Terapia Hoffman

Melhor que uma livraria, só o sebo! Nas escavações, com aquele cheiro peculiar, é possível descobrir livros já perdidos e injustamente abandonados.

A gente vai pulando de pilhas em pilhas e a tarde se esvai num virar de páginas…

Do fundo da estante aparece Bob Hoffman, autor de “Terapia Hoffman da Quaternidade” (1982).

Para quem vivenciou a “febre do Processo” em Belo Horizonte, é ótimo para matar as saudades. Foi uma fase interessantíssima; ninguém ficou indiferente.

Ainda que a origem da técnica de Hoffman tenha sido mensagens recebidas de um neurologista falecido, Dr. Siegfried Fischer, fenômeno no qual não acreditamos, a técnica e métodos não podem ser invalidados. Os resultados são surpreendentes e especialistas recomendam “uma leitura crítica, análise e investigação”, pois no progresso científico não tem lugar para verdades absolutas. Porém não é esta a questão destas linhas.

Queremos relembrar aos participantes e apresentar para quem não conhece a aventura do Fischer-Hoffman.

Bob esteve aqui em Belo Horizonte; era cordial, simpaticíssimo, de um bom humor contagiante e irresistível. O Processo se espalhou pelo Chile com Claudio Naranjo, Espanha, Israel, Índia, Estados Unidos e, claro, Brasil.

Era uma maratona de 13 (!) semanas. Depois, este esquema foi bem reduzido. Preferencialmente, os participantes teriam de ficar, nestas semanas, longe da família… amigos se hospedaram nas casas uns dos outros e as experiências compartilhadas intimamente.

O Processo se fazia por estágios e só se passa ao seguinte se bem resolvido o anterior. Havia acusação e defesa da mãe e do pai separadamente. Havia, inclusive, o catártico enterro simbólico da mãe e do pai, que levavam consigo o amor negativo.

Os pais são absolvidos e a hostilidade infantil a eles desaparece totalmente. (pag.92, 1ª Ed. Bras.)

Havia, ainda, o renascimento em que o divórcio amoroso da mãe e do pai se confirmam. O ponto culminante era a festa para as brincadeiras, preparada com carinho, onde tudo é repartido. Os que não sabiam, ou não conseguiam brincar, são contagiados e participam.

O Processo descobre o “eu alegre, escondido há muito tempo”; saber ou aprender a brincar juntos é um bem valioso. Se a criança não experienciou “a brincadeira positiva”, é impossível desfrutar a riqueza do divertimento adulto (pag.182, op.cit.).

Testemunhamos em amigos e em nós mesmos mudanças profundas depois do Processo. Bons tempos, boas lembranças!

Jean-Yves Leloup

…é maravilhoso da cabeça aos pés! Dá gosto ler e ver…

No livro O Corpo e Seus Símbolos (a edição poderia ser bem melhor; a revisão também; o conteúdo valioso merece maiores cuidados), Leloup diz:

há palavras que permanecem presas em nossa garganta e nos impedem de respirar […] pode ser uma palavra de reprovação, de medo, mas pode ser também uma palavra de amor. […] O papel da psicanálise é encontrar a palavra e o jeito de dizer essa palavra. […] E o papel do terapeuta é o de convidar a pessoa a deixar sua palavra nascer. Não a palavra dos pais, não a palavra da sociedade, não a palavra herdada de todo um passado, não repetições, mas encontrar […] o seu próprio nome. E conhecer, então, o próprio desejo.

Para isso

[…] precisamos sair do desejo de nosso pai, do desejo de nossa mãe. […] do desejo proposto pela sociedade. […] é preciso sair das palavras que aprendemos, das palavras que nos impuseram. Às vezes, é apenas um sussurro que nasce em nós. Não é um rio caudaloso […] mas é como um pequeno regato de águas límpidas.

Heloísa Schürmann – Sempre um Papo

Para a velejadora acostumada a domar ondas e ventos fortes, a tempestade de verão, pouco antes do “papo”, deve ter sido amigável e refrescante…

A autora lançou, no programa “Sempre um Papo“, o livro “Pequeno Segredo – a lição de vida de Kat para a família Schurmann”. Antes publicara “Dez Anos no Mar” (1995), “Um Mundo de Aventuras” (2000) e “Em Busca do Sonho” (2006).

Heloísa se mostra tão disponível, bem-humorada, e o seu abraço é um aconchego, um acolhimento imediato; assim, sentimo-nos como se já a conhecessemos há muito. Daí já se pode imaginar a aceitação incondicional da filha Kat.

Esta rica história deveria mesmo ser contada. Nenhuma ficção poderia tecer os fios entrelaçados destas vidas. Todas as pessoas envolvidas e sensíveis cresceram naquela situação, se transformaram e, em ondas sucessivas, transmitiam calor humano, dedicação e responsabilidade.

Sabemos das contradições e falhas da natureza humana e neste livro pudemos vivenciar, com a família Schürmann, a extensão dos preconceitos, dos julgamentos, das “verdades” pré-estabelecidas. Contudo, a força maior foi — e continuará sendo — o resultado positivo da alegre, intensa e fecunda vida de Kat, apesar de muito breve.

O mais importante foi a lucidez da família na educação e convívio com a pequena e inteligente menina. Com eles, Kat pôde, sem superproteção, se desenvolver plenamente, pôde aproveitar ao máximo de todo o mundo de viagens, experiências e aprendizagem.

O bom leitor — aquele que lê nas entrelinhas e/ou apreende o subtexto — pode perceber, através do estilo leve — não superficial — da autora a profundidade do drama, as incontáveis dificuldades e os percalços não escritos, mas superados.

O lúcido capitão Vilfredo, Heloísa, esta mulher forte, e os dedicados rapazes são admiráveis exemplos.

Felizmente em novembro de 2013 estarão se lançando ao mar em mais uma aventura enriquecedora… bons ventos!

Os livros de Heloísa nos inspiraram, muitas vezes, os roteiros de viagens exóticas. Visitamos as ilhas dos Mares do Sul e já chegamos até Brunei, seguindo os nossos sonhos, e as aventuras da, ainda bem, família “maluca” Schürmann!

Lançamento de livro

Ana Maria Mansoldo lança novo livro. O primeiro, “Ipês Amarelos” (2008), é uma coletânea de deliciosos contos.

12 de setembro de 2012, na Livraria Mineiriana, Belo Horizonte.

Fique Mais Jovem a Cada Ano…

…não, não é botox nem lipoaspiração nem máquina do tempo, muito menos plástica.

O livro do advogado Chris Crowley e do geriatra Henry S. Lodge traz uma abordagem científica e maravilhosa sobre a atividade física. Se você não se transformar imediatamente (!) é porque já morreu e não sabe. 🙂

O corpo é feito de carne, tendões, gordura, e de muitas outras partes que se desgastam e têm que ser renovadas constantemente. O interessante é que o corpo não fica esperando que uma ou outra parte se desgaste; o corpo a destrói no fim de determinado tempo e a substitui por outra nova. Não é fascinante?

Por exemplo, a sua perna está em constante renovação: as células musculares da coxa são substituídas inteiramente, uma por vez, a cada 4 meses; 3 vezes por ano, temos músculos novos. As células sanguíneas, a cada 3 meses, são repostas. As plaquetas, de 10 em 10 dias. As papilas gustativas são renovadas todos os dias. Os ossos, de dois em dois anos.

O entendimento mais atualizado é o de que a maioria das células está programada para morrer dentro de um prazo relativamente curto, porque este processo nos faz adaptar a novas circunstâncias e as células mais velhas tendem a ser cancerosas. Assim jogamos fora, de propósito, partes inteiras que estão em perfeito estado para começar o novo crescimento. Existem bilhões de células especiais cujo único trabalho é dissolver os ossos para que outras possam reconstruí-los. Segundo a belíssima imagem do geriatra Henry S. Lodge:

…é um processo idêntico ao da poda do outono, que serve para dar lugar ao crescimento na primavera.

Nem é preciso explicitar que o grande lance é promover mais o crescimento do que a destruição; está aqui a importância dos exercícios físicos. Através de toda a biologia e fisiologia destes exercícios o corpo aciona os mecanismos que reconstroem os ossos, os tendões, os vasos sanguíneos, o coração, enfim, toda a máquina humana.

Continua…

Fique Mais Jovem a Cada Ano (2)

Este livro nasceu de uma consulta para melhorar o condicionamento do advogado aposentado Chris Crowley e da programação e planejamento do geriatra Henry S. Lodge (Harry para os íntimos). Boa parceria, melhores resultados.

A prática de exercícios físicos coloca em movimento cascatas químicas quando começamos a transpirar. É neste momento que começam os ciclos de reparação nos músculos e nas articulações. Harry chama esta ação dos exercícios de “base da química cerebral positiva”.

Esta prática de exercícios vigorosos aumenta a qualidade do sono, melhora o sistema imunológico, reduz o excesso de peso, normaliza a taxa de insulina e queima de gordura, melhora a vida sexual, além de conferir resistência a ataques cardíacos, derrames, hipertensão, mal de Alzheimer, artrite, colesterol alto e depressão. Tais resultados são incrivelmente animadores, dá pra levantar defunto, não? 🙂

Agora, a “má notícia” é que basta deixar os músculos ociosos para que a decadência recomece. Assim, devemos nos exercitar diariamente. O stress provocado pelos exercícios razoavelmente intensos desencadeia um tipo de demolição do corpo e o reconstrói um pouco mais forte. A atividade física desgasta pequenas partes que precisam ser substituídas após cada utilização.

O processo dos exercícios no nosso corpo é semelhante a uma reforma da nossa casa, compara Harry. Os glóbulos brancos que começam o trabalho de demolição fazem como os profissionais que vêm com marretas, carrinhos de mão, latões de lixo, para por abaixo o velho reboco, abrir as paredes e devolver à casa suas fundações saudáveis. Terminada a demolição, instalam-se o crescimento e a reparação.

Este fator é tão significativo que, mesmo um fumante com excesso de peso, mas que pratica exercícios intensos diários, tem um índice estatístico de mortalidade inferior ao de um não-fumante magro mas sedentário.

Resumidamente, as citocinas (proteínas que controlam o processo inflamatório) estão trabalhando no nosso corpo, regulando o crescimento e a decadência em todos os tecidos e células. A citocina C6 é relativa à inflamação/decadência, a citocina C10 é relativa à recuperação e ao crescimento.

A C6 é produzida nas células musculares e na corrente sanguínea em resposta aos exercícios, enquanto que a C10 é produzida em resposta à C6. Este é o mecanismo brilhante existente no corpo para acoplar decadência e resistência. Em síntese, a C6 desencadeia a produção de C10: a decadência deflagra o crescimento.

Neste momento, espero ardentemente, você já deve estar de pé, preparando-se para uma corrida… 🙂

Freud explica… lapsos de linguagem

O processo dos lapsos de linguagem é interessantíssimo. Para quem os comete, o melhor é dar uma risadinha… explicar, justificar, apenas complica e constrange, pois são, indiscutivelmente, reveladores; para quem os recebe pode ser uma boa fonte de descobertas.

O livro “Psicopatologia da Vida Cotidiana” (ed. 1966 Zahar Editores) é delicioso!

Freud narra os próprios lapsos, os de outros psicanalistas e os de clientes, além de apresentar, claro, os valiosos e lúcidos fundamentos psicanalíticos.

Ficamos aqui com a parte lúdica de alguns lapsos de linguagem, leitura e escrita:

  • um cliente disse:
    “Não gosto de dever, especialmente a médicos. Prefiro jogar [play] já.” (ao invés de pagar [pay])
    Freud ficou de sobreaviso, mas tranquilizou-se quando o cliente pagou em dinheiro a metade da consulta, prometendo enviar um cheque da diferença. Dias depois, a carta de cobrança voltou com a indicação de “destinatário desconhecido”; neste momento, Freud percebeu que aquele lapso entre “jogar” e “pagar” traiu o cliente.
  • Certa ocasião, Freud repreendia uma cliente, cujo marido estava ouvindo atrás da porta; no fim do sermão, que causara visível impressão à esposa, o próprio Freud põe tudo a perder, despedindo-se dela:
    “Até logo, Senhor.”
  • Uma mulher disse à outra em frente à farmácia:
    “Se aguardar alguns movimentos, eu voltarei.” Iria comprar um purgante para o filho; queria dizer “momentos”.
  • Um psicanalista, ao comentar sobre um possível tratamento:
    “Poderei, com o tempo, remover todos os seus sintomas, pois é um caso durável.” Queria dizer “curável”.
  • Uma jovem esposa disse sobre a dieta do marido:
    “O médico disse que meu marido pode comer e beber o que eu desejar.”
  • Uma respeitável senhora exprimiu-se numa roda:
    “A mulher tem de ser bonita se quiser agradar. Os homens tem mais sorte, basta que tenham cinco membros.”
  • O psicanalista Sándor Ferenczi, quando estudante, preparara-se arduamente para recitar, pela primeira vez, um poema. Ao começar, foi interrompido por sonora gargalhada da turma: dissera o título e, ao mencionar o autor, cita o próprio nome.

Continua na próxima…

Jean-Yves Leloup: Os rins

No livro O Corpo e Seus Símbolos, já citado, a lição de Leloup é escutar o corpo “que não mente”; o corpo é “nossa memória mais arcaica… nele nada é esquecido”; cada acontecimento deixa no corpo uma marca profunda.

Leloup nos ensina que um atento observador pode constatar em si mesmo e nos outros a incrível simbologia dos rins. Nesta linha de pensamento, os rins são locais de “escuta” no interior de cada um; os rins escutam e filtram as mensagens do sangue, purificando-o.

Atualmente, vivemos sobrecarregados e estes excessos tornam impossíveis aquela filtragem… por isso, tantos problemas renais.

As dificuldades da função renal podem ser indicações de que estamos na direção errada, de que nos fatigamos inutilmente… a nossa vida está sem ou perdeu o objetivo.

Alguns problemas renais indicam desperdício, perda de energia e, muitas vezes, omissão em atender “a solicitação do corpo para mudar de direção… e a maneira de viver”.

A doença é um esforço do corpo para se curar, é o aspecto positivo de maladie – em francês, um mal a dizer -. Finalmente, a sábia conclusão do mestre:

Os rins são um espaço para a palavra que temos de escutar.

Mario Vargas Llosa

Travessuras da Menina Má

Mais um presente deste peruano idealista que, um dia, sonhou em apontar outros rumos ao Peru. Como já aconteceu e se repetirá incontáveis vezes, o povo preferiu o caminho falacioso e inconsequente apresentado por Fujimori… deu no que deu. 🙂

Bem, interessa-nos agora as peripécias de um grande amor retratadas de uma forma envolvente; Vargas Llosa consegue realizar o desejo máximo de um escritor: manter o leitor preso irresistivelmente às suas páginas.

A trama tecida por Vargas Llosa se passa em Lima, Paris – aqui, os endereços conhecidos acrescentam uma atração a mais – e Londres; retrata magistralmente as transformações sociais da época dos hippies, da revolução cubana, das origens do movimento Túpac Amaru. Para quem leu outros livros de Vargas Llosa pode-se reconhecer claramente traços autobiográficos e isto enriquece a leitura.

Interessante também uma outra faceta do livro: os motivos, as pulsões, as escolhas dos personagens rendem assunto para tardes inteiras numa boa roda… de uma forma ou de outra todos nós estamos lá!