Raimundo Correia

MAL SECRETO

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

O poeta é exímio conhecedor das emoções, buscando bem no fundo a verdadeira essência humana. “Mal Secreto” vale um mundo de psicanálise! Raimundo Correia, de família de classe média alta, nasceu a bordo do navio “São Luis” em águas maranhenses e por isso dizia: “sou um homem sem pátria, nasci no oceano”. Daí, com certeza, a universalidade da sua poesia.

Calendário Chinês – Coelho

O coelho é, antes de tudo, um pacifista, com raras exceções. Costuma, mesmo em família, evitar envolvimentos mais profundos, porque valoriza muito a própria tranquilidade; tanto é que, sob pressão de problemas graves, não hesita em deixar tudo para trás.

É o tipo do amigo com o qual se pode contar. Não se mete onde não é chamado, por isto é querido por muita gente. Gosta de ordem e de ficar em casa. O coelho é vaidoso e, muitas vezes, superficial. Conhece um pouco de tudo, mas não de forma profunda. É a avesso às competições e à pressa.

O coelho prefere os trabalhos mais constantes como o funcionalismo público, a diplomacia, pesquisas e todas as atividades feitas em casa.

No amor, o coelho é fiel, carinhoso, discreto, valorizando as relações duradouras. Pode ser até muito indulgente com o(a) parceiro(a) para evitar rupturas. Isto, porém, não o impede de agir com egoísmo e ser, muitas vezes, oportunista.

Nos negócios não costuma correr grandes riscos. Gosta de requinte, sendo bem elegante. Raramente é atacado por impulso consumista que o leva a gastar com exagero; felizmente isto dura pouco.

Para os coelhos nascidos em 1999 (como Lucianna) o elemento é terra. O coelho de terra é muito independente, é bem prático, procura ver a vida sem fantasia; talvez, por isso, sinta uma certa tristeza. Ao coelho de terra pode faltar vôos de imaginação e espontaneidade.

O coelho não combina com tigre ou galo e tem dificuldades com cavalo e macaco. Dá-se muito bem com carneiro, porco, cão, serpente e outro coelho.

Nascidos nos anos do coelho: Fidel Castro, Ingrid Bergman, Glória Pires, Tom Jobim, Portinari.

Evelyn Glennie no Minas Tênis Clube

Uma virtuose escocesa, simpática, alegre e muito simples, como o são os grandes, apresentou-se em Belo Horizonte, MG.

Além da forte tradição musical no nordeste da Escócia, onde o desenvolvimento dos jovens músicos é levado muito a sério, o pai tocava acordeon e Evelyn Glennie tocava, inicialmente, gaita e clarineta. Começou a perder a audição aos 8 anos e aos 12 ficou profundamente surda.

Esta artista rompe paradigmas e preconceitos. Por volta dos 15 anos, Evelyn disse à conselheira vocacional que pretendia seguir a carreira musical. A orientadora, perplexa e um tanto obtusa, como sói acontecer, sugeriu-lhe cursar contabilidade (!!). Desde então, a busca do som tornou-se um desafio ainda mais forte. Ela aprendeu a “ouvir” com outras partes do corpo as vibrações sonoras que substituem, incrivelmente, os ouvidos. Sente vibrações específicas, por exemplo, no dedo indicador.

No palco, uma parafernália selecionada dos mais de 1800 instrumentos da sua coleção. A maior percussionista de todos os tempos é criativa e inventa sons de pedras, conchas e constrói instrumentos dos quais extrai belíssimos sons, como o “aquaphone”. A marimba é suspensa para melhor transmissão das vibrações, assim como a apresentação descalça. Ela toca, ainda, o “Hang”: instrumento suiço, incomum, feito apenas sob encomenda.

Evelyn Glennie fala normalmente, com enunciação precisa; não tem sequela alguma da deficiência. Faz palestras sobre a surdez, cuja natureza é incompreendida pelo público em geral. A carreira inigualável desta moça mudou os padrões do ensino musical no Reino Unido. Ela própria é a prova viva de superação, de desafio de limites e de força interior.

De quebra, ela desenha e fabrica jóias de uma beleza ímpar.

O insight incrível de Evelyn é a busca do som em si mesmo, muito além da música: o corpo é fonte de som.

 

Belmonte e Aldeias Históricas em Portugal

O interior de Portugal reserva agradáveis surpresas. São vilas e aldeias com muitas histórias e tradição. Conservam o estilo e as raízes seculares. Belmonte, terra de Pedro Álvares Cabral, a 290km de Lisboa, com as casas de pedra com flores e frutas, as ruelas cheias de curvas, os museus incrivelmente modernos, é muito agradável! Curtimos imensamente a quietude e o silêncio dali; principalmente bem cedo pela manhã e ao começar da noite não há vivalma. Por isto, Belmonte é singular.

A Pousada Convento de Belmonte, na parte mais alta, tem a vista ampla para a Serra da Estrela. Foi um antigo convento dos Franciscanos, a planta original foi mantida, bem como a capela e a sacristia. Os amplos apartamentos são designados pelos nomes dos Frades! A decoração, de muito bom gosto, mantém o estilo antigo aliado ao conforto. Interessantes as ruínas preservadas em dos pátios da pousada. Lá, sim, se pode ouvir as estrelas…

Pousada Convento de Belmonte - Copyright©2013 Rainer Brockerhoff

Sortelha! Ah! Sortelha é uma miragem… o Castelo de Sortelha foi edificado em 1228, para defesa estratégica. Para fixar a população, foi criado ali um couto de homiziados — neste lugar, qualquer indivíduo tinha o direito de fixar-se livremente, ainda que fosse perseguido pela justiça de outra região. No conjunto de fortificações, no interior da muralha, pode se ver, por exemplo, a torre de menagem, cisterna, porta falsa, varanda de Pilatus, a torre sineira e uma pedra de forma peculiar, a Cabeça da Velha. Vale a visita. A região em torno de Sortelha é de pedra-pura e belíssima.

Castelo Novo é uma aldeia em caracol, rodeada por pedras “acolchoadas”. Lá no alto, a arquitetura gótica e manuelina do castelo.

Vir a esta região foi uma inversão de papéis: nós, agora, descobrimos Portugal.

Dublin — Irlanda

A solidez, a imponência dos casarões de pedra, as ruas cheias de gente colorida, avenidas largas, flores em todas as portas, janelas e postes fazem de Dublin (parodiando Hemingway) uma festa. O Trinity College, em plena atividade, é um centro efervescente de cultura e eventos. Na biblioteca antiga, o Livro de Kells, manuscrito iluminado do séc. VIII, arte dos frades celtas, é prova da genialidade, da grandeza, da dedicação e altruísmo da humanidade. É absolutamente consolador verificar que o ser humano é capaz de uma obra tão grande, quando a guerra na Síria é o extremo oposto.

A exposição na antiga fábrica da Guinness, a cervejaria mais antiga da Irlanda, é uma demonstração de talento, organização e muuuito trabalho. Usa sistemas hi-tech para demonstrar equipamentos e processos muito antigos de fabricação. Arthur Guinness arrendou uma cervejaria menor quando, ainda muito jovem, quis botar em prática suas idéias mirabolantes: em 1759 nasce a Guinness!

Nem é preciso anotar endereço, o cheiro delicioso de cevada e malte conduz o turista à cervejaria…

 

Irlanda de Trem

Passageiros, todos a bordo… o tempo está perfeito, céu de brigadeiro!
De Dublin (Heuston Station) o trem parte para Cork, uma grande cidade (nos termos irlandeses), pois tem 150 mil habitantes. É a terceira depois de Dublin e Belfast. Aqui tem uma “concorrente” da Guinness e também uma conhecida destilaria de uísque. É uma alegre cidade universitária e hospeda filiais de multinacionais importantes, como Apple, Google e Yahoo. O mercado é limpíssimo, cheiroso com todos os tipos de queijos e peixes que se pode imaginar.

O destino é Cóbh, porto importante de emigração, último embarque no Titanic, tema muito bem exposto. Há uma mostra impressionante das péssimas condições dos emigrantes. Importantes as informações sobre “The Great Famine” e a consequente emigração de 3 milhões de irlandeses por este porto.

O highlight deste dia é a visita ao Castelo Blarney e jardins. O castelo foi construído em 1446 e a atração é a famosa Pedra de Blarney: você terá que alcançar o topo para beijá-la e ganhar o presente da “eterna eloquência”. Na realidade, é uma destas estórias que turista adora! Realmente, depois de dúzias de estreitos degraus em espiral, chega-se ao rampart onde o “beijo” exige uma ginástica de Cirque du Soleil… 🙂 deve-se deitar de costas, descer a cabeça até alcançar a pedra suspensa sobre o abismo. Claro, declinamos a honra! Esse tipo de “atração” não nos pega há muito tempo… valem o engenho da construção, o exercício, a vista do verde irlandês e os jardins.

Curioso o “jardim de venenos”. São plantas bonitas, mas não se engane: tem partes ou sementes venenosas. Interessante é que nossos “buchinho”, mamona, hortênsia e ruibarbo, entre outras, estão lá! O jardim das mais variadas samambaias é lindíssimo; a cascata, o frescor, a sombra levam-nos à meditação.

Irlanda de Trem #2

Próximo a Killarney — uma cidadinha muito agradável, com hotéis excelentes — está o Ring of Kerry, a sudoeste da Irlanda. É mesmo um anel de baías azuis numa extensão verde silenciosa cheia de parques e montanhas de até 1041m, consideradas bem altas por lá. A estrada contorna as belíssimas e intocadas baías de Kenmare e Dingle; nesta, foi filmada uma das cenas do clássico “A Filha de Ryan”.
Nas ilhas próximas monges agostinianos moraram em mosteiros desde o Séc. VI e foram um enclave de cultura e desenvolvimento até o séc. XII naquela região.

Limerick é a cidade do rugby irlandês e do ator Peter O’Toole. Nas proximidades, o Bunratty Castle data de 1425; é mais uma das típicas construções residenciais dos nobres da época. Na costa oeste, os “Cliffs of Moher”, considerados uma das maravilhas do mundo. São penhascos indomáveis de 200m de altura e 8km de comprimento, cortados pelo mar e ventos gelados. É um desses lugares onde as fotos ficam pálidas e as palavras muito pobres… fica-nos uma profunda impressão de mistério e força.
Neste lugar, é impressionante o cuidado dos irlandeses com o meio ambiente; não há construções à vista, é tudo subterrâneo. Assim, os penhascos continuam intactos e magníficos sem nenhuma interferência externa.

Chegando a Galway, na baía do mesmo nome, há o Parque Nacional do Burren: é uma enigmática paisagem lunar de calcáreo — similar à da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Em 1649 o Burren já foi descrito, de forma pitoresca, como um lugar onde “não há árvore para enforcar um homem, nem água profunda para afogar, nem terra suficiente para enterrar”.

Border Collies — Cães Pastores na Irlanda

Ainda no Ring of Kerry, um espetáculo formidável e incomum, pelo menos por estas bandas. O pastor de ovelhas Brendan Ferris faz uma excelente demonstração do trabalho dos cães nas fazendas irlandesas. O pequeno rebanho é movido em qualquer direção através de apenas assobios e gestos. Brendan tem marcado senso de humor, talento e muito carinho com os cães. São realizadas competições regulares e estes cães tem alto valor no mercado. Na Escócia, há os “bearded collies”.

Os “border collies” são treinados progressivamente a partir dos nove meses por um período intermitente de 12 a 18 meses. Exercitam-se árdua, alegre e diariamente por 8 a 9 anos, quando se aposentam. É significativo constatar que, em geral, eles são os mais longevos e saudáveis da raça canina. Este exemplo dá para pensar…

Inicialmente, à medida que Brendan vai pronunciando os nomes das ovelhas, cada uma se afasta do grupo para se apresentar ao público. São de tipos e temperamentos variados.

Com outro grupo, os cães demonstram suas habilidades, atenção e destreza ao conduzir as ovelhas dispersas pela montanha. Sob o sutil e, quase sempre, bem-humorado comando de Brendan, os cães levam as ovelhas para a direita, esquerda; rosnam, as fazem correr, as colocam em círculo ou as separam, enfim, são competentes guias.

É mínima a possibilidade de insurgência das ovelhas, cuja obediência imediata é o sonho de muitos governos e religiões! Alguns conseguem…

Observar este ofício tradicional, útil e interessante na magnífica paisagem do Ring of Kerry foi um momento delicioso de relax e diversão…

Inhotim e Big Bands

Uma combinação harmoniosa! 🙂

Apresentaram-se no teatro do Inhotim a Big Band Palácio das Artes e a Big Band UEMG.

A BBPA é dirigida pelo pianista Nestor Lombida, muito conhecido e admirado com uma multidão de alunos e seguidores. Lombida já bem merece o título “Doutor Honoris Causa” pela competência e qualidade profissional – fica a sugestão!

Além de algumas peças de inspiração brasileiro-cubana, tocaram “Transit“, uma das nossas prediletas.

Uma grata surpresa a Big Band UEMG. O regente graduado em saxofone e pós-graduado em música brasileira pela UEMG é Ivan Egídio da Silva Junior, cujo entusiasmo dá gosto. Foram apresentadas músicas com arranjos notáveis de músicos mineiros, inclusive um do jovem Josué, trombone da Big Band. É um excelente estímulo valorizar a prata da casa!

O som, o ritmo, o estilo destas bandas são envolventes e contagiantes. A vibração, o vigor, a alegria e o companheirismo dos jovens músicos são a melhor demonstração de talento e virtuosismo.

 

Halloween… no Brasil

É intrigante acompanhar o avanço de certos movimentos vindos de fora.

Halloween — de “hallow”, termo antigo para “santo” — significa “Véspera dos Santos”, era uma celebração, na Irlanda, do fim das colheitas e da aproximação do inverno, desde os tempos medievais. Em países de língua portuguesa, Halloween passou a significar “Dia das Bruxas”.

A igreja de Roma comemorava o todos-os-santos em maio, a partir de 609 d.C. O papa Gregório III, no século VIII, mudou a comemoração para primeiro de novembro, com o suposto objetivo de esvaziar as festividades pagãs.
Enquanto os “pagãos” celebravam o Samhain alegremente com fogueiras, cantos, danças, rituais celtas de fertilidade e fartura de alimentos… …a igreja pregava abstinência, a peregrinação e o arrependimento. 🙂

Já em 1593, Shakespeare mencionava o Hallowmas, quando as crianças pobres iam de porta em porta, recolhendo os bolos dedicados às almas… um jeito — bem inglês! — de aplacar a consciência.

Um pregador africano explica o uso de fantasias e disfarces macabros no Halloween: esta era a última noite para as almas vagarem pela terra, assim todos se fantasiavam e usavam máscaras para escapar da vingança dos mortos.

A grande fome — Great Famine, 1845 a 1849 — dizimou e expulsou milhões de pessoas da Irlanda; um tanto destes emigrou para os Estados Unidos; a família Kennedy, por exemplo, é de origem irlandesa. Lá, os irlandeses continuaram a celebrar a véspera de todos-os-santos em suas comunidades. Somente a partir da década de 1920 a festa se espalhou, coincidindo com a colheita das morangas, mais fáceis de esculpir do que os nabos usados pelos irlandeses.

A origem de comemorações folclóricas é, além de controversa, muito rica em histórias e conjecturas. Em cada lugar, cada povo vai-lhe acrescentando o tempero dos próprios valores, usos e costumes. Nos Estados Unidos, ultimamente, os jovens se embebedam e os resultados, claro, passam longe da alegria original. O excesso de doces ingeridos pelas crianças tem gerado, atualmente, problemas muito sérios.

No Brasil, tem-se propagado o tal do Halloween nas academias, nos colégios, nas festas no final de outubro… qual o sentido disto? Assinalar a data em escolas de inglês pode se justificar, mas cá de fora? Nosso folclore tem motivos de sobra para comemoração: Saci Pererê, Mula-sem-cabeça, Bumba-meu-boi, a Catira Mineira, etc. etc. Nossas crianças certamente não sabem, nunca viram uma Congada ou uma Folia de Reis. É uma tradição belíssima, enriquecedora, com o ritmo contagiante de guizos amarrados nas canelas dos cantadores e tocadores. As festas vivenciadas e cultivadas aqui nesta terra podem ser mais interessantes, mais expressivas do que qualquer Halloween importado.

O importante é a força da tradição que o Halloween ou qualquer outra festa folclórica traz em si. Simplesmente importar modismo, copiar figurino, repetir refrão empobrecem qualquer manifestação, porque estará desconectada de significado cultural ou dos costumes de um povo.