Puerto Madryn — Patagonia

As praias desertas, escarpadas e povoadas de relaxados leões e elefantes marinhos, são uma bela compensação à desolada cidade de Puerto Madryn, varrida pelos ventos; abrigado pelo Golfo Nuevo, o porto é a entrada do santuário da extensa Península Valdés.

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Península Valdés, Patagonia – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

Fundado por imigrantes galeses em 1865, é o segundo porto pesqueiro da Argentina. A industrialização começou com uma fábrica de alumínio e outras mais. A região enfrenta um sério problema com o descarte de sacos plásticos; milhares e milhares poluem os campos, matam animais, impedem a adubação. As gaivotas, devido ao lixo a céu aberto, devastam tudo: comem insetos, peixes, ovos, picam as baleias e, o pior, reproduzem-se espantosamente. Há um programa de conscientização para evitar o uso destes plásticos.

A Península Valdés — 4000 km² na província de Chubut — uma imensidão arenosa com vegetação rasteira boa para as ovelhas e um litoral selvagem com falésias belíssimas, é patrimônio natural da humanidade e o paraíso dos biólogos.

Península Valdés, Patagonia – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

Aqui, um zoológico natural, vivem também guanacos, tatus e mara, um roedor tipo lebre da Patagonia; além de ter um jardim especial:

Península Valdés, Patagonia – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

No Golfo Nuevo, principalmente em Puerto Piramides, entre junho e dezembro as espetaculares baleias-franca vêm acasalar-se aqui.

Puerto Piramides, Patagonia – Copyright©2013 Diario de Navarra

Punta Delgada é uma reserva de leões marinhos. Os adultos vão pro mar em busca de alimento e os adolescentes se estendem folgadamente ao sol… esta combinação lhe é familiar?

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Península Valdés, Patagonia – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

No passado recente estes animais quase foram extintos pela matança desenfreada. Felizmente, o governo tomou providências e hoje a região transformou-se em um parque protegido.

Caleta Valdés apresenta uma impressionante beleza e, entre fevereiro e abril, o dramático fenômeno da caçada aos lobos marinhos pelas orcas: surfam até a praia e os abocanham.

Península Valdés, Patagonia – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

Estes caminhos nos levaram a um mundo à parte, nos apresentaram uma vida rica! A adaptação ao clima, os diferentes costumes, a tosa das ovelhas, as grandes distâncias silenciosas são uma realidade desconhecida para nós, essa esquisita gente da cidade.

O Fim do Mundo…

…é rodeado de montanhas azuis e picos nevados. Aqui se ouvem sotaques de todos os cantos: o encontro de gente amistosa e aventureira.

Ushuaia, Argentina – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Ushuaia, “la ciudad más austral del mundo”, está na última beiradinha da Terra do Fogo, na parte leste, Argentina. O arquipélago tem quase 74 mil km².

Ushuaia, Argentina – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Daqui saem os cruzeiros para a Antártida, os passeios pelas baías Ensenada, Lapataia, pelo Canal de Beagle, onde se pode navegar de catamarã e avistar os intrigantes cormoranes; também safaris e agradáveis trekkings por vales e florestas de Lengas — árvores cuja madeira é de muito boa qualidade. Ainda, Cerro Castor é considerado o melhor centro de esqui da América do Sul.

Ushuaia, Argentina – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

O clima hostil afastou os navegadores europeus até 1870, quando desembarcaram os missionários anglicanos vindos das Falklands/Malvinas. Em 1902 foi construída a colonia penal e nasce Ushuaia. Felizmente, o temido presídio desativado somente em 1947 é um museu com histórias de numerosos naufrágios…

Presídio de Ushuaia, Argentina – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

…exposições de arte…

Presídio de Ushuaia, Argentina – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

…lojas e biblioteca. Há, inclusive, uma gravura de Robert F. Scott, explorador da Antártida e — grata surpresa! — exímio desenhista.

Um pavilhão não foi restaurado exatamente para uma pequena amostra da crueza, do frio e do cotidiano duríssimo. As penas eram por tempo indeterminado. De diferentes nacionalidades, os presos políticos, adolescentes e criminosos ditos irrecuperáveis. A média tinha de 30 a 35 anos. Carlos Gardel também teria se “hospedado” aqui. O destino dos fugitivos era igualmente perverso: voltavam à prisão fustigados pela fome e frio.

Presídio de Ushuaia, Argentina – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Os prisioneiros construíram a ferrovia do Tren del Fin del Mundo que, hoje, percorre o Parque Nacional da Terra do Fogo, bem devagar com paradas na cascatinha Macarena e outros interessantes pontos. Desta ferrovia, 7 km são ainda os mesmos da época da prisão.

Ushuaia, Argentina – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

A floresta completamente devastada já começa a se recuperar. Os troncos lisos e secos não apodreceram e parecem ossos espalhados.

Ushuaia, Argentina – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

O Lago Escondido, no Paso Garibaldi, se esconde mesmo entre as montanhas ponteagudas. Desponta, aqui, a Cordilheira dos Andes, este escudo majestoso que, num crescendum, vai até lá em cima, perto do mar das Antilhas.

Lago Escondido, Ushuaia – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

Pela segunda vez, estas terras singulares nos apresentam novas perspectivas!

 

Neve aliii pertinho…

…é aquele peeerto de mineiro! Mas, comparando as distâncias e a beleza intrigante das geleiras do sul das Américas, pode-se dizer: é um pulo até El Calafate, na Patagônia Argentina.

A conexão é em “Mi Buenos Aires querido”, assim é porque temos lá duas amigas muito queridas — uma porteña, a outra desejando sê-lo — que valem a visita.

Calafate é uma fruta regional da qual se fazem geléias e sorvetes; El Calafate é enfeitada por inacreditáveis roseiras de todas as cores e tamanhos.

Da cidadinha, às margens do monumental Lago Argentino saem passeios para os glaciares de Perito (“expert”) Moreno Sul, glaciares Uppsala, Seco, Spegazzini, e Perito Moreno Norte. A estrutura turística é ótima, os parques bem cuidados e limpos. Os icebergs em cristal azul, o paredão imponente de gelo são magníficos. Diante daquela imensidão coberta de gelo apertada entre montanhas majestosas, o coração dispara e tudo fica suspenso numa bolha mágica.

A única restrição nestes lugares especiais são os turistas!! Para muita gente, o objetivo é tirar muitas fotos em variadas poses e descrever ao celular, em altos brados, as trivialidades do momento. 🙁

De El Calafate, a 300km, através de uma boa e infinita estrada, chega-se a Torres del Paine, no Chile. A grande atração deste lugar é o círculo do Maciço Del Paine, cujos picos cobertos de neve trazem uma quietude que nos faz desejar permanecer aí e um silêncio cheio de estrelas que nos alerta para a insensatez de viver no caos ruidoso das cidades. Torres del Paine é um parque com um único, bonito e confortável hotel. Um lugar belíssimo com lagos de todas as cores, escaladas de todos os níveis, o belo Salto Grande de águas esverdeadas, passeios a cavalo e longas caminhadas.

Estas caminhadas apresentam desde baixa até altíssima intensidade. A subida para as Torres de granito é bem íngreme; fomos até a uma altura de 409m (metade do caminho), curtimos lá de cima o Rio del Paine e demos meia-volta, bem contentes! 🙂

A vista do Lago Grey, através do bosque, com enorme faixa de areias escuras e icebergs esculturais, é estonteante; nos primeiros instantes, a sensação é de uma miragem fascinante e envolvente…

Esta viagem, muito bem organizada pela PISA Trekking, pareceu-nos uma bela mostra da Antártida. Ao mesmo tempo nos saciou e aguçou o desejo de conhecer os gelos eternos antárticos!