A partir de Erlian — fronteira entre China e Mongólia — o Zarengold atravessa a vastidão das estepes até a capital Ulan Bator, “herói vermelho”. São planícies com vegetação rasteira, numa área de transição entre o cerrado e o deserto.
Aqui perambularam dinossauros e cientistas ainda descobrem ossos e ovos de novas espécies destes bichinhos. Gobi, significando “grande seco”, com extrema variação de temperatura, é hostil aos aventureiros, contudo o ecossistema é muito rico. Nos pontos mais altos há lagos e pântanos salgados, perfeito habitat para pássaros. Há cavernas com pequenas aberturas, onde monges se isolavam para meditação.
Não passamos pela paisagem belíssima das dunas, fica o desejo de visitar este mundo misterioso de areias e rochas.
Depois das estepes, Ulan Bator é um susto: crescimento desordenado, trânsito intenso, edifícios modernosos. Esta praça é a principal e pode-se notar a mescla de estilos:
Conseguimos escapar desta cidade grande para o refúgio nos monastérios budistas tibetanos. É um contraste bem-vindo este silêncio e as tocantes esculturas de Buda.
Esta terra de grandes e cruéis conquistadores, como Genghis Khan, 1206, e Átila, o huno, era um grande império cobrindo partes da Rússia e da China. Hoje é uma soberania de estepes sem fim, de montanhas de pedra e de gente amável.
Genghis Khan – autor desconhecido
De Datong — China — chegamos à fronteira em Erlian. Na rodovia, estas curiosas esculturas em homenagem aos “nativos” descobertos pelos paleontólogos.
Repentinamente, não se sabe de onde, surgem dezenas de recrutas uniformizados que, agilmente, transportam as incontáveis malas para o Zarengold, trem privativo para turistas. As cabines não comportam bagagens volumosas. Então, a maior parte das malas é empilhada no estreito espaço entre os vagões. Assim, para aqueles turistas cujo maior prazer consiste no “peso” das malas, é uma decepção: roupas, preciosos adereços, mais sapatos etc. etc. ficam fechadinhos e inacessíveis!
Mongólia recebe seus visitantes com um concerto de morin khuur, um instrumento típico com cabeça de cavalo e impressionante som gutural, uma técnica vocal chamada khoomei.
Mongólia não tem saída para o mar, limita-se com o sul da Rússia e norte da China. É o pais menos densamente populado, com 3 milhões de habitantes; destes, 40% vivem na capital Ulanbataar. Em 1990, os mongóis conseguiram se livrar do comunismo, tornando-se uma república parlamentarista. O regime soviético arrasou os monastérios budistas tibetanos e mais de mil monges desapareceram. Essa ocupação comunista gerou situações curiosas: nossas duas guias frequentaram a universidade na Alemanha Oriental, formaram-se em engenharia e beneficiamento de couro e, por isso, falam alemão muito bem!
A mineração estrangeira de ouro, cobre, carvão e urânio tem devastado as terras, ameaçando, irremediavelmente, os camelos selvagens, ursos, gazelas e os últimos leopardos-das-neves do norte, além de gastar os recursos hídricos. O gentil povo mongol parece não saber avaliar as consequências destes danos ambientais. Certamente algo parecido aconteceu no Brasil; a terra sendo tão vasta, os campos e rios infinitos, as florestas densas pareciam perenes. Então pode-se, sem limites, gastar, queimar, cortar, vender para exploradores!
Às margens dos caminhos fitas coloridas amarradas às arvores e nas pedras empilhadas simbolizam pedidos e desejos; resquícios do xamanismo antigo.
A Transiberiana, de Moscou a Vladivostok, uma das estradas de ferro mais longas do mundo, foi construída entre 1891—1916, pelos prisioneiros na Sibéria, principalmente. Foi uma obra monumental com florestas inteiras abatidas, rios desviados e centenas de pontes. O enorme custo de vidas humanas nunca foi revelado. É o mais importante meio de transporte na Rússia para exportação, turismo e passageiros domésticos.
Há três rotas principais:
• Moscou—Beijing via Mongólia, 7.621km;
• Moscou—Vladivostok, 9.289km;
• Moscou—Beijing via Harbin, Manchúria, 8.986km.
Os trens rodam nos dois sentidos. Podemos dizer que todos os caminhos de ferro levam à Transiberiana.
Estes trens públicos regulares fazem o trajeto entre 6 a 9 noites, parando rapidamente nas estações intermediárias. Passageiros perdidos nas estações são muito comuns. O passageiro também pode, claro, comprar separadamente os bilhetes para as cidades onde quiser pernoitar ou ficar mais tempo.
O filme “Transsiberian” — Brad Anderson, 2008 — retrata a viagem no inverno, época não recomendável para nós dos trópicos: chega a -50°C, ainda que a paisagem seja de tirar o fôlego. O filme dá uma idéia, nem sempre glamorosa, do ambiente no trem regular, pessoas de todos os tipos, níveis e temperamentos, além de constatar o atendimento até hostil das comissárias, aliás procedimento comum na Rússia, fora dos locais destinados a turistas.
Exclusivamente para turistas há os trens privados, à disposição dos passageiros, inclusive com pernoites em hotéis e permanência de até dois dias. Na rota Beijing—Moscou embarcamos no Zarengold, o charmoso trem dos Czares. O trem siberiano foi, desde sempre, sinônimo de elegância imperial: os garçons em black-tie, os passageiros em gala e a bebida oficial era o champagne da Geórgia.
O Zarengold recebeu todo o conforto de um hotel, adaptando-se às exigências modernas. Há seis tipos de cabine. Nos extremos, a Standard, para 4 pessoas e 1 banheiro por vagão, e a Bolshoi Platinum, espaçosa para 2 pessoas e com banheiro privativo. Todas as refeições e algumas bebidas estão incluídas, bem como alguns passeios. O atendimento é muito bom, apesar de a tripulação só falar a língua russa, com exceção dos guias. Para a categoria Bolshoi há um excelente restaurante especial…
Pegaríamos o trem em Beijing. É o trem chinês, com bitola especial, até a fronteira da Mongólia. Estivemos aqui em 2009; é impressionante o desenvolvimento de tudo neste curto espaço de tempo. A China está superlotada com 400 milhões de turistas… chineses! Sim, os nativos conseguiram permissão para viajar pelo próprio país, uma condição impossível na época de Mao e até recentemente.
Agora, os chineses estão em todos os pontos turísticos e têm a preferência dos hotéis, pois até no Kempinski, uma das melhores redes do mundo, dificilmente algum funcionário fala inglês.
Supreendentemente, o governo chinês suspendeu aquele embarque de turistas na Transiberiana, pois o trem fora requisitado para transportar altos funcionários. Como se pode fazer uma caipirinha de um limão, a Lernidee, nossa agência de viagens, substituiu, com muitas vantagens, o trem chinês por confortáveis ônibus e a compensação de 2 dias em Datong.
Também estivemos aqui em 2009, e a transformação do local é muito grande. Datong — com 1 milhão de habitantes era uma cidade pequena para os padrões chineses — tem agora mais de 3 milhões e até uma gigantesca muralha “antiga”, recém-construída para restaurar as glórias passadas da dinastia Wei há 1600 anos. Foi maravilhosa a surpresa de rever as cavernas dos Budas em Yungang!
Estas imagens são espetaculares e, em um contraste especialíssimo com a sua grandeza, Buda nos transmite pelo olhar, pela postura, pelo gestual uma profunda sensação de calma. Este lugar está, para sempre, dentro da gente.
As praias desertas, escarpadas e povoadas de relaxados leões e elefantes marinhos, são uma bela compensação à desolada cidade de Puerto Madryn, varrida pelos ventos; abrigado pelo Golfo Nuevo, o porto é a entrada do santuário da extensa Península Valdés.
Fundado por imigrantes galeses em 1865, é o segundo porto pesqueiro da Argentina. A industrialização começou com uma fábrica de alumínio e outras mais. A região enfrenta um sério problema com o descarte de sacos plásticos; milhares e milhares poluem os campos, matam animais, impedem a adubação. As gaivotas, devido ao lixo a céu aberto, devastam tudo: comem insetos, peixes, ovos, picam as baleias e, o pior, reproduzem-se espantosamente. Há um programa de conscientização para evitar o uso destes plásticos.
A Península Valdés — 4000 km² na província de Chubut — uma imensidão arenosa com vegetação rasteira boa para as ovelhas e um litoral selvagem com falésias belíssimas, é patrimônio natural da humanidade e o paraíso dos biólogos.
Punta Delgada é uma reserva de leões marinhos. Os adultos vão pro mar em busca de alimento e os adolescentes se estendem folgadamente ao sol… esta combinação lhe é familiar?
No passado recente estes animais quase foram extintos pela matança desenfreada. Felizmente, o governo tomou providências e hoje a região transformou-se em um parque protegido.
A Caleta Valdés apresenta uma impressionante beleza e, entre fevereiro e abril, o dramático fenômeno da caçada aos lobos marinhos pelas orcas: surfam até a praia e os abocanham.
Estes caminhos nos levaram a um mundo à parte, nos apresentaram uma vida rica! A adaptação ao clima, os diferentes costumes, a tosa das ovelhas, as grandes distâncias silenciosas são uma realidade desconhecida para nós, essa esquisita gente da cidade.
O arquipélago abrange duas ilhas principais e mais de setecentas menores. Port Stanley, uma vila de pescadores, é a capital espraiada em baías e pequenas elevações sob um verão azul brilhante…
…este céu é enganador! O clima é hostil, esparsas chuvas ao longo do ano, temperaturas podem cair abaixo de zero, ventos fustigam continuamente, moldando as poucas árvores da região.
Por mais de 150 anos os ilhotas viveram praticamente incógnitos, criando carneiros e servindo navios. Hoje a população é de, aproximadamente, 3 mil pessoas, a maioria vivendo em Port Stanley.
As versões sobre o domínio destas ilhas geram controvérsias e dividem as pessoas; contudo, há de pesar nesta balança a ambição colonialista do império britânico, usurpando, a qualquer preço, povos, terras, culturas, crenças, recursos em todos os tempos e lugares.
O cemitério argentino em Darwin é uma homenagem a “Los Caídos” em 1982, na disputa entre Argentina e Inglaterra, e reforça o fato — aceito como indiscutível — de ter sido arrematada insensatez a decisão do governo militar argentino de atacar as ilhas, infelizmente apoiado pela grande maioria dos argentinos. Mais uma vez ficou demonstrada a incapacidade humana de usar a Razão. Jorge Luis Borges teria resumido, magistralmente, a questão das Malvinas ou Falklands:
é a disputa de dois homens calvos por um pente.
Os telhados coloridos de Port Stanley dão um toque criativo neste paraíso de raras espécies de pássaros, onde existe um ecossistema com uma espantosa variedade de espécies subantárticas: pinguins, elefantes, lobos e leões marinhos.
…é coberto por dunas de neve! A Antártida é considerada um grande deserto polar pelo índice mínimo de precipitação, além de ser o continente mais frio e mais seco. Aqui já se registraram ventos de até 320 km/h e a temperatura mais baixa da terra: –89,2°.
Sob o manto de gelo a vida é muito rica. A fauna cobre quase toda a cadeia alimentar; baleias, focas, lulas se alimentam de krill — pequenos crustáceos bem saborosos, também consumidos por russos e japoneses. As aves mais comuns são os pinguins, albatrozes e petréis; algumas espécies fazem seus ninhos em terra firme e migram, no inverno, para regiões mais quentes. O pinguim-imperador e o pinguim-de-adélia permanecem no continente. Os ventos fortes impedem o crescimento de vegetais, por isto florescem, no verão, os líquens, algas, fungos, briófitas.
A Antártida é considerada politicamente neutra. O Tratado da Antártida de 1959 transformou-a numa área de preservação científica, com proteção ambiental, proibição de exercícios militares e liberdade de investigação científica; há 29 países com bases científicas na Antártida. Aqui uma delas:
O continente tem 32 aeroportos, nenhum aberto ao público, pois estão sujeitos a severas limitações por causa das condições climáticas e geográficas. Daí o acesso, apenas, por navios.
Uma imensidão gelada recortada por rochas vulcânicas. A navegação através de canais estreitos e baías é em câmara lenta. Aqui, os icebergs, as montanhas brancas, os pássaros, as orcas quase ao alcance da mão.
O MS Zaandam contorna as ilhas, gira 360°, pára diante das rochas e glaciares, às vezes navega em marcha-a-ré; assim aproveitamos intensamente sem descer à “terra”. É uma medida protetora do meio ambiente. Hordas de turistas teriam devastadoras consequências.
Além das águas do difamado Paso Drake, a sala de espera da Antártida! O recepcionista é este primeiro iceberg. Esta escultura traz uma beleza tão grande quanto o incomum silêncio envolvendo tudo e todos nós.
Distanciando-se do Cabo Hornos entramos na Passagem Drake; neste dia, para nossa sorte, muito calma! Foi descoberta por Francis Drake em 1578. O corsário, condecorado pelo governo inglês por suas duvidosas conquistas, foi arrastado por um forte vendaval até o fim da Terra do Fogo, encontrando-se em pleno mar aberto.
Francis Drake chegou às águas tormentosas onde os gigantes Atlântico e Pacífico se fundem. Modificou-se, então, toda a geografia da terra, pois supunha-se a América unida à Terra Australis/Antártida. Depois da descoberta dessa nova passagem a navegação por aqui aumentou consideravelmente, apesar das trágicas estatísticas. Drake fez a segunda circumnavegação da Terra. Contudo, sua memória é manchada de sangue pelo assassinato de nativos na Patagônia, saques em Valparaíso, tráfico de escravos e especiarias, a captura de navios. O destino reserva a cada um a morte que merece: o pirata morreu de disenteria em Portobelo, Panamá.
• Oceano Pacífico: é o primeiro em extensão e profundidade, cobre um terço da superfície do planeta.
No entorno do Pacífico, as cadeias de montanhas são de intensa atividade vulcânica. Foi batizado por Hernando de Magallanes pela ilusão de ser mais calmo do que o bravo Atlântico.
• Oceano Atlântico: vem de Atlas (Άτλας) — filho de Netuno — na mitologia grega, aquele que sustenta o mundo nos ombros. Os gregos acreditavam ser o Atlântico um grande rio em torno da Terra. Chamavam-no Mar Tenebroso. Curioso o relevo no fundo deste oceano: uma extensa cadeia de montanhas de norte a sul, com altura de 3 mil metros, a Dorsal Mesoatlântica.
Os oceanos são de inestimável biodiversidade. Destoantes da riqueza destes mares são as manchas de 100 milhões de toneladas de lixo flutuantes. Charles Moore, em 1999, as descobriu por acaso, quando voltava de uma competição no Havaí. Estas ilhas de lixo se transformam em uma sopa tóxica levando peixes e aves à morte.
As perspectivas não são animadoras. Além do Pacífico norte, há grandes aglomerados de lixo a leste das Bahamas, leste do Rio de Janeiro, Madagascar e no Pacífico sul, entre outros. O biólogo Alexander Turra, da USP, qualificou de “moribundo” o estado dos oceanos.
Lixo no Pacífico – autor desconhecido, 2008
Resíduos de todos os tipos são provenientes dos esgotos urbanos, de rios poluídos por fertilizantes, das plataforma de petróleo, das embarcações e dos descartes dos insensatos moradores desta Terra.
Pesquisadores australianos estudam este processo de acumulação de lixo e o rastreamento de suas origens. O biólogico Erik van Sebille afirma: “é impossível limpar o oceano, o lixo permanecerá lá. É necessário, porém, identificar sua origem, para que os responsáveis possam criar estratégias para barrar a poluição.”
Ah! O continente antártico é uma riqueza inigualável. Ainda que pareça inverossímil, cada um de nós, indistintamente, é responsável pela conservação da vida neste misterioso reino gelado!
De Ushuaia navegamos, por vinte e quatro horas, numa imensidão de águas revoltas do Cabo Hornos e Paso Drake. As portas do silencioso Continente Antártico são o prêmio compensador.
Contornamos o Cabo Hornos/Cape Horn na ilha do mesmo nome. O único lugarejo é Puerto Williams com 1600 habitantes. Em formato de meia-lua a ilha é coberta, em sua maior parte, por líquens, musgos; daí o nome bosques em miniatura e a observação deste rico microcosmos ser com lupa. O Parque Nacional Hornos é um lugar privilegiado na Reserva Mundial de la Biosfera.
Aqui é abundante o arbusto Canelo ou Casca de Anta, cujas sementes atraem as aves austrais. Estas sementes devem ser saborosas, pois bandos de aves tropicais — fio-fio, Elaena Albiceps — viajam mais de 3500 km até Hornos para nidificar e encher o papo de Canelo.
As correntes fortes no Hornos, os açoites de vento, as ondas altíssimas justificam-lhe o apelido de Cementerio Marítimo. Contam-se 800 naves desaparecidas com tripulação de, pelo menos, 10 mil marinheiros! Pelas condições de chuva, neve, granizo também chamam-no Cabo de las Tempestades e Cabo Donde se Acaba el Mundo. Em determinados momentos, deu para avaliar, minimamente, a força destas águas: o vento de 90 km/h nos impediu de abrir a porta da cabine para a varanda!
Por essas e outras, escolhemos o grande navio MS Zaandam da Holland-America. É confortável, oferece concertos de piano e violino, música dançante, cassino, piscina, academia, pista de cooper, jogos de xadrez, bridge, além de fina gastronomia. A convidativa biblioteca tem mesas para quebra-cabeças coletivos que se tornaram um ponto de encontro nos finais de tarde. O lounge tem uma privilegiada vista panorâmica.
Tais navios são equipados com estabilizadores e, assim, pode-se minimizar a temida “gangorra” destas águas. Nos navios menores as histórias de seasickness/enjôos desta travessia não são animadoras. Numa viagem transoceânica, de Valparaíso à Austrália, a médica do navio, com bom humor, nos resumiu dois momentos deste incómodo:
inicialmente o passageiro pensa que vai morrer; depois, o pior: ele sabe que não vai morrer!
Com a abertura do Canal do Panamá em 1914, a navegação é praticamente de entretenimento e desportiva; são desafiadoras as competições entre solitários e experientes navegadores que se lançam numa tentativa de circumnavegar o globo terrestre. Para os aficcionados, contornar este cabo, onde Atlântico e Pacífico se encontram, equivale a atingir o cume do Everest.
Curiosa a aventura de um casal inglês em 1956; numa tentativa de contornar o Hornos do Pacífico para o Atlântico, o veleiro Tzu Hang naufragou. Não desistiram; no ano seguinte, lá vão eles! Novo naufrágio… mais uma vez, salvos miraculosamente. É… o Hornos não os quis lá!
Daqui saem os cruzeiros para a Antártida, os passeios pelas baías Ensenada, Lapataia, pelo Canal de Beagle, onde se pode navegar de catamarã e avistar os intrigantes cormoranes; também safaris e agradáveis trekkings por vales e florestas de Lengas — árvores cuja madeira é de muito boa qualidade. Ainda, Cerro Castor é considerado o melhor centro de esqui da América do Sul.
O clima hostil afastou os navegadores europeus até 1870, quando desembarcaram os missionários anglicanos vindos das Falklands/Malvinas. Em 1902 foi construída a colonia penal e nasce Ushuaia. Felizmente, o temido presídio desativado somente em 1947 é um museu com histórias de numerosos naufrágios…
…lojas e biblioteca. Há, inclusive, uma gravura de Robert F. Scott, explorador da Antártida e — grata surpresa! — exímio desenhista.
Um pavilhão não foi restaurado exatamente para uma pequena amostra da crueza, do frio e do cotidiano duríssimo. As penas eram por tempo indeterminado. De diferentes nacionalidades, os presos políticos, adolescentes e criminosos ditos irrecuperáveis. A média tinha de 30 a 35 anos. Carlos Gardel também teria se “hospedado” aqui. O destino dos fugitivos era igualmente perverso: voltavam à prisão fustigados pela fome e frio.
Os prisioneiros construíram a ferrovia do Tren del Fin del Mundo que, hoje, percorre o Parque Nacional da Terra do Fogo, bem devagar com paradas na cascatinha Macarena e outros interessantes pontos. Desta ferrovia, 7 km são ainda os mesmos da época da prisão.
O Lago Escondido, no Paso Garibaldi, se esconde mesmo entre as montanhas ponteagudas. Desponta, aqui, a Cordilheira dos Andes, este escudo majestoso que, num crescendum, vai até lá em cima, perto do mar das Antilhas.