África do Sul – Joanesburgo, Sabie

O aeroporto tem uma longa passadeira com as efusivas cores da bandeira sul-africana. É um toque bem especial. Um elefante de vidrilhos, em tamanho natural, sinaliza a beleza selvagem desta terra.

Nas imediações do aeroporto, o cassino “Las Vegas of Africa”, majestoso, enorme, justifica o nome. Há muitos outros na rodovia para Sabie, para onde fomos, fugindo da cidade grande. A rodovia privatizada é excelente, com farta sinalização e quatro pistas. Os pedágios são constantes.

Depois de quase 400km, com boas paradas, chegamos a Sabie, a nordeste de Joanesburgo. O Hotel Böhm’s Zeederberg, com 10 confortáveis chalés está em meio a um jardim luxuriante e 360 graus de verde repousante.

O Kruger National Park — uma das entradas é por Sabie — com quase 20 mil quilômetros quadrados, era o habitat original dos animais e foi transformado em reserva muito bem organizada. É um santuário cheio de pássaros onde as girafas são muito elegantes e as zebras tem uma pelagem de seda. Elefantes, leões, búfalos, javalis nem dão confiança para os turistas. Os macacos gibões, numa grande árvore, brincavam, se coçavam e catavam o pêlo uns dos outros, carinhosamente. Um bom exemplo para os humanos! 🙂

As manadas de antílopes impalas são um encanto! São capazes de saltar, com aquelas pernas-palito, 10m de distância e até 3m de altura. Aterrissam seguramente nas patas dianteiras por meio de uma conformação especial de ombros, sem clavículas! São tão adaptados ao ambiente que não sofreram modificação nos últimos 30 milhões de anos. Os jardins zoológicos são prisões e, por isto, nem deveriam existir. Já as reservas podem ser úteis à conservação e estudo das espécies.

Infelizmente, mesmo com modernas precauções, ainda há caça ilegal e matança de rinocerontes. Os criminosos entram pela fronteira de Moçambique e, só no ano passado, abateram quase 1000; os consumidores ávidos por supostos afrodisíacos (!) preparados com chifres e ossos são, principalmente, asiáticos. No Kruger Park constata-se o nível avançado dos animais ditos irracionais; com tal matança, instala-se a certeza da inferioridade dos arrogantes humanos…

As outras atrações de Sabie são a “God’s Window“: um paredão gigantesco, mais de 1000m de precipício, de onde se estendem as matas, as montanhas até o infinito. É mesmo a janela do paraíso; outra é o surpreendente Blyde River Canyon, uma profunda formação de cavernas, panelões, alisadas e formadas pelo rio Blyde e suas cachoeiras. Este canyon é magnífico!

África do Sul – KwaZulu-Natal

De volta à África do Sul. Agora na terra dos Zulus, uma importante e tradicional etnia africana. Natal é o antigo nome de Durban, a grande cidade da região.

A língua dos Zulus é sonora, com sílabas sibilantes, com cliques adotados da musicalidade nativa dos bosquímanos (Khoisan) e, claro, impronunciável para a maioria de nós. Os Zulus ainda são polígamos. Lobola/Lobolo, o equivalente ao dote, não é, em absoluto, pagamento pela noiva. É uma cerimônia complexa, significativa, com a participação das famílias; dura muitos dias, com danças e boa comida. Lobola é um tipo de indenização à familia da noiva, que perde um bom par de braços. Pode ser parte da colheita ou do gado, ou presentes para a família.

Muito interessante e nos faz pensar sobre as profundas diferenças culturais foi a questão de um Zulu para a nossa guia alemã; um carinha, intrigadíssimo, quis confirmar os rumores de que os alemães tinham apenas uma esposa. Ao ouvir a resposta afirmativa, o Zulu, com uma expressão de incredulidade e desapontamento:
                          “Ah, coitados! Deve ser muito triste a vida deles…”
Outro motivo de sério estranhamento foi quando percebeu a presença de solteiros e casais sem filhos nem parentes:
                          “Vocês viajam e deixam todos os outros em casa?!”

Visitamos Pongola, um vilarejo onde a agência de viagem Studiosus mantém uma excelente escola primária. A escola Sakhumuzi, com 500 alunos, inteiramente gratuita, tem laboratório de química, informática e todo o material escolar. Recentemente a fundação Studiosus construiu mais duas confortáveis salas de aula. Os alunos aprendem inglês, zulu e africâner — três das 11 línguas oficiais da África do Sul. É um trabalho magnífico. A diretora idealista, muito alegre, é uma visionária e os demais professores parecem gostar muito de ensinar ali. As famílias tornaram-se maiores depois da implantação de um tipo de bolsa-família pelo presidente Zuma, cuja carreira e métodos políticos populistas são bem parecidos com os de Lula.

As crianças, de idades variadas, apresentaram um espetáculo muito agradável, bonito, de danças e cantos. A visita a essa escola nos trouxe uma boa dose de otimismo.

O almoço na Casa Mia, um pequeno hotel cuja proprietária é do conselho da escola, foi delicioso, com serviço excelente. A simpática cozinheira veio ensinar a receita do gostoso bolinho de moranga com canela.

Suazilândia

Suazilândia — Swaziland — é um país de etnia Swazi, limita-se com a África do Sul e Moçambique. É uma monarquia absolutista, cujo rei, de 46 anos, tem 15 mulheres e muitas mordomias! E, claro, o povo é muito pobre, o índice de infectados-HIV é o mais alto do continente. Cruzamos com bando de crianças perambulando pela estrada.

A Suazilândia mantém uma reserva de rinocerontes reintroduzidos no país, onde já se extinguiram pela caça ilegal. Há outros animais selvagens e os safaris são fontes de divisa. Causam mal estar as cercas elétricas, em certos pontos, dividindo o espaço dos elefantes.

A estrutura dos parques da África do Sul é incomparavelmente superior; aliás, é gritante a diferença cultural, econômica e de educação entre os dois países. A África do Sul é muito desenvolvida, invejavelmente limpa e aproveitou bem os pontos positivos da colonização. Na Suazilândia, os governantes nativos espoliam o próprio povo, reduzindo-o a uma etnia miserável.

P1080948Há umas árvores bem altas e dezenas de ninhos dependurados; é surpreendente observar a movimentação dos pássaros-tecelões na construção elaborada das suas “casinhas”, numa coreografia maravilhosa.

P1080967Uma outra atração é um hotel no meio da Mkhaya Game Reserve. Os chalés de pedra têm por divisórias apenas cortinados; há ducha com água quente a gás e banheiro completo. A cobertura é um cone muito alto de sapé, aparado milimetricamente e muito bem feito. Não há energia elétrica e o céu estrelado é inesquecível.
O jantar — carne de antílope — ao ar livre, com uma fogueira no centro, é muito bom. Com a sobremesa vêm as danças e músicas étnicas. O pessoal é atencioso, o serviço de primeira, inclusive com toalhinhas úmidas para as mãos.

Acorda-se com uma xícara de café, ainda na cama, para a saída do safari. É uma palavra suaíli, o idioma bantu mais falado na África, significa “viagem”.

Saímos sob “os dedos róseos da alvorada“, na poética descrição de Homero na Ilíada. perfeitamente aplicada aqui.

Os rinocerontes… bem… resolveram não comparecer ao encontro… 🙂 uns dois lá longe… só com binóculo!

Yellowstone, Parque em Wyoming…

…limitando-se com Montana e Idaho; o caminho para Yellowstone já anuncia o esplendor à nossa espera. As montanhas cobertas de pinheiros e árvores vermelho-douradas antecipam as muralhas e canyons espetaculares! Uma curva descortina extensos e esverdeados campos de feno. Os morros aveludados se perdem no horizonte.

A entrada no parque é o belíssimo e azul Lago Yellowstone. Há excelentes hotéis no parque; o mais famoso, Old Faithful Inn, é uma antiga e imponente construção (1903-1904) de madeira, com troncos retorcidos dando-lhe um aspecto original; sua localização é privilegiada: cercado por incríveis e borbulhantes gêisers. Aliás, uma das grandes atrações de Yellowstone são os incontáveis, coloridos, variados e altíssimos jatos de água quente para os céus. Estes gêisers com o fundo em cores brilhantes – turqueza, amarelo, verde, vermelho – são o surpreendente resultados das câmaras de magma subterrâneas.

Yellowstone originou-se de uma erupção vulcânica há 600 mil anos; ninguém acreditava quando os forasteiros contavam sobre estes “rios de fumaça para o céu”… eram considerados delírios ou histórias de pescador… mais tarde, os gêisers eram “coisas do demônio”! São deslumbrantes e, realmente, inacreditáveis estes bolsões que transformam e colorem a superfície!

A estrutura do parque é ótima, além de trilhas e passarelas de acesso a todos os cantos há estradas asfaltadas que percorrem grande parte do parque. Apesar disso, exige-se um bom condicionamento físico para aproveitar das belezas do parque.

Há, ainda, muitos animais selvagens no Yellowstone. Uma experiência muito inteligente é o resgate dos lobos que, na década de 1920, foram dizimados por caçadores do próprio parque. 🙁 Atualmente, os lobos que foram reintroduzidos no parque já contam com uma população de quase duas centenas.

No Yellowstone há muitos rios que se transformam em imponentes cachoeiras; a “Lower Falls”, por exemplo, despenca (94m!), ruidosamente, em uma longa e funda garganta de rochas sinuosas e coloridas apertando o rio turquesa lááá embaixo, formando um canyon de aproximadamente 300m de profundidade, este sim, indescritível e nos faz duvidar dos próprios olhos. A beleza do Yellowstone supera tudo nesta terra. A gente se sente transparente, com uma saudável incapacidade diante desta natureza forte, sábia e indomável!

Insônia — não tente vencê-la!

Não há pretensão alguma de examinar um tema tão vasto e complexo. Cabem aqui as considerações interessantes do filósofo norueguês Jon Elster, citado por Juan Antonio Rivera, in “O que Sócrates diria a Woody Allen (2004, Ed. Planeta), sobre a obsessão de certas pessoas com a insônia. Perseguir uma boa noite de sono é receita certa para o inverso:

  • a pessoa tenta esvaziar o pensamento, num esforço incompatível com a “ausência de concentração que se está tentando conseguir”;
  • a pessoa se coloca num estado de pseudo-resignação à insônia: uma leitura, TV, bebida, etc.. É a tentativa inútil de enganar a insônia… 🙂
  • finalmente, a autêntica resignação baseada na convicção, na certeza de que a noite será eterna e malvada; há a entrega, a luta acabou. Neste momento, o sono chega!

Jon Elster, com lucidez, compara esta situação com aquela em que perseguimos certos objetivos inatingíveis. Isto porque são subprodutos, assim como a serragem, quando se serra a madeira. A serragem vem gratuitamente e vale muito menos, mas não podemos obtê-la diretamente, como o sono e a felicidade, mesmo se concentrando e colocando todos os cinco sentidos em ação.

O sono, a felicidade, o desejo de se apaixonar, o aumento de auto-estima, o esquecimento de uma perda, entre uma infinidade de estados, não virão através de processos racionais, de metas programadas, de exercícios deliberados… porque tudo de bom nesta vida é de graça: é essencialmente subproduto. Esta “serragem” está ligada ao mais íntimo de nós.

O filósofo e economista inglês do séc.XIX John Stuart Mill já descobrira que a busca da própria felicidade é estéril. A única opção — o pulo do gato — é escolher um outro fim, escolher um outro objetivo como propósito de vida. A partir daí, o subproduto virá de mansinho, sem alarde, em silêncio: aí sim, a “serragem” da felicidade chegou!

Movimento Nossa BH

Um sonho para Belo Horizonte

Para BH, meu sonho
é simples e tristonho.
De enorme relevância,
e ninguém dá importância.
É óbvio degrau da educação
desprezado e inacessível.
Adivinhou o sonho impossível?
BH sem lixo na rua, na fonte
sem água servida
sem restos de comida
na triste avenida
no feio horizonte.
Este sonho terá saída?
Duvido. Depende somente
tão só, exclusivamente,
de cada cidadão
sem exceção!

Copyright©2014 Maria Brockerhoff

De Papel Passado

Somos donos dos dias
cheios de carícias.

Somos donos da noite
embalada pela chuva.

Somos donos da magia
ímpar do presente.

Somos donos de um mundo
cercado de hortelã.

Somos donos do amanhecer
de mãos entrelaçadas.

Somos donos da química
irresistível do corpo.

Somos donos da morte
do riso e do amor!

Copyright©2013 Maria Brockerhoff