Islândia — Reykjavík

A Islândia até a II Guerra Mundial era um dos países mais pobres do ocidente. Hoje ocupa o topo do mundo em renda e o maior número de livrarias — ah, invejável! — per capita. Aqui o centro antigo de Reykjavík.

Reykjavík, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Para tal desenvolvimento, foram adotadas medidas simples e inteligentes. Aliás, estes adjetivos estão sempre juntos em bons resultados:

  • Trabalho em conjunto exportando largamente peixes e frutos do mar, matéria prima farta e de boa qualidade;
  • Investimento em turismo; cada cidadinha procurou valorizar os seus pontos interessantes;
  • Incentivos ao pessoal para morar na terra natal, ao invés de migrar para a cidade grande. Uma motivação para estas pessoas se tornarem guias e/ou hospedarem os visitantes;
  • Aproveitamento eficiente da energia hidroelétrica e geotérmica, fornecendo água a mais de 200°C e eletricidade grátis ou de custo mínimo para moradores e indústrias; destacam-se multinacionais de alumínio, com minério importado, inclusive do Brasil.
Reykjavík, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Nesta catedral, com o tocante formato de mãos postas, o organista, com todo o talento dos seus 80 anos, nos proporciona um momento mágico: a nave se enche com o som dos Beatles — Yesterday.

Reykjavík, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

A Islândia já atravessou fases duríssimas: restrições religiosas em 1550, epidemias, erupções vulcânicas devastadoras, fome dizimadora da população e animais de criação; tudo isso temperou o caráter islandês, tornando-o receptivo às causas humanitárias, à proteção do meio ambiente e cultivador das artes. Esta emblemática escultura rende filosofias e babados, não?

Reykjavík, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

O ensino é obrigatório, gratuito dos 6 aos 16 anos; a natação está na grade escolar. As escolas apresentam alto nível de excelência mundial em Linguagem e Matemática. É maciça a participação política, com mais de 80% de votantes nas últimas eleições.

Esta escultura no porto Hafnarfjörður é uma homenagem aos antepassados:

Hafnarfjörður, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

É proibida a concessão de privilégios de qualquer tipo aos governantes e servidores públicos. Não há forças armadas. Nem é preciso falar da segurança e da limpeza em todos os cantos.

Nesta ilha de gelo o contraste com as termas fumegantes

Bláa lónið, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

…é uma delícia palpável. A gente quer ficar… para sempre…

A despedida ao pôr do sol

Reykjavík, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Islândia — Akureyri

Com 17 mil habitantes, a antiga Akureyri é uma cidade grande. Há um estudo para limitar a avalanche de turistas — convenhamos, uma praga! — a esta ilha civilizada.

Akureyri, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Os islandeses têm razão, pois receberam quase 2 milhões de turistas em 2015 — seis vezes o número de habitantes! Outros países vêm adotando certas restrições ao turismo em massa. Quando estivemos no Bhutan, em 2015, a taxa de turismo era de 250 dólares por dia, per capita.

A paisagem lunar entrecortada:

• pelas tampas de mesa

Akureyri, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

• o parque Dimmiborgir, onde a erupção dos vulcões desenhou as mais bizarras e surpreendentes esculturas

• lama fervente nos poços fumegantes em Hverir, como no Chile

Hverir, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

• geisers fortíssimos cobertos de pedra e, mesmo assim, fumarola brava

Hverir, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

• fazendas de gado e cavalos de raça para exportação. Inclusive é proibida a importação para não interferir na excelente qualidade dos cavalos nativos.

Akureyri, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Em 1918 a Islândia proclamou a independência formal da Dinamarca. É uma nação conservadora com surpreendentes práticas modernas, avançadas e instituições democráticas inabaláveis há 1000 anos. A própria língua, de origem escandinava, sofreu poucas modificações ao longo dos séculos; praticamente sem dialetos tem alguma semelhança com o alemão: não é grande consolo!

Tendo passado por período de privação, o povo aprendeu a comer tudo: de aves, peixes, testículos de carneiro a tubarão apodrecido… sabiamente transformaram os ingredientes da terra em saborosos pratos exóticos. A carne de rena experimentamos e repetimos. Ah! São consumidos 3 milhões de litros de cerveja por ano.

A cultura é permeada de sagas heróicas transmitidas oralmente através das gerações. Aqui, a cachoeira Goðafoss, onde segundo a lenda, é a morada dos deuses.

Goðafoss, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Pela segunda vez o encantamento é ainda mais forte.

Goðafoss, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Islândia tem aproximadamente 355 mil habitantes. Pode se constatar a incompatibilidade de um amontoado de gente com um bom nível de vida…

Islândia — Seyðisfjörður

De Bremerhaven à Islândia são dois dias de navegação. Além da superfície azulada, os montes verdes deslizam gentilmente pela escotilha:

Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

A Islândia é aveludada! Montes com tampa de mesa devido à solidificação das lavas. Berços de neve em contraste com as rochas bem escuras. É uma fartura de azul.

Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Embarcamos no MS Albatros, um quarentão bem conservado, mobília nova e confortável. Tem três mesas de pingue-pongue — uma festa! — sauna, bons aparelhos de musculação, além daqueles mimos dos bons navios de cruzeiro. A piscina com ondas nos descansa das peripécias da chegada e prepara-nos para o agora!

Em nossa mesa, dois casais com idade entre 75 e 82 anos são valentes velejadores. Isto mesmo! Uma disposição incrível para singrar os mares; suas histórias prendiam-nos muito além da sobremesa. É relaxante aproveitar a ausência de rotina, as pessoas e ambientes diferentes, as novidades de cada porto. O primeiro, Seyðisfjörður:

Seyðisfjörður, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

É a cidade mais antiga da ilha, 750 habitantes. Nos arredores fundou-se uma cidadinha para funcionários de grandes empresas; é um tipo de Brasília dos burocratas, com a diferença da eficiência e excelentes resultados dos islandeses.

Fomos ao parque Hengifoss, 450m acima do nível do mar; a caminhada forte de 2km começa por esta escadinha. É impressionante a limpeza, não vimos um saquinho plástico ou pedaço de papel. Dá uma inveja…

Hengifoss, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Por todo lado, panelas enormes onde fachos de água revolta formam cachoeiras; fios de água cristalina despencam e correm apertados entre os corredores de pedra. A primeira queda d’água de 30m de uma torre de basalto compensa todo o esforço.

Hengifoss, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

A principal cachoeira Hengifoss, 118m de torrentes, em meio-círculo de camadas de rochas coloridas. Aqui, a gente experimenta sufocante e maravilhosa sensação: a tal de tirar o fôlego!

Hengifoss, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

O navio fornece farto almoço-piquenique saboreado numa mesa infinita entrecortada de lagoas, de pedras vulcânicas… e silêncio.

Hengifoss, Islândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Impressões de Viagem: Islândia

As Erínias também estão fascinadas com as erupções na ilha. É esta mistura de assombro e encantamento, que alimentou o sonho de infância de Alecto, que intrigada percorria os paises mais distantes e exóticos num velho e mágico Atlas…

Aquela pequena ilha perdida no oceano Atlântico, dependurada no círculo Polar Ártico, era a misteriosa terra do gelo, dos vulcões, das cascatas de água fervente brotando das fendas. Naquela época, a Islândia ficava, ainda, mais longe e inacessível para o dedo bem pequeno, que viajava naquelas páginas…

Como todo desejo costuma se realizar, as Erínias, numa clara manhã, temperatura média em julho de 2°C, aportaram em Akureyri para os revigorantes banhos em água sulfurosa, abertos desde o ano de 1300; são divisões das placas continentais que expelem águas sulfurosas a mais de 130°C; antes de chegar às piscinas naturais precisam ser resfriadas; a água azulada com a consistência cremosa de xampu provoca uma deliciosa sensação! Dos poços sulfurosos a vista das rochas vulcânicas multicoloridas naquela imensidão vazia…

As usinas geo-térmicas estão funcionando a todo vapor. 🙂 A água quente na Islândia é praticamente gratuita e distribuida à vontade; a energia elétrica tem duas fontes: termo-életrica(vapor) e hidro-életrica(represa), portanto é muito barata e não poluente. O ar é puro e, quase, não existe poluição. Que ironia agora!

Há um programa do governo, já bem adiantado, para substituir o diesel pelo hidrogênio; já funcionam ônibus movidos a hidrogênio.

A Islândia é a democracia mais antiga da Europa; eleições há mais de MIL anos; a penúltima presidenta ficou 16 anos (muitos políticos por aqui ficariam verdes de inveja),  escolhida em eleições livres sem manobras, manipulação ou outros tipos de pressão conhecidos nestas pl(r)agas sul-americanas; até bem pouco tempo não havia residência “oficial”; os presidentes continuavam a morar na própria residência.

O atual presidente foi reeleito e, possivelmente, irá para o terceiro mandato por única vontade popular! Há, sim, muitos partidos políticos, que se interessam pelo bem estar da população; alguns se limitam a um único município. É comum, na Islândia, um governo de coalização.

A capital Reykjavík é bem arborizada, apesar de as árvores crescerem mais vagarosamente por causa do vapor d’água sulfurosa. Em plena praça, há fontes que exalam vapor. A cidade é moderna mas conserva, com cuidado, a parte antiga do centro e algumas casas ainda são originais (1786). A antiga prisão é hoje o escritório do primeiro-ministro.

Os icebergs fazem parte da paisagem, são majestosos e inigualáveis recortando o horizonte.