Tudo estranho…
Sim, quantas vezes, por íntimo pudor,
Por orgulho talvez, amor próprio, vaidade,
Escondemos no riso a nossa dor.
……………………………………………………..
— Coisa estranha a felicidade!
— Estranha coisa, o amor!
Tudo estranho…
Sim, quantas vezes, por íntimo pudor,
Por orgulho talvez, amor próprio, vaidade,
Escondemos no riso a nossa dor.
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— Coisa estranha a felicidade!
— Estranha coisa, o amor!
O cerrado é uma caixa de surpresas. O formato da vegetação, as cores das folhas, flores e frutos, os recursos para o máximo aproveitamento do solo e absorção das águas provocam contínuo deslumbramento.
Algumas flores, em caules bem altos e finos, parecem flutuar, as pétalas quase transparentes tem um aspecto mágico; os troncos nodosos, retorcidos, altivos, transmitem força e persistência. Outras hastes eretas, sem nenhuma folha ou ramo, erguem-se duras e na ponta um buquê colorido e gracioso. O tom verde-vivo que brota dos galhos secos é um desafio à imaginação dos pobres moradores das grandes cidades.
Durante o período mais quente do dia um silêncio intrigante nos envolve: não se vê nem se ouve nenhum animal, nenhum pássaro, nenhum inseto. Abrigados, escondidos na sombra das pedras, ocos, ninhos, devem observar a insensatez do bicho humano, o único a enfrentar aquelas horas escaldantes.
O cerrado é belíssimo! Completando-o, a diversidade de cachoeiras, de corredeiras, de poços cristalinos protegidos por imensas e coloridas pedras lustrosas e arredondadas. O prazer só se completa com um mergulho nessas águas frias e límpidas.
Nosso roteiro incluiu os highlights da Chapada; a não ser o tempo muito seco, com a elevação da temperatura nessa semana, teria sido perfeito.
Ao Parque Nacional dos Veadeiros falta assistência dos órgãos públicos. Os guias fazem milagres, é a enorme boa vontade deles que sustenta o turismo no parque.
De Brasília chega-se a Alto Paraíso e à Vila São Jorge; esta é a antiga sede do garimpo de cristais. A cidadinha de São Jorge parece de brinquedo com pousadas, restaurantes, sebo de livro (quem diria!), lojinhas ao longo de suas ruas sem calçamento. Ainda se mantém deliciosamente pitoresca e acolhedora. A comida boa, o artesanato, a cachacinha, as frutas exóticas e a gentileza da sua gente são os grandes atrativos.
Enriquece uma viagem o encontro com pessoas. Em São Jorge, conversamos com Irineu, um jovem talentoso, improvisador ”jazzístico” conforme ele mesmo se define. Toca à noite em instrumentos improvisados e um prato de bateria fincado num pau, num morrinho na área de camping. A vila é de forasteiros: quem visitou, lá ficou… :-). A “Mundo Dha Lua” atraiu uma gentil visitante israelense, transformando-a em administradora da bem-cuidada pousada. Na Fazenda Raizama com palcos de rodas de carro de boi para festivais, ouvimos de longe um inigualável soprano. O rapaz da fazenda nos informou, orgulhoso: “é a voz da Maria Carla”! A lendária Maria Callas ficaria contente com o apelido.
O “Bal Bin Laden” é o fazedor de cajados da vila; com cabelos e barba enormes, oferece os bastões decorados com muito bons “causos”.
A Beaga4You prestou excelentes serviços: os guias excelentes e amigáveis, lanches de trilha fartos e variados, os horários e traslados cumpridos rigorosamente. Clarice, a nossa agente, merece os melhores cumprimentos. Recomendamos!
…esculpidas em granito no Mount Rushmore, Dakota do Sul, EUA, são emoção pura! Resultado de determinação, sonho e delírio de Gutzon Borglum, um talentoso escultor, a idéia de esculpir as faces na montanha encontrou muita resistência. Hoje, um monumento magnífico de engenharia e arte encravado na montanha, é uma mina de divisas: recebe cerca de 3 milhões de pessoas por ano.
Com a face expressiva e o olhar brilhante os presidentes estão vivos: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. Para se ter uma idéia da dimensão, os olhos tem cerca de 3,3m de largura, o nariz de George Washington mede 6,3m e a boca tem 5,4m de largura. De helicóptero é possível ver todo o parque com suas formações pontiagudas em granito, em meio à floresta de pinheiros.
O heróico escultor morreu antes de terminar a espetacular escultura; o filho, Lincoln Borglum, continuou a obra que foi inaugurada em 1941. Mount Rushmore fica perto de Rapid City, uma agradável cidade com bons hotéis, esculturas na praça e extensos jardins.
A estrutura do parque é perfeita com cinema, anfiteatro, exposição de ferramentas, maquinaria, documentação de todo o processão de construção. Há o estúdio do visionário Borglum com os modelos e moldes originais. Esculpidos em mármore, os nomes de todos os trabalhadores da obra (sem nenhum acidente fatal!). O último deles estava autografando o livro autobiográfico. Magro, cabelos brancos, carinha miudinha, olhos verdes, disse não ter tido a menor idéia da importância e da grandeza daquela obra. Apenas ia martelando onde lhe ordenavam. 🙂
A chegada ao monumento é cheia de bandeiras com as faces acima e em frente. O local foi muito bem preparado, com grande e confortável suporte turístico; percorrendo a bela “trilha dos presidentes” é possível chegar bem perto das esculturas. Na base do monte há uma vila, de uma só rua, no estilo “faroeste” com construções antigas de madeira, lojinhas e restaurantes; um deles com o tradicional saloon, lustres enormes, quadros e louças antigas, onde a truta com amêndoas e o molho “gravy” é deliciosa.
A imagem deste ícone já me acompanhava há muito tempo e junto o desejo de vê-lo de perto. É uma fantasia que se tornou verdade.
Denver (Colorado) é uma cidade agradabilíssima; parques por todo lado, gramado a perder de vista, ruas largas, muitos museus, livrarias, bibliotecas; os motoristas educadíssimos (é uma maravilha!) apesar da cidade ser do porte de Belo Horizonte.
Ontem voltamos ao ano 79 DC, em 24 de agosto, quando o dia amanheceu claro e brilhante na cidade de Pompéia, perto de Nápoles (Itália). 24 horas depois, milhões de toneladas de cinzas e pedras vulcânicas já haviam sepultado Pompéia e a cidade vizinha de Herculanum, matando cerca de 16 mil pessoas.
No Denver Museum of Nature and Science as réplicas dos artefatos, os mosaicos e objetos originais, os filmes em 3D das casas da cidade de 20 mil habitantes, rica e progressiva, são tão bem feitos que nos faz estar em Pompéia naquele dia, incluindo a devastadora erupção do Vesúvio. Pompéia permaneceu intocada por quase 1700 anos. Vem sendo desenterrada gradualmente, quarteirão por quarteirão, casa por casa; é um dos maiores trabalhos arqueológicos do mundo.
A natureza destrói e conserva: há utensílios domésticos, adornos, jóias e pães (!) perfeitamente conservados pelas cinzas. Muito interessantes são os dados com os quais os romanos gostavam de jogar. Um dos dados foi perfurado e continha um chumbinho para favorecer a jogada máxima… demonstrando que os mais “sabidinhos” existem desde sempre. 🙂
Impressionante o trabalho iniciado pelo arqueólogo Giuseppe Fiorelli em 1860, através do qual pode-se ver as pessoas, os animais congelados em seus últimos momentos (inclusive um cão asfixiado pela sua própria corrente). As cinzas úmidas moldaram os corpos que, ao longo do tempo, se desintegraram, deixando uma cavidade que serviu de molde preenchido com gesso pelo arqueólogo. Hoje essas “esculturas” demonstram o terror, o pânico da fuga e, em alguns casos, a aceitação fatalista do fim.
No próximo post: o Titanic!
(Agradeço a Sonia pela indicação!)
…limitando-se com Montana e Idaho; o caminho para Yellowstone já anuncia o esplendor à nossa espera. As montanhas cobertas de pinheiros e árvores vermelho-douradas antecipam as muralhas e canyons espetaculares! Uma curva descortina extensos e esverdeados campos de feno. Os morros aveludados se perdem no horizonte.
A entrada no parque é o belíssimo e azul Lago Yellowstone. Há excelentes hotéis no parque; o mais famoso, Old Faithful Inn, é uma antiga e imponente construção (1903-1904) de madeira, com troncos retorcidos dando-lhe um aspecto original; sua localização é privilegiada: cercado por incríveis e borbulhantes gêisers. Aliás, uma das grandes atrações de Yellowstone são os incontáveis, coloridos, variados e altíssimos jatos de água quente para os céus. Estes gêisers com o fundo em cores brilhantes – turqueza, amarelo, verde, vermelho – são o surpreendente resultados das câmaras de magma subterrâneas.
Yellowstone originou-se de uma erupção vulcânica há 600 mil anos; ninguém acreditava quando os forasteiros contavam sobre estes “rios de fumaça para o céu”… eram considerados delírios ou histórias de pescador… mais tarde, os gêisers eram “coisas do demônio”! São deslumbrantes e, realmente, inacreditáveis estes bolsões que transformam e colorem a superfície!
A estrutura do parque é ótima, além de trilhas e passarelas de acesso a todos os cantos há estradas asfaltadas que percorrem grande parte do parque. Apesar disso, exige-se um bom condicionamento físico para aproveitar das belezas do parque.
Há, ainda, muitos animais selvagens no Yellowstone. Uma experiência muito inteligente é o resgate dos lobos que, na década de 1920, foram dizimados por caçadores do próprio parque. 🙁 Atualmente, os lobos que foram reintroduzidos no parque já contam com uma população de quase duas centenas.
No Yellowstone há muitos rios que se transformam em imponentes cachoeiras; a “Lower Falls”, por exemplo, despenca (94m!), ruidosamente, em uma longa e funda garganta de rochas sinuosas e coloridas apertando o rio turquesa lááá embaixo, formando um canyon de aproximadamente 300m de profundidade, este sim, indescritível e nos faz duvidar dos próprios olhos. A beleza do Yellowstone supera tudo nesta terra. A gente se sente transparente, com uma saudável incapacidade diante desta natureza forte, sábia e indomável!
Brincando de trovador:
Ilusão coisa estranha
sempre nos acompanha
quando parece finda
surge mais forte ainda
O bem se transforma em ódio
como fruto de grande dor
Mas o ódio, meu amigo
é forma intensa de amor
A vida nos deu com ternura
tesouros encobertos
deu-nos a grande ventura
sonhar de olhos abertos
Copyright©2012 Maria Brockerhoff