Mario Vargas Llosa

Travessuras da Menina Má

Mais um presente deste peruano idealista que, um dia, sonhou em apontar outros rumos ao Peru. Como já aconteceu e se repetirá incontáveis vezes, o povo preferiu o caminho falacioso e inconsequente apresentado por Fujimori… deu no que deu. 🙂

Bem, interessa-nos agora as peripécias de um grande amor retratadas de uma forma envolvente; Vargas Llosa consegue realizar o desejo máximo de um escritor: manter o leitor preso irresistivelmente às suas páginas.

A trama tecida por Vargas Llosa se passa em Lima, Paris – aqui, os endereços conhecidos acrescentam uma atração a mais – e Londres; retrata magistralmente as transformações sociais da época dos hippies, da revolução cubana, das origens do movimento Túpac Amaru. Para quem leu outros livros de Vargas Llosa pode-se reconhecer claramente traços autobiográficos e isto enriquece a leitura.

Interessante também uma outra faceta do livro: os motivos, as pulsões, as escolhas dos personagens rendem assunto para tardes inteiras numa boa roda… de uma forma ou de outra todos nós estamos lá!

Jean-Yves Leloup: Os pés

Observando os pés podemos sentir se há problemas: são muito frágeis, há ferimentos ou marcas, os odores são agradáveis ou não; os pés podem responder as questões sobre o prazer de viver, de sentir prazer e amar. Há pessoas que nunca sentem prazer. Esta sensação é dificil para elas.

Os pés são raízes; se recebemos raízes talvez possamos transmiti-las aos outros. Os pés têm plantas; a “planta dos pés” clama por raízes:

— de onde venho? Nunca me sinto em meu lugar? É dificil, para mim, ter os pés na terra? O meu mundo não é a minha pátria, minha mátria… É necessário reencontrar os nossos dois pés, os dois pés na terra…

Para o psicólogo Paul Diel, o pé é o símbolo da nossa força. É o suporte para permanecermos eretos.

Hermes, o mensageiro dos deuses, tinha os pés alados. Esta simbologia é a da individuação. Podemos passar do pé de Édipo – do grego Οauuδίπους, ter tornozelos inchados – para o pé alado de Hermes. É o caminho da transformação!

Os cuidados, os banhos, as massagens ajudam a escorrer as fadigas e tensões dos pés, para as pessoas doentes é um verdadeiro alívio.

Se escutam a terra, os pés nos enraizam. Na África, o pé é o ponto de apoio do corpo no mundo. É um símbolo de poder. Se os pés estão bons, a cabeça funciona bem.

E Leloup conclui: o equilíbrio do corpo depende de nossas raízes, se o enraizamento é sadio, toda a árvore é sadia!

(vide resenha anterior de O Corpo e Seus Símbolos)

Poema

Guilherme de Almeida

Minha melhor lembrança é esse instante no qual
Pela primeira vez me entrou pela retina
Tua silhueta provocante e fina
Como um punhal.

Depois passaste a ser unicamente aquela
Que a gente se habitua a achar apenas bela
E que é quase banal
Agora que te tenho em minhas mãos e sei
Que os teus nervos se enfeixam todos em meus dedos
E os teus sentidos são cinco brinquedos com que brinquei
Agora que não mais me és inédita
Agora compreendo que tal como te vira outrora
Nunca mais te verei…
Agora que de ti por muito que me dês
Já não podes dar a impressão que me deste
A primeira impressão que me fizeste.
Louco talvez
Tenho ciúme de quem não te conhece ainda
E cedo ou tarde, te verá, pálida e linda
Pela primeira vez!

Museu John Kennedy

Dallas desperta a curiosidade sobre o assassinato.

O prédio de 7 andares, estrategicamente na esquina, era um depósito de material escolar, onde Lee Oswald fora trabalhar 40 dias antes (!). Perto da janela do 6º andar ainda estão empilhadas as caixas de livros (cercadas por vidro temperado) que serviram de apoio e mira.

O prédio todo foi transformado em museu e conserva a aura de suspense e mistério.

É muito interessante acompanhar a trajetória dos ilustres visitantes, o contraste entre o povo vibrando nas ruas, a elegância de Jacqueline, o recebimento de flores, os acenos e efusivos cumprimentos e, segundos depois, o imponderável (ou não?) desfecho na curva da Elm Street com Dealey Plaza. Há marcas (X) na pista onde os tiros alcançaram o presidente.

Este filme já foi visto inúmeras vezes, ainda assim, a sequência dos acontecimentos e a tragédia ainda é emocionante. Já foi dito que Jacqueline – ela disse não se lembrar absolutamente – foi de gatinhas recolher os miolos de Kennedy; contudo, a intenção era ajudar um segurança a subir no carro.

A visita ao museu mostra claramente:

  • o conflito entre as autoridades federais, estaduais e locais para lidar com o caso, prejudicando a investigação;
  • o corpo de Kennedy foi disputado “a tapas” do instituto médico legal por diferentes departamentos reivindicadores;
  • teorias divergentes sobre o número de balas; inexplicavelmente apenas uma bala foi encontrada na maca do hospital para onde foi levado o governador do Texas, gravemente ferido;
  • Jack Ruby – o assassino de Lee Oswald – tinha livre trânsito na delegacia que investigaria o caso;
  • a discordância sobre quais peritos fariam a autópsia e a escolha inicial de apenas um deles;
  • o trajeto do presidente, com a posição e o número de automóveis, foi publicado detalhadamente nos jornais com bastante antecedência.

Estas questões, dentre muitas outras, deixam mais dúvidas do que respostas. Ninguém poderá fornecer, com certeza, as conclusões elucidativas.

Curiosamente, consta John Kennedy ter comentado com Jacqueline “nós estamos numa terra de malucos;” (“nut country”, em tradução livre), “se alguém quiser me matar, ninguém poderá impedir”.

Fica, à saída do museu, a sensação de desperdício de vidas humanas e as imagens do funeral trazem profundo sentimento de desvalia…

Alice no País das Maravilhas

Vá ao cinema sem grandes expectativas, vá com disponibilidade para a aventura, para partilhar as peripécias de Alice com os seus amigos e inimigos, para se emocionar com o chapeleiro maluco e brincar de bandido e mocinho!

Uma curiosidade histórica: frequentemente os chapeleiros eram considerados malucos; eram experts em chapelaria de madames e, por isso, todas as excentricidades eram validas para agradar a “cabeça” feminina.

Talvez seja este o motivo mais forte da piração dos chapeleiros! 🙂 Porém, mais tarde descobriu-se que o infortúnio dos chapeleiros era causado pela absorção, pelas vias respiratórias, dos vapores de mercúrio, quando as peles para os chapéus eram curtidas.

Vamos ao filme: os efeitos especiais são engenhosos.
A versão de Tim Burton apresenta uma inteligente comparação entre os mundos: o dos sonhos e o mundo real. Daí a boa idéia de Alice já moça.

Nos sonhos, Alice aprende a lição fundamental: a escolha pessoal e intransferível de conduzir o próprio destino; certa disso, consegue vencer a hipocrisia e as convenções vazias do mundo dos lordes… o mesmo mundo de hoje.

O filme retrata bem a situação do casamento, ainda comum: é a porta de saída para a mulher, principalmente; através de um custoso evento social os pais concedem a alforria aos filhos; a partir daí os jovens embarcam numa relação, muitas vezes, insatisfatória; os corajosos conseguem se libertar e alçar vôo… é a grande façanha de Alice.

Ah! Não perca os créditos finais. São apresentados numa moldura, onde vão surgindo surpresas… os apressadinhos perdem…

A Cabana

Penso ser preocupante este livro, de W. P. Young, ocupar o primeiro lugar em vendas na última semana na lista da Livraria Leitura.

Certamente o marketing de promoção do tal é o melhor do mundo! Conseguiu uma vendagem extraordinária para um livro medíocre. Há tantos livros nacionais mais úteis, mais divertidos e substanciosos.

A Cabana foi reescrita quatro vezes antes de ser recusada por 26 editoras. Finalmente, dois produtores de cinema criaram uma editora e, então, publicaram o barraco (ops!).

A primeira parte tem enredo razoável, mas o desenrolar da visita ao casebre é piegas; o consolo é uma sequência de chavões e duvidosas respostas de cunho religioso; a solução do crime é um mix de revelação sobrenatural, adivinhação e muitas coincidências… inclusive a conservação de indícios por um tempo longo.

Há quem diga que é um livro “para os sofredores”; gosto não se discute… lamenta-se.

Outros o indicam como auto-ajuda, parece ser este o grande lance marqueteiro: o livro trará a receita para todos os males da tristezas…

Para as Erínias, o sofrimento, às vezes, é inevitável, mas o masoquismo é opcional!

Os bons livros de “auto-ajuda” são os de Amyr Klink, família Schürmann, Oliver Sacks, Guimarães Rosa, João Ubaldo Ribeiro, Arnaldo Jabor, Isabel Allende e outros maravilhosos! 😉

São depoimentos corajosos e inspiradores, idéias inteligentes; pessoas que escolheram o próprio caminho e assumiram as responsabilidades.

Este livro é puramente comercial; nisto foram muitos bons; inclusive criaram um site de relacionamento com “Missy”, a personagem desaparecida… …argh!

Doris Lessing

Sou assaltante de livros: se a vítima está nas mãos de um amigo sem tempo para ler ou aguardando o próximo final de semana para isso, zás! tomo-o de assalto e cumpro o prometido, devolvo o volume encapadinho dois dias depois.

O último butim foi As Avós de Doris Lessing, inglesa, nascida na antiga Pérsia, de 91 anos.

O livrinho (os autores devem se arrepiar com o diminutivo) somente pelo volume bem fino, é instigante, profundo. Descreve um invejável estado de felicidade e a solução amorosa dos amantes incomuns.

Mostra, com maestria, o emaranhado das relações humanas, assim como quem não quer nada… sem lições… sem propósitos… Lessing se dá ao luxo de, às vezes, deixar no ar frases do diálogo!

Do assunto “avós” passa longe. Li, reli. Ao terminar voltava ao início consecutivamente.

A cada leitura um novo ângulo, um outro lado do personagem, uma faceta não apreendida…

Quem já aprendeu a ler subtextos enxerga a interpretação que Lessing dá ao esquecido adágio “os incomodados que se mudem”. É que, nos triângulos desamorosos, quando a pessoa tem a sensacão de não pertencer ao grupo, à tribo, ao mundo do parceiro e não sente ter importância naquele ninho, se tiver auto-estima, bate em retirada! Irá buscar o seu lugar afetivo longe dali, sem exigências, sem “indenizações”.
Se, ao contrário, for ressentida e invejosa tentará destruir o parceiro, o grupo, a tribo… não importam as feridas, os golpes, ainda que na própria pele… Lessing demonstra, com lucidez, estas duas escolhas.

Este é apenas um dos insights que o livro provoca… há muitos outros… descubra-os!

Língua à Brasileira – S.O.S.

Pobre Língua Pátria! Assaltam cada vez mais o coitado do vocábulo plural: juntos.

Insistem em tirar-lhe a última e valiosa letra S!

Influência do Planalto Central, o comedor-mor de SSS?

Exemplos corretos, onde o plural é rigorosamente exigido:

  • Saímos juntos.
  • Meu namorado e eu moramos juntos/fomos morar juntos.
  • Fomos juntos/juntas ao cinema.
  • Assinamos o contrato juntos.
  • Os amigos foram ao aeroporto juntos.

Sempre que houver mais de uma pessoa ou coisa, usa-se o plural juntos/juntas.
Exemplos corretos:

  • As sandálias estão juntas embaixo da cama.
  • Coloquei juntos no prato o arroz e o feijão.
  • Sentaram-se juntos os noivos e os pais à mesa.
  • Os soldados e o povo cantaram o hino nacional juntos.
  • Faremos a peça juntos/juntas.

Se for singular, aí sim, será correto o uso junto (aqui sem s):

  • Vai sair? Irei junto com você (Veja o plural: iremos juntos/juntas até ao porto).
  • O casal voltou junto de táxi (Veja o plural: Os dois voltaram juntos de táxi).
  • O pessoal saiu junto em procissão. (Veja o plural: as pessoas sairam juntas em procissão).

Basta um pouco de atenção e o nosso Machado de Assis não levará tantos sobressaltos…

Calendário Chinês

O calendário chinês é o mais antigo registro cronólogico que há na história, começa em 2637 A.C.

Segundo a lenda, Buda chamou todos os animais à sua presença antes de partir da terra; somente doze vieram dizer-lhe adeus. Em recompensa, Buda deu a cada ano o nome do animal na ordem em que chegaram:

rato (“Shǔ” 鼠); boi (“Niú” 牛); tigre (“Hǔ” 虎); coelho (“Tù” 兔);
dragão (“Lóng” 龍); serpente (“Shé” 蛇); cavalo (“Mǎ” 馬); carneiro (“Yáng” 羊);
macaco (“Hóu” 猴); galo (“Jī” 雞); o cão (“Gǒu” 狗); o porco (“Zhū” 豬).

Assim temos os doze animais-signos da atualidade; o animal regente do ano em que você nasceu, dizem os chineses, exerce profunda influência sobre a sua vida: “esse é o animal que se esconde em seu coração”.

Cada um dos signos-animais aparece combinado com um dos cinco elementos principais: madeira, fogo, terra, metal e água.

O calendário chinês é curioso; traz, em si mesmo, boa dose de humor; é ótimo assunto numa roda e costuma desmonstrar as mais interessantes coincidências.

O calendário lunar oriental registra, com mais acertos, as mudanças das estações e os fazendeiros chineses o usavam para procurar os dias mais favoráveis à semeadura, colheita e previsão de chuvas.

Ainda hoje, muitos ainda o consultam para saber a época mais propícia para construir a casa, para o casamento, para uma decisão importante e, principalmente, para os festivais chineses.

O calendário chinês é enriquecido pelas interpretações de adivinhos chineses, lendas, mitologias e livros bem antigos.

Podem-se fazer divertidas e, às vezes úteis, observações entre a maneira de ser dos amigos e as características do signo-animal correspondente. Por exemplo:

  • aquele cliente caprichoso e volúvel deve ser do ano do cavalo;
  • as pessoas nascidas no ano do carneiro “comem papel”, ou seja, esbanjam dinheiro;
  • os nativos de serpente são encantadores, mas também podem ser frios e impiedosos;
  • aquele tio, capaz de consertar tudo, nasceu no ano do habilidoso macaco;
  • o marido lento, conservador e seguro pertence ao fidedigno boi;
  • alguém confiável e diplomata é coelho;
  • o otimista é tigre;
  • o forte é dragão;
  • o infatigável é rato…

Curiosidades:

  • Ano do boi: Adolf Hitler; Charlie Chaplin;
  • Ano do coelho: Albert Einstein; Fidel Castro; Josef Stalin;
  • Ano do Dragão: John Lennon; Ringo Starr;
  • Ano da serpente: Pablo Picasso, Johannes Brahms, John Kennedy, Indira Gandhi;
  • Ano do cavalo: Barbra Streisand; Paul McCartney.

Se quiser saber sobre o seu signo-animal, coloque a data de nascimento, se possível a hora, no comentário. As Erínias adoram uma boa brincadeira 🙂