Haicai – poema japonês

Haikai, haiku ou haicai é uma forma de canto; é aparentemente simples mas profundo, delicioso.

Ressalvadas as diferenças semânticas e a tradução, o poema japonês — adaptado, claro, a cada cultura — é um lampejo, uma forma de meditação, capta o silêncio, o efêmero, o eterno…

Numa linguagem depurada, o haicai não explica, flui.

Suas origens são muito antigas, provém do tanka, do renga, uma sequência de estrofes. O grande Bashō (1644-1694) é o mestre desta arte; de seu discípulo Issa (1763-1826):

Crisântemos florescem
junto ao monte de estrume
uma só paisagem

O haicai sempre teve 17 sílabas ou sons — 5, 7, 5 — diz o máximo em 3 linhas; não é provérbio ou “pensamento”; pode ser ironia, introspecção, humor, sempre traz um “encanto intraduzível” (conforme Afrânio Peixoto, 1919) ou, como bem definiu Paulo Franchetti, “com o mínimo obtém-se o suficiente”.

Osório Dutra (1889-1968) afirmou que a poesia do Japão era pobre e o haicai fruto desta pobreza… estariam verdes as uvas…?

Importante mesmo é saborear o haicai dos bons autores:

Borrão azul
na brancura da página
o poema
Albano Martins, 1930

Festa das flores
acompanhando a mãe
uma criança cega
Herberto Helder, 1930

As flores tantas
o outono
nem sabe a quantas
Paulo Leminski, 1983

Tem cautela
ajuda o sol
com uma vela
Millôr Fernandes

O pato, menina
é um animal
com buzina
Millôr Fernandes

Microcontos (140 caracteres)

As crianças são terreno fértil; recebem indiscriminadamente presentes, honras, mercês, agrados, lisonjas, exceto limites. Crescem ditadores.

Guarda-velhos: clínicas onde filhos depositam os pais. Espoliados da esperança e sugados pela ambição. Juízes cúmplices concedem interdição.

O preso cabisbaixo. Policiais enxotaram todos do velório. Silêncio de pedra. Mãos algemadas às costas. O rapaz roçou o rosto na face da mãe.

Copyright©2010 Maria Brockerhoff

Ah! mulheres…

Os vestidos do mesmo modelo da namorada do príncipe William, da Inglaterra, desapareceram das vitrines de lá e daqui (!) também. Mais de 300 vestidos da mesma “griffe” foram vendidos, a um preço médio de mil dólares, imediatamente após a imagem na TV.

Há pessoas que já nascem pra ovelhas… faltava apenas o pastor!

Um Homem Que Grita…

…é um grito interior, triste, sem esperança, desesperadamente solitário.

O filme retrata a guerra civil no Chade. No país africano paupérrimo, populoso e, claro, o mais corrupto do mundo, os rebeldes se instalaram há 30 anos e, desde então, as novas rebeliões se sucedem. Em 2008, época do filme, o caos continua com multidões buscando saída para os países vizinhos.

O diretor nativo, Mahamat Saleh Haroun, de sensibilidade ímpar, também ferido numa das escaramuças, mostra sem retoques o cotidiano de uma família. É um mundo diferente, mas o drama, as injustiças, as desigualdades, o medo, a busca, as dúvidas, as traições, são comuns e presentes onde houver ser humano.

O filme é silencioso, duro, lento como o sofrimento, sem panos quentes. Deve ser visto.

O momento em que a atriz (ela própria, cantora) entoa um lamento no dialeto é emoção pura. Infelizmente, na platéia, algumas pessoas riem e conversam… estão muito aquém da profundidade do filme. Ou disfarçam o desconforto?

A cena final forte diz tudo, sem uma letra, sobre a inexorabilidade da vida… é uma imagem na retina para sempre.

Cecília Meireles

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente ondas.
Sabendo bem que eras nuvem, depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil
fiquei sem poder chorar quando caí.

Leptis Magna, Líbia – Copyright ©2006 Rainer Brockerhoff

Ano Novo

ano novo?
novo apenas o ovo…
tudo o mais
está manchado
está corroído
está moído

novo apenas o ovo…
tudo o mais
está gasto
está sujo
está podre
está roto… o odre

Copyright©2011 Maria Brockerhoff