Uma árvore delicada
quase frágil
presa à calçada
se cobre de pendões
amarelos…
iluminam a avenida
cheia de ruídos
e gente distraída
se enfeita
ignora a desfeita
dos desiludidos.
Os galhos floridos
sob a chuva
ou sol matutino
estão plenos abertos
prontos e certos…
Corres saltitante
para o abismo!
Buscas gente brilhante
só em coluna social.
Gastas dias preciosos
atrás dos poderosos
vazios, tristes, pobres
de prazer e de ternura.
Desperdiças a esmo
tempo, suor, doçura
fugindo de ti mesmo.
Trocas as tuas origens
a emoção mais pura
por luzes e miragens.
Segues a via da loucura!
Encostado num canto
o barco foi entretanto
belo, forte, altaneiro!
Sumiu a boa sorte
hoje virou canteiro.
É o retrato, talvez
de quem perdeu a vez.
Desistiu. Nem partiu…
Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora, Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa!
O poeta é exímio conhecedor das emoções, buscando bem no fundo a verdadeira essência humana. “Mal Secreto” vale um mundo de psicanálise! Raimundo Correia, de família de classe média alta, nasceu a bordo do navio “São Luis” em águas maranhenses e por isso dizia: “sou um homem sem pátria, nasci no oceano”. Daí, com certeza, a universalidade da sua poesia.
Minh’alma perdida,
por aí sem guarida,
fecha-me a ferida:
onde está a saída
nesta luta bandida?
e a terra prometida
— bela e atrevida —
vive escondida
em funda jazida?
José Saramago, em “Levantado do Chão”, o impressionante romance do Alentejo, revela:
…porque os tesouros têm o seu destino marcado, não podem ser distribuídos pela vontade do homem.
Os caprichos do destino são deliciosos! Vamos lá:
O anel de casamento
Numa fazenda na Suécia, uma jovem senhora tirou a aliança para fazer um bolo. Num gesto habitual, colocou-a sobre a pia. A aliança de ouro branco e 7 pequenos diamantes sumiu!
O casal aflito procurou por toda parte; até o piso da cozinha foi levantado. Nada. Passados 16 anos, a dona do anel viu algo brilhando no canteiro da horta. Curiosa, puxou a planta; ali estava o anel abraçado a uma cenoura.
O patinador australiano
Steven Bradbury batalhou, invejavelmente, pela sua vocação. Começou a patinar no gelo aos 8 anos. Não teve patrocinadores, sobrevivou fabricando patins, até para os adversários.
Nas olimpíadas de 1994 sua equipe conquistou a medalha de bronze. Numa competição no Canadá, a lâmina de um outro atleta, ao cair, cortou-lhe profundamente a coxa, perdeu rios de sangue com um corte de 111 pontos. Depois de meses de fisioterapia, Steven conduziu a tocha olímpica de Brisbane a Sydney.
Quanto mais difícil o caminho, mais forte a vontade de continuar. Steven, em 2000, fraturou duas vértebras cervicais, quando treinava. Ficou 6 semanas imobilizado.
Muita garra e um tanto de sorte levaram-no às semifinais das olimpíadas de Salt Lake City em 2002. É que nas quartas de final dos 1000m os dois primeiros colocados se chocaram e foram eliminados. Incrivelmente na semifinal houve outra colisão entre os primeiros colocados e Steven ficou em segundo lugar, qualificando-se para a disputadíssima final.
Steven sabia que não teria chance entre aquelas quatro feras: Apolo Anton Ohno (USA), Li Jiajun (China), Kim Dong-Sung (Coréia) e Mathieu Turcotte (Canadá). Se se juntasse ao bando, correria sério risco de se machucar mais uma vez. Então fez a inteligente opção de ficar atrás e se divertir naquela final.
Nesta escolha, o australiano demonstrou ser, além de valoroso atleta, uma pessoa com a grande qualidade de reconhecer as próprias limitações. Ao invés de desanimar-se, quis aproveitar intensa e alegremente aquele momento. Steven foi recompensado regiamente pelo padrinho-destino: última curva, a torcida enlouquecida… na arrancada final, os quatro primeiros se embolam e caem espalhados na pista… Steven alcança, majestoso, seguro, feliz, a marca dos vencedores.
Ao receber a primeira medalha de ouro em patinação para a Austrália, Steven declarou com um largo sorriso: “Fate is still smiling at me!” [em tradução livre, “o destino ainda sorri para mim!”]