Ingrês…

…na criatividade baiana! 🙂

“in full” = em cheio?? “Whole Bread” é o correto.

“sleeve” = manga de camisa, de vestido. Em inglês, “Mango”.

Eng4

“canned noble” = “pessoa nobre enlatada”?? Eram tomates secos; “dried tomatoes”.

“pitiful” = “deplorável”. Deveras! 😉

Eram bolinhos/biscoitinhos “petit fours“: expressão da culinária francesa.

Para boas risadas, aqui mais: engrish.com

Fedra e Hipólito

Começa hoje, no Palácio das Artes, a apresentação da ópera do músico, compositor e maestro Christopher Park. Sob a direção artística e cênica de Fernando Bicudo, a venda de ingressos está esgotada; felizmente as Erínias conseguiram ingressos para quinta, dia 20/6. Certamente todo o grande elenco é responsável por esta acolhida impressionante.

Hipólito e/ou Fedra é uma peça do grego Eurípedes (428 a.C.), adaptada pelo romano Seneca. Desde então, este clássico da mitologia grega tem sido repetido na literatura, dramaturgia, filmes e óperas. Bem conhecida é a interpretação de Jean Racine em 1677. O papel de Fedra é magnífico, sendo o ponto máximo almejado, em todos os tempos, por exímias atrizes e sopranos. O nome Fedra deriva do grego φαιδρος, “brilhante”.

Racine se inspirou na tragédia grega e escreveu a peça “Hipólito”: a destruidora paixão de uma mulher por seu enteado. É a exploração das consequências de uma paixão proibida. Segundo um estudo muito interessante de Roland Barthes, Racine focaliza a tragédia da palavra. Para Fedra, a palavra reveladora do terrível segredo — seu amor pelo enteado — é a irreversível condenação. Nenhuma palavra pode voltar atrás. Para Hipólito, a palavra, o falar a versão dos fatos, seria a própria salvação. O não-dizer, a omissão, leva à destruição do nobre Hipólito.

Vargas Llosa, o grande escritor peruano, em “Elogio de la Madrastra“, faz uma interessante subversão do mito: o enteado seduz a madrasta. Também aí, como em Eurípedes, é a definitiva deterioração da família.

Os mitos formam a base das religiões, literatura, filosofia e artes. A sabedoria da mitologia é atingir a dimensão tipicamente humana; é muito diferente de fábulas ou lendas. Os mitos dizem respeito ao nosso relacionamento interior ou com o desconhecido. Podemos dizer que os mitos são espelhos que nos lembram quem somos e quão pouco mudamos desde a origem. Os mitos abrangem a história universal e constituem a base da psicanálise.

A tragédia mitológica trata de todas as emoções humanas e, o mais importante, através de símbolos oferece ao ser humano a solução dos conflitos. É função eficaz dos mitos demonstrar toda a gama dos sentimentos humanos sem culpa, sem censura, sem preconceitos. Aproveitemos, pois, a grande oportunidade de renovação interior que “Fedra e Hipólito” nos proporcionam.

A simbologia do mito é diversificada em cada região integrando o sistema de crenças de uma cultura ou civilização. Joseph Campbell, conceituado professor de mitologia, resume muito bem:

Mitos são sonhos públicos; um sonho é um mito privado.

 

A Música do Espinhaço…

…está na praça, outra vez, para o gáudio de um mar de gente! No novo CD, Bernardo, Gustavo, Matheus, Rafa, Zé Mauro mostraram, proficuamente, os resultados da imersão nos matos, nas cachoeiras e janelas da Cordilheira do Brasil.

Além da criatividade, esforço e suor, este bando visionário enfrentou todas as dificuldades com as tais “leis de incentivos” (não se sabe a que?!)… o Músicas do Espinhaço, como outros grupos talentosos, não conseguiu atingir os misteriosos e intrincados critérios das leis culturais. É outro setor clamante por mudanças, já! Entretanto, isto foi só mais uma barreira ultrapassada com a beleza dos poemas musicados do CD Janelas. As tais leis não valorizaram este grupo musical; porém, encontrou amplo apoio no patrocínio coletivo.

Sugerimos sejam as letras — de autoria de Bernardo Pühler — publicadas no site, pois são poesias de elevado quilate. Guimarães Rosa deve sorrir lá em cima! O texto de apresentação prova a maturidade do grupo, outra sugestão para o site. As fotos, muito bem feitas, revelam a fonte de inspiração.

As mãos e a arte de Eloíse Frota completam a excelência deste último lançamento. A capa do CD, em juta, num trabalho manual uma a uma desta artista iluminada, traduziu perfeitamente os anseios, os objetivos, os sonhos do Músicas do Espinhaço. Afora a expertise, está a profunda afeição pelos rapazes inspirados da Cordilheira!

Para o enlevo da galera, uma palinha:

Janelas

Anseios por minhas janelas
e eu nem as tenho para dar
me invento do lado de dentro
me experimento seu experimento ocular

me enquadro em lapso cintilante
errante desisto da fala
mas sou homem da boca pra dentro
no estojo da alma

A terra de lá onde eu venho
é pedra e não terra que há
mas vejam aqui nesse engenho
é a janela que posso dar

A noite na beira do rio
me cala milênios de voz
mas eu trago a voz desses bichos
no estojo da alma

minha alma, minha alma, minha alma…

Manifestações e Protestos…

…uau! …estivemos lá!

protestoIr já pra rua
sair do mundo da lua
acompanhar a multidão
de um em um
se faz o povão

Os rostos sorridentes
os olhos brilhantes
nada mais
será como antes

Conhecemos os antecedentes
o governo é uma anta
aperta nossa garganta
massacra como jamanta

O povo é sábio na avenida
é alegre gentil tem vida
vamos todos
à “luta renhida”

Ficar no sofá
só no celular
nada vai mudar!

Copyright ©2013 Maria Brockerhoff

Curso de Inglês…

…no paraíso! Este lugar existe; o clima é azul, o silêncio é cheio de pássaros e esquilos. Do alto, pode-se ver a cidadinha embaixo, envolta em neblina… o recorte das montanhas lá longe. A sensação é a de um Shangri-La abrindo-se para nos acolher. É Little England!

Uma invejável idéia de professores-pioneiros — como sempre, uns visionários, ainda bem! — de construir um hotel-escola, onde se vive inglês. Ali, em Nogueira/RJ, se faz imersão total com os mais variados exercícios, brincadeiras, treinamento, técnicas modernas e personalizadas de manejar uma língua.

Para começar, todos os professores são nativos: da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Escócia, da África do Sul. Há programas interessantes para os níveis mais variados e para o Business English. As situações lá de fora são vividamente representadas aqui; conferências e até conversas por telefone entre alunos e professores sobre o respectivo negócio. Há cursos durante todo o ano.

O plus nesta escola sui-generis é a dedicação de todos os professores. Estão sempre disponíveis, interessados, a postos. Às vezes, dois professores por aluno, viva! Os resultados, como tudo nesta vida, dependem também do interesse e da motivação de cada um. Aqui, todo o talento, a boa vontade e o empenho serão multiplicados. Certo, também, que para um aproveitamento melhor recomenda-se um conhecimento intermediário da língua inglesa.

Contudo, posso dizer, com a experiência de mil “cursinhos the-book-is-on-the-table” e de intercâmbio no exterior: a vivência Little England traz um rendimento incomparavelmente superior. O único senão é o cigarro; embora de uso restrito ao jardim, o cheiro inescapável quebra a harmonia.

A paisagem é exuberante, as acomodações confortáveis e a comida um pecado! Mas, não se engane, ali se trabalha duro com os professores bem-humorados e competentes “fiscais”. 🙂 Não há TV, telefone nem um pio em português.

A Little England é, no melhor sentido, um instigante tour-de-force. Experimente ir lá, dedique-se e sentirá um novo sabor da língua. Se você não sentir a transformação…

throw the towel! É isto mesmo… jogue a toalha.

Brincadeiras do Destino

José Saramago, em “Levantado do Chão”, o impressionante romance do Alentejo, revela:

…porque os tesouros têm o seu destino marcado, não podem ser distribuídos pela vontade do homem.

Os caprichos do destino são deliciosos! Vamos lá:

O anel de casamento

Numa fazenda na Suécia, uma jovem senhora tirou a aliança para fazer um bolo. Num gesto habitual, colocou-a sobre a pia. A aliança de ouro branco e 7 pequenos diamantes sumiu!

O casal aflito procurou por toda parte; até o piso da cozinha foi levantado. Nada. Passados 16 anos, a dona do anel viu algo brilhando no canteiro da horta. Curiosa, puxou a planta; ali estava o anel abraçado a uma cenoura.

O patinador australiano

Steven Bradbury batalhou, invejavelmente, pela sua vocação. Começou a patinar no gelo aos 8 anos.  Não teve patrocinadores, sobrevivou fabricando patins, até para os adversários.

Nas olimpíadas de 1994 sua equipe conquistou a medalha de bronze. Numa competição no Canadá, a lâmina de um outro atleta, ao cair, cortou-lhe profundamente a coxa, perdeu rios de sangue com um corte de 111 pontos. Depois de meses de fisioterapia, Steven conduziu a tocha olímpica de Brisbane a Sydney.

Quanto mais difícil o caminho, mais forte a vontade de continuar. Steven, em 2000, fraturou duas vértebras cervicais, quando treinava. Ficou 6 semanas imobilizado.

Muita garra e um tanto de sorte levaram-no às semifinais das olimpíadas de Salt Lake City em 2002. É que nas quartas de final dos 1000m os dois primeiros colocados se chocaram e foram eliminados. Incrivelmente na semifinal houve outra colisão entre os primeiros colocados e Steven ficou em segundo lugar, qualificando-se para a disputadíssima final.

Steven sabia que não teria chance entre aquelas quatro feras: Apolo Anton Ohno (USA), Li Jiajun (China), Kim Dong-Sung (Coréia) e Mathieu Turcotte (Canadá). Se se juntasse ao bando, correria sério risco de se machucar mais uma vez. Então fez a inteligente opção de ficar atrás e se divertir naquela final.

Nesta escolha, o australiano demonstrou ser, além de valoroso atleta, uma pessoa com a grande qualidade de reconhecer as próprias limitações. Ao invés de desanimar-se, quis aproveitar intensa e alegremente aquele momento. Steven foi recompensado regiamente pelo padrinho-destino: última curva, a torcida enlouquecida… na arrancada final, os quatro primeiros se embolam e caem espalhados na pista… Steven alcança, majestoso, seguro, feliz, a marca dos vencedores.

Ao receber a primeira medalha de ouro em patinação para a Austrália, Steven declarou com um largo sorriso: “Fate is still smiling at me!” [em tradução livre, “o destino ainda sorri para mim!”]

Carta Aberta ao Sr. Kalil – Atlético Mineiro

Sr. Kalil,

ouvi falar muito do Sr. nestes últimos dias. Foi deveras impressionante e cheguei a sonhar com um concerto oferecido pelo Sr. aos torcedores.

Sim, senhor. Minas Gerais tem renomadas orquestras sinfônica e filarmônica, tem a sinfônica da Polícia Militar, excelentes pianistas, violonistas e outros exímios instrumentistas.

O espetáculo musical do sonho foi uma homenagem cultural aos jogadores e a todos os torcedores mineiros que se deliciaram com as músicas de excelente qualidade. Muitas crianças, muitos idosos tiveram oportunidade — talvez a primeira — de ver os incríveis instrumentos de uma orquestra. Todos tiveram a sensação especial proporcionada por este tipo de entretenimento: a vivência de uma genuína alegria e encantamento. Mas, não se assuste, foi um sonho apenas. A realidade é bem outra!

Nesta situação, o senhor parece-me uma pessoa muito importante; é capaz de mobilizar centenas de milhares de pessoas, levá-las à rua, acompanhadas de contínuos foguetórios e buzinaços. Muita, muita gente permaneceu em frente à sede do clube por intermináveis horas. Algumas anunciavam, com a voz já enrolada, a volta ao trabalho apenas na segunda-feira seguinte à vitoria do Atlético. Para a maioria, o mais significativo e importante momento de suas vidas.

De quarta a domingo, a massa enlouquecida grita, chora, se embriaga… as famílias se unem “no grito, na raça” dando às crianças o exemplo de uma comemoração. Ainda na quinta-feira, até o começo da tarde, uma multidão, de onde exalava forte cheiro de bebida e xixi, atrapalhava a passagem de veículos e ônibus lotados. As pessoas chegariam atrasadas aos hospitais, às lojas, ao aeroporto, às igrejas, aos escritórios. Porém, tal comemoração não comporta queixas, pois é de máxima importância para um país tão bonito, cujo índice de violência, de analfabetismo, de corrupção é altíssimo! É a justa manifestação da alegria de um povo acostumado a engolir qualquer desaforo, qualquer desmando dos poderosos da vez.

Sr. Kalil, agora certamente pensou em um presente à altura da paixão dos torcedores e um presente sempre revela muito do doador: nesta quinta-feira, 1 de agosto, em um gesto generoso, tal qual um imperador romano, o senhor manda fechar a principal via da cidade de Belo (!) Horizonte e lavar com rios de cerveja o restinho da dignidade dos cidadãos.

Antigamente era pão e circo. Hoje é cerveja e futebol.

Labirinto

Minh’alma perdida,
por aí sem guarida,
fecha-me a ferida:
onde está a saída
nesta luta bandida?
e a terra prometida
— bela e atrevida —
vive escondida
em funda jazida?

Copyright ©2013 Maria Brockerhoff

Desventura

Encostado num canto
o barco foi entretanto
belo, forte, altaneiro!
Sumiu a boa sorte
hoje virou canteiro.
É o retrato, talvez
de quem perdeu a vez.
Desistiu. Nem partiu…

Copyright ©2013 Maria Brockerhoff

Ilha Norfolk — Austrália

Estas valentes porções de terra cercadas, muitas vezes, por ondas bravias, que  desenham, cortam e cavam-lhe as costas, guardam tesouros e mistérios. Norfolk é uma destas ilhas fascinantes. O vulcão que lhe deu origem espalhou, com gosto por todo o lado, pedras negras dos mais variados tamanhos e formas; o contraste com gramados verdes, muito verdes, se estendendo até as praias de águas cristalinas faz-nos duvidar dos próprios olhos.

As ruínas majestosas e muito bem conservadas das duas penitenciárias, cuja muralha continua intacta, revestem esta parte da ilha de uma aura enigmática; há um silêncio, uma quietude, onde se escutam o vento e as histórias inscritas nas paredes, nas celas, nos corredores estreitos, nas lápides do cemitério. Nos anais do museu o drama do prisioneiro fugitivo das grades, recapturado depois de viver durante 7 anos no oco de uma árvore.

Hoje, em compensação, não há cadeia nem qualquer outro tipo de vigilância. Ninguém tranca a casa nem o carro. No vilarejo com 2000 habitantes, onde a lista telefônica é por apelido, o centro de compras é uma única rua com lojas finas, galerias de arte e modernos restaurantes. Não há semáforo e a carona é o único “transporte público”. Todos se cumprimentam, incluindo os turistas, com o “Norfolk wave”, o polegar positivo! A ilha exporta sementes de palmeiras, fabrica cerveja e chocolate e não usa agrotóxicos.

Norfolk se localiza a leste da Austrália, a menos de duas horas de vôo de Auckland (Nova Zelândia), no Oceano Pacífico; ao sul, o mal-humorado Mar da Tasmânia. Os polinésios viviam aqui antes da chegada do Capitão Cook em 1774. Em meados do século XIX os descendentes do famoso motim “Bounty”, moradores da ilha Pitcairn, já pequena para tanta gente, foram levados para Norfolk… mais histórias para o folclore e cultura…

A rica miscigenação resultou numa linguagem rara: mistura de taitiano e o antigo inglês de Pitcairn. A língua Norfolk está sendo ensinada nas escolas.

Norfolk é inigualável para mergulho em cavernas, abismos e túneis de coral, com infinita variedade de peixes e visibilidade de 20m ou mais. As árvores resistem bravamente aos ventos fortes e daí a estranha e belíssima forma das suas copas. Esta pequena ilha parece manter-se fiel às suas raízes, intocada pelos modismos, plantada nas rochas vulcânicas e protegida pelo oceano-guarda-costa.

Em Norfolk está o barco “Desventura”.