Atlântico se fundem sob ventos fortes e manto de gelo.

• Bahia, Península de Maraú:

Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Na Lagoa do Cassange, a trilha do fim do túnel…

• Sérvia, Portão de Ferro:

Portão de Ferro, Danúbio – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

As pontes, passagens acolhedoras, são imprescindíveis nesta vida!

• Irlanda do Norte, a Carrick-a-Rede Rope Bridge:

Irlanda do Norte – Copyright©2013 Rainer Brockerhoff

Esta ponte de cordas une dois penhascos de 30m de altura. É usada pelos pescadores de salmão. …silêncio profundo só cortado pelos ventos…

• Bhutan, emblemáticos os portões de entrada ao reino da felicidade:

Bhutan – Copyright©2014 Rainer Brockerhoff

Para os indianos, o portão de entrada é a passagem para a terra prometida como os Estados Unidos o são para os mexicanos. A imigração é severamente restrita.

• Egito, Canal de Suez; liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo:

Canal de Suez – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Este é um Mar feito à mão. Aqui, a ficção imita a vida.

Nesta viagem, a travessia, desfiladeiros, desvios, gargantas, estreitos, meandros são muitos… e significativas passagens… levam-nos a encontros, separação, alívio, fuga, plenitude, libertação…

Copyright©2020 Maria Brockerhoff

Páscoa — a Ilha

De Santiago do Chile fomos a Valparaíso — por uma carretera ao pé da majestosa Cordilheira dos Andes — um dos portos mais importantes do Pacífico Sul. Perambulamos pelas ruas largas e limpas da cidade bem antiga; foi destruída por um terremoto em 1906, apenas o edíficio da Alfândega sobrou. Esta praça é o resultado da pitoresca mistura de estilos.

Plaza Bernardo O’Higgins, Valparaíso – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Preciosas descobertas de artistas desconhecidos:

Casablanca, Chile – Copyright©2011 Rainer Brockerhoff

Embarque no MS Columbus. Depois de algumas horas uma imensidão azul… um círculo infinito… apenas o navio nesta bola ondulante. A viagem se transforma em um exercício para experimentar, tão só, o presente.

Pacífico Sul – Copyright©2011 Rainer Brockerhoff

Rapa Nui — em língua nativa — o reino dos Moais gigantes e misteriosos, à vista:

Isla de Pascua – Copyright©2011 Rainer Brockerhoff

Um holandês, em 1722, espalhou para o mundo ocidental a notícia desta ilha misteriosa. São preocupantes as causas, ainda que controversas, do colapso ecológico na ilha. Uma das teorias é a exploração exacerbada dos próprios recursos. Um poderoso alerta para nós, do lado de cá, do prejuízo irreparável da queima das florestas e poluição das águas.

Moai-vigia vê tudo na ilha, como nos contou um gentil pascoense.

Isla de Pascua – Copyright©2011 Rainer Brockerhoff

Em determinada época na lua cheia o Moai-vigia se ilumina integralmente — é o início da semeadura. Toda a ilha se involve. É consolador constatar a força destes costumes ancestrais.

Esta é a terra encantanda dos espantos e dos sustos…

Isla de Pascua – Copyright©2011 Rainer Brockerhoff
Isla de Pascua – Copyright©2011 Rainer Brockerhoff
Isla de Pascua – Copyright©2011 Rainer Brockerhoff

Do porto fomos a pé ao vilarejo — lembra Trancoso — e contamos com a amabilidade de uma carona, além de informações, pela professora que jamais saiu daqui: na sua infância, não havia água corrente nem luz nem dinheiro! Tudo era troca. Um paraíso?
Pedimos e essa professora nos ensinou a falar Iorana / obrigado. Aliás, é a palavra essencial em qualquer terra estrangeira.

O cemitério…

Isla de Pascua – Copyright©2011 Rainer Brockerhoff

Os muros todos são de pedras empilhadas, ao estilo celta. O artesanato é bem rico. Cultivam abacaxis, goiabas, abacates e hortaliças. Os professores têm uma queixa justificada: os jovens estão resistindo ao aprendizado da língua Rapa Nui. É uma inestimável perda cultural. Há 4 colégios, um para cada nível escolar; lá é servido almoço. A segurança e tranquilidade são inerentes à ilha.

Reviver boas lembranças é um bálsamo. Esta páscoa há de ser a passagem para a alforria…

Cabo Hornos — Cape Horn

De Ushuaia navegamos, por vinte e quatro horas, numa imensidão de águas revoltas do Cabo Hornos e Paso Drake. As portas do silencioso Continente Antártico são o prêmio compensador.

Cabo Hornos, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Contornamos o Cabo Hornos/Cape Horn na ilha do mesmo nome. O único lugarejo é Puerto Williams com 1600 habitantes. Em formato de meia-lua a ilha é coberta, em sua maior parte, por líquens, musgos; daí o nome bosques em miniatura e a observação deste rico microcosmos ser com lupa. O Parque Nacional Hornos é um lugar privilegiado na Reserva Mundial de la Biosfera.

Copyright©2011 University of North Texas Press

Aqui é abundante o arbusto Canelo ou Casca de Anta, cujas sementes atraem as aves austrais. Estas sementes devem ser saborosas, pois bandos de aves tropicais — fio-fio, Elaena Albiceps — viajam mais de 3500 km até Hornos para nidificar e encher o papo de Canelo.

Fio-fio – Copyright©2010 Flavio Camus

As correntes fortes no Hornos, os açoites de vento, as ondas altíssimas justificam-lhe o apelido de Cementerio Marítimo. Contam-se 800 naves desaparecidas com tripulação de, pelo menos, 10 mil marinheiros! Pelas condições de chuva, neve, granizo também chamam-no Cabo de las Tempestades e Cabo Donde se Acaba el Mundo. Em determinados momentos, deu para avaliar, minimamente, a força destas águas: o vento de 90 km/h nos impediu de abrir a porta da cabine para a varanda!

Cabo Hornos – Copyright©2014-2016 Sidetracked Travel Blog

Por essas e outras, escolhemos o grande navio MS Zaandam da Holland-America. É confortável, oferece concertos de piano e violino, música dançante, cassino, piscina, academia, pista de cooper, jogos de xadrez, bridge, além de fina gastronomia. A convidativa biblioteca tem mesas para quebra-cabeças coletivos que se tornaram um ponto de encontro nos finais de tarde. O lounge tem uma privilegiada vista panorâmica.

Lounge, MS Zaandam – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Tais navios são equipados com estabilizadores e, assim, pode-se minimizar a temida “gangorra” destas águas. Nos navios menores as histórias de seasickness/enjôos desta travessia não são animadoras. Numa viagem transoceânica, de Valparaíso à Austrália, a médica do navio, com bom humor, nos resumiu dois momentos deste incómodo:

inicialmente o passageiro pensa que vai morrer; depois, o pior: ele sabe que não vai morrer!

Com a abertura do Canal do Panamá em 1914, a navegação é praticamente de entretenimento e desportiva; são desafiadoras as competições entre solitários e experientes navegadores que se lançam numa tentativa de circumnavegar o globo terrestre. Para os aficcionados, contornar este cabo, onde Atlântico e Pacífico se encontram, equivale a atingir o cume do Everest.

Curiosa a aventura de um casal inglês em 1956; numa tentativa de contornar o Hornos do Pacífico para o Atlântico, o veleiro Tzu Hang naufragou. Não desistiram; no ano seguinte, lá vão eles! Novo naufrágio… mais uma vez, salvos miraculosamente. É… o Hornos não os quis lá!

Entre Patagônia e Terra do Fogo

Punta Arenas, com 110 mil habitantes, está na esquina do mundo e, por isto, fustigada por ventos constantes, como bem demonstram estes bravos Lupinus.

Punta Arenas, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Situada no Estreito de Magalhães, a vila foi fundada em 1848. A gente daqui se considera mais magallanicos do que chilenos.

Punta Arenas, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Têm razão em orgulhar-se de Hernando de Magallanes, o trágico herói realizador da primeira circumnavegação da Terra. Dom Manuel, o pretensioso rei português, não reconheceu os excelentes serviços prestados anteriormente por Magalhães, nem lhe deu crédito quando apresentou o projeto da volta ao mundo pelo oeste. A humilhante rejeição levou Fernão de Magalhães à renúncia da cidadania portuguesa, à troca de nome e ao oferecimento dos serviços ao rei de Espanha, Carlos I, mais tarde coroado Carlos V, imperador alemão.

O intrépido navegante ao realizar “a maior proeza da história da exploração da Terra, a odisséia mais esplêndida na história da humanidade” (Stefan Zweig in “Magellan”, 1938) passou por aqui em 1520.

Estrecho de Magallanes, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Em 1519 Magallanes lançou ao mar, em Sevilha, a frota de cinco navios. Após indizíveis sofrimentos, angústias, motins, a passagem do oeste para leste estava aberta e confirmada a inaceitável e absurda tese, desde Ptolomeu, da redondeza da Terra.

Estrecho de Magallanes, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Até a abertura do Canal do Panamá em 1914, o Estreito era a rota principal entre o Atlântico e o Pacífico.
Com 570km de comprimento e apenas 2km de largura, o Estrecho de Magallanes é uma confusão de enseadas, complicados canais, baías, fiordes, os quais só se pode atravessar com muita sorte e máxima habilidade. As entradas são irregulares, bifurcam-se três ou quatro vezes à direita e à esquerda, sem contar os ventos adversos e redemoinhos repentinos.

Estrecho de Magallanes, Chile — Naufrágio 1968 – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

O cemitério de Punta Arenas cheio de ciprestes, curiosos mausoléus e os mais belos canteiros das sepulturas bem simples.

Cemitério, Punta Arenas, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

A zona franca de Punta atrai muita gente compradeira. Daqui pode-se fazer os passeios pelas baías e canais azulados do Estreito de Magalhães, pelas reservas de pinguins, pelas haciendas típicas e alcançar as maravilhas de Torres del Paine.

Em Magdalena — a ilha com 120 mil pinguins e uma colônia de leões-marinhos — não há árvores, nem mesmo arbustos. Apenas tufos de grama. Os pinguins de rabo duro são encantadores, apesar do cheiro forte. São dóceis; apenas uns poucos se assustam com o movimento das pessoas. Fazem os ninhos como tatus; vimos alguns ninhos pisados por descuido de um ou outro turista, uma pena!

Isla Magdalena, Chile – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

Do farol se tem acesso, por uma escada estreita em caracol, a uma vista espetacular em 360 graus.

Isla Magdalena, Chile – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

A beleza silenciosa da costa chilena é envolvente e especial para nosotros dos trópicos. A cada vez, esta natureza solitária e altiva nos mostra quão pequenos somos!

Rumo à Antártida

Voamos para Santiago do Chile e, por caminhos bem agradáveis, chegamos em Valparaíso, o ponto de partida de navegação de mais de 4000km até ao continente branco. A Cordilheira dos Andes nos recebe, assim, em Santiago.

Andes, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Valparaíso — porto muito antigo — tem uma curiosa aura de decadência; é uma volta a um tempo distante.

Valparaíso, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Puerto Montt, colônia de alemães desde 1863, era considerado o fim de linha para qualquer viajante. Hoje é um importante centro pesqueiro; a região é cheia de lagos, rios e cascatas glaciares sob a imponência do vulcão Osorno. Perto daqui, as cidadinhas Frutillar e Puerto Varas cheias de rosas.

Petrohué, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

O Arquipélago Chiloé foi o maior centro de pesca de baleias no séc.XIX. No porto de Castro, fundado em 1567, uma belíssima igreja totalmente de madeira. No arquipélago catequizado pelos missionários espanhóis há mais de 150 igrejas católicas construídas pelos indígenas.

Castro, Chile – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Puerto Chacabuco é o porto principal da Patagônia chilena; uma das poucas vilas nestes belíssimos fiordes. Aqui, a gente pode sentir o valor inestimável de florestas e vales silenciosos, onde o homem não conseguiu ainda devastar.

Fiordes Chilenos – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

A partir daqui, Canal Darwin, o mundo já começa a se transformar em glaciares, em esculturas de rochas vulcânicas rodeadas de espertos pássaros pescadores.

Fiordes Chilenos – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Glaciar El Brujo – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

A nossa próxima parada será Punta Arenas. Até lá navegamos nesta região austral por inúmeros canais —incluindo o estreito de Magalhães — e passagens impressionantes; aqui, o Paso Shoal.

Paso Shoal – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Neve aliii pertinho…

…é aquele peeerto de mineiro! Mas, comparando as distâncias e a beleza intrigante das geleiras do sul das Américas, pode-se dizer: é um pulo até El Calafate, na Patagônia Argentina.

A conexão é em “Mi Buenos Aires querido”, assim é porque temos lá duas amigas muito queridas — uma porteña, a outra desejando sê-lo — que valem a visita.

Calafate é uma fruta regional da qual se fazem geléias e sorvetes; El Calafate é enfeitada por inacreditáveis roseiras de todas as cores e tamanhos.

Da cidadinha, às margens do monumental Lago Argentino saem passeios para os glaciares de Perito (“expert”) Moreno Sul, glaciares Uppsala, Seco, Spegazzini, e Perito Moreno Norte. A estrutura turística é ótima, os parques bem cuidados e limpos. Os icebergs em cristal azul, o paredão imponente de gelo são magníficos. Diante daquela imensidão coberta de gelo apertada entre montanhas majestosas, o coração dispara e tudo fica suspenso numa bolha mágica.

A única restrição nestes lugares especiais são os turistas!! Para muita gente, o objetivo é tirar muitas fotos em variadas poses e descrever ao celular, em altos brados, as trivialidades do momento. 🙁

De El Calafate, a 300km, através de uma boa e infinita estrada, chega-se a Torres del Paine, no Chile. A grande atração deste lugar é o círculo do Maciço Del Paine, cujos picos cobertos de neve trazem uma quietude que nos faz desejar permanecer aí e um silêncio cheio de estrelas que nos alerta para a insensatez de viver no caos ruidoso das cidades. Torres del Paine é um parque com um único, bonito e confortável hotel. Um lugar belíssimo com lagos de todas as cores, escaladas de todos os níveis, o belo Salto Grande de águas esverdeadas, passeios a cavalo e longas caminhadas.

Estas caminhadas apresentam desde baixa até altíssima intensidade. A subida para as Torres de granito é bem íngreme; fomos até a uma altura de 409m (metade do caminho), curtimos lá de cima o Rio del Paine e demos meia-volta, bem contentes! 🙂

A vista do Lago Grey, através do bosque, com enorme faixa de areias escuras e icebergs esculturais, é estonteante; nos primeiros instantes, a sensação é de uma miragem fascinante e envolvente…

Esta viagem, muito bem organizada pela PISA Trekking, pareceu-nos uma bela mostra da Antártida. Ao mesmo tempo nos saciou e aguçou o desejo de conhecer os gelos eternos antárticos!

Atacama e Salar de Uyuni

Os desertos são caprichosos e cheios de mistérios. O Saara, na Líbia/Tunísia, o Vale da Morte no Mojave (Califórnia) e, agora, o Atacama são majestosos e impressionantes. Os desertos de sal de Uyuni e o Chott el Djerid (também na Tunísia) nos deixam sem palavras diante daquela imensidão luminosa.

A cidadinha de San Pedro de Atacama, construções do Séc.XVI, conseguiu manter suas construções baixas em adobe e pedras avermelhadas do deserto com as ruas cobertas de areia e cheias de sotaques de todas as partes. A igreja tem um teto de cactus e é coberta com um tipo lustroso de sapé.

Cheia de simbolismo, a bandeira de quadradinhos coloridos representa os povos indígenas do Chile, Peru e Bolívia.

Em San Pedro de Atacama o “tour astronômico do francês” é a atração noturna. Lá estão todas as estrelas escondidas nas cidades grandes. O cara é bem didático, bem-humorado e tem dez telescópios de boa qualidade. No sítio, com luzes na penumbra, as estrelas, favorecidas pela altitude e pelo ar limpo e seco, são escandalosas em luminosidade! Ao final, na sala acolhedora, um chocolate quente deixa o frio lá fora. O ônibus (transporte incluso) deixa cada um no seu hotel, não é um luxo?

A viagem de ida e volta — San Pedro/Uyuni — é uma maratona de aventura em 4×4, entre montanhas coloridas, areias de veludo, lagunas esmeralda, vermelha, cristalizada e gostosas termas a 38°C. Em contínua vigilância, os vulcões em 360 graus com os picos nevados; um deles expelindo fumarola traz excitação e, incrivelmente, relaxamento.

O sol brilha forte durante o dia, resfriando à tardinha com o vento constante. No deserto, o esquema é “de cebola”: tira e põe camadas de agasalhos, camisetas, chapéus, luvas, etc. etc..

Os hotéis são bons para os níveis da Bolívia. Estavam enfrentando racionamento de gás. Servem café solúvel (importado do Brasil!) ao invés de fresco/feito na hora, biscoitos/bolachas do tipo água e sal, parece o continental dos americanos. A comida é boa, há sempre a cheirosa e escaldante sopa; os atendentes são atenciosos e amáveis. No Chile, o desayuno já é bem mais farto e variado.

Há quatro “refúgios”, hotéis administrados pelos pueblos indígenas; ficamos no Tayka del Desierto, que já tem aquecimento solar. Contudo, há de se levar em conta as diferenças entre o nosso “paístropical” e a altitude de 4600m. Por exemplo, a recepcionista, quando lhe perguntaram naquela noite de 4°C, se costumavam acender a lareira, respondeu prontamente:

— Acendemos, sim. No frio!!

O hotel de sal é muito interessante, com o piso em sal crocante, esculturas, lareira, tudo salgado! Para brasileiros, para quem a água congela a 15°C (este é o chiste que rola por lá), o pernoite… bem, o pernoite já é outro desafio, vencido com os fartos cobertores, incluindo o de orelha. 😉

Nossa agência, Andarilho da Luz, escolheu um roteiro criterioso, com os “highlights” da região, brindando-nos, ainda, ao final da tarde com um delicioso Carménère e guloseimas.

Atacama e Uyuni são lugares fortes, a natureza desafiadora, merecendo um olhar cuidadoso, momentos de reflexão e gratificante silêncio.

 

Atacama e Salar de Uyuni #2

Complementando o artigo anterior, algumas idéias práticas:

  • Santiago do Chile — se possível, ir um dia antes do início da excursão para curtir a cidade. O Hotel Holiday Inn fica no aeroporto. Basta atravessar a rua e cair no saguão do confortável hotel. É bem prático para o vôo do dia seguinte;
  • Calama — chega-se ao aeroporto em aproximadamente 2 horas a partir de Santiago. A rodovia para San Pedro de Atacama é ótima. Os 100Km, numa imensidão de deserto colorido, passam rapidamente;
  • San Pedro de Atacama — pode-se ir a pé por toda a cidadinha, inclusive ao Pueblo de Artesanatos. Aliás, pode-se andar à noite com toda segurança e tranquilidade. O hotel La Casa de Don Tomás é confortável, bons serviços, bem localizado: está a um pulo da igreja, do museu, das lojas, dos restaurantes.
    Cada lugar no deserto de Atacama é especial e diferente; inspira calma e atrai o silêncio, a melhor maneira de aproveitar tudo. Turista é igual “maritaca”… 😉
  • Laguna Sejar — leve maiô/sunga ou já vá preparada/o para flutuar naquelas águas. É uma sensação boa demais! Leve de casa uma toalha de banho, será muito útil;
  • Ojos de Tebinquinche — inesquecíveis. Sente-se à margem e contemple-os. Para os fotógrafos, o por-do-sol na Laguna de Tebinquinche é um delírio;
  • Geisers del Tatio — é de madrugada, mesmo! A temperatura abaixo de zero faz o vapor condensar, é a atração. É uma ótima experiência entrar nas águas quentes com tudo gelado ao redor. Aproveite as termas, pelamordedeus!
  • Bolívia — sabe aquele lugar para ir “antes de morrer” (obviamente, né!)? É aqui no Salar de Uyuni. A viagem de San Pedro de Atacama até Uyuni leva 9 horas. Calma, calma! Há paradas: a cordilheira dos Andes é espetacular, com lagunas, vulcões, figuras de pedra, geisers; o majestoso Licancabur é visto de todos os lados.
    No almoço em Refugio del Polques há um poço/reservatório de águas termais. A caída na água é indispensável. O pessoal se troca ali mesmo com “cortininhas” de toalha.
    Com bom condicionamento físico, saúde e disposição é uma aventura percorrer os caminhos de terra e areia na Bolívia. Leve muitas moedas, pois o uso dos banheiros sempre é pago (baratinho!) e lá, a gorjeta faz diferença e um enorme sorriso;
  • Uyuni — no café da manhã, muita gente se queixou de não ter conseguido dormir, devido ao frio intenso. Os pobrezinhos não souberam ligar a manta elétrica ou, sem perceber, chutaram o plug no pé da cama. Com o quentinho desta manta, dorme-se o sono dos aventureiros!
  • Hotel de Sal — é inusitado. Apesar de os tijolos de sal não permitirem muito conforto, é uma experiência única. A comida é muito boa. De maio a setembro o inverno é bem rigoroso! Bem melhor de outubro a abril…

Ficamos por aqui para não roubar as surpresas desses e de todos os outros lugares. Bom mesmo é a certeza de toda a expectativa ser regiamente recompensada…