A Cidade dos Mórmons

…Salt Lake City é muito agradável, plana, arborizada, cercada de montanhas aveludadas.

A natureza é pródiga em Utah! A viagem vale por si só! As estradas rodeadas de vegetação colorida, de pedreiras ponteagudas, nos conduzem à progressiva cidade, sede das Olímpiadas de Inverno de 2002.

Como sempre, deixamos a pouca bagagem no hotel e saímos imediatamente, perambulando sem destino — o melhor jeito de descobrir maravilhas — pelas avenidas largas e limpas, pela praça do capitólio, um edifício imponente cheio de histórias e símbolos. Há muitos restaurantes exóticos, entre eles o Himalayan Kitchen, onde aproveitamos os sabores do Nepal e da Índia: “tikka masala” servido em recipientes e talheres de bronze.

Ainda perambulando, fomos parar no Temple Square: não sabíamos nada sobre este lugar, com 40 mil m² de jardins, templos, escritórios comerciais, conference center, o tabernáculo com um órgão gigantesco e coral de 360 vozes. Ainda, um belíssimo e antigo hotel transformado em memorial do fundador Joseph Smith. A réplica da imagem de Jesus Cristo de Copenhagen (3,4 m), esculpida por um artista dinamarquês, emociona fiéis e turistas. O templo principal, com espelho d’água, fontes e belíssimo jardim é magnífico. A construção toda em granito  foi iniciada em 1853 e durou 40 anos.

Naquele fim de semana se realizava a conferência semestral, com um número incontável de mórmons de todos os lugares. No intervalo de almoço, as famílias faziam piquenique na grama ao som do coral. Tudo bem organizado, muito limpo, muito bonito. Havia muitos jovens com placas anunciando a língua nativa para informações de, praticamente, todos os países. A partir de 18 anos, moças e rapazes já são missionários e partem mundo afora. Ficamos muito bem impressionados com a acolhida carinhosa; éramos “forasteiros” mas, por onde passamos, e de todas as pessoas com as quais cruzamos, recebemos mensagens amigáveis.

Nesta mesma noite tivemos um encontro agradibilíssimo em casa de amigos que confirmaram as gentilezas e a convivência fraternal dos princípios mórmons.

 

Escócia de trem!

Começando a viagem, aqui vai o “pulo do gato” para percorrer o Reino Unido: os passes de trem do BritRail. Apenas para estrangeiros, por um preço fixo pode-se viajar em primeira classe, por determinado período, pela Inglaterra, País de Gales e Escócia — para só esta, há o ScotRail. A validade varia de 3 dias a 1 mês (consecutive) ou de 3 a 15 dias durante 2 meses (flexible). É vantajoso, muito confortável e, várias vezes, entramos em um trem sem ter idéia do destino! Já descobrimos lugares inusitadas brincando de cabra-cega nas estações… 🙂

De Londres, fomos para Thirsk em Yorkshire; campos de feno cobertos de florinhas amarelas a perder de vista. Thirsk é antiga, com as ruas em paralelepípedos, todas as casas com jardins muito bem cuidados e muita cor. O centro é cheio de vida, um burburinho incessante nos cafés, boas lojas e livrarias com alegres rodas de aposentados. Fomos até Thirsk visitar o Mundo de James Herriot — o veterinário escocês que lá morou e clinicou por décadas. Publicou muitos livros com deliciosas e incomuns histórias dos seus bichos, tema de dois filmes e uma série espetacular na TV inglesa. Sua dedicação incondicional aos animais inspirou uma nova geração de veterinários. Ainda nesta cidade, tivemos a grata surpresa de, ao visitar a magnífica catedral com os jardins cheios de lápides antigas, um organista tocar especialmente para nós. Momentos assim são inesquecíveis e nos dão o valor imensurável do aqui e agora.

Em direção à Escócia, a três horas de Thirsk, está a milenar Edimburgo. A cúpula de Waverley e os vitrais fazem da estação um atrativo especial. A cidade é interessantíssima; cheia de castelos — Castelo de Edimburgo, Castelo Drummond — a destilaria Glenturret, além de catedrais, museus, concertos a céu aberto. Os jardins espetaculares confirmam o bom gosto, a técnica e a arte dos escoceses no paisagismo. Edimburgo oferece o paraíso no Royal Botanic Garden. Os becos subterrâneos tortuosos — os tais “closes” — demonstram as miseráveis condições de vida no século XVII. As casas foram queimadas devido à peste bubônica e o Mary King’s Close permaneceu. O lugar, por si só, representa as histórias de uma época e lugar inusitados; porém foi, infelizmente, transformado em pura atração comercial pelo infeliz marketing turístico quando tem por pretensão “enfeitar” ou “dramatizar” a história. Vale a pena ver o trabalho nos teares nas fábricas de tartan — os emblemáticos tecidos dos clãs escoceses.

Contudo, a melhor sugestão é deixar-se perder pelas ruelas em torno da Royal Mile na Old Town.

Sempre fugimos das cidades grandes, escolhendo para hospedagem uma cidadinha com aquela bucólica e acessível estação de trem na única praça. Assim, a 20 minutos de Edimburgo, descobrimos Linlithgow… uma delícia de lugar para o próximo post!

Escócia de trem #2…

Linlithgow é uma delícia. Aqui nasceu Mary, Queen of Scots, a última rainha da Escócia; foi também a residência da dinastia Stuart. As ruínas bem-preservadas (1420) mostram o Royal Palace às margens do lago. A igreja de St. Michael’s (Miguel Arcanjo), numa paróquia dinâmica, é uma obra de arte. A fonte Cross Well, o Burgh Hall, outras edificações com extensos gramados fazem-nos sentir num filme, nos transportam a uma outra dimensão.

Fizemos compras num excelente supermercado e os vendedores atenciosos faziam-nos sentir em casa. Aqui curtimos mais ainda o café da manhã farto e variado, seguindo ainda o cardápio dos mineradores de carvão: ovos, bacon grosso, feijão adocicado, linguiça, hash browns (purê frito de batatas), resumindo: é o famoso “tropeiro” deles. Íamos de trem para Edimburgo, voltávamos para o aconchegante hotel pertinho da estação e, ainda, aproveitávamos da tarde prolongada neste antiquíssimo lugarejo.

Seguimos para Inverness. Ah! Um lugar encantador cheio de gente hospitaleira, entrecortado de canais e pertinho do mistério Loch (lago) Ness. Com 36km de extensão e 230m de profundidade de águas frias e escuras, é a morada do monstro “Nessie“. Lá o turismo explora inteligente a história de Nessie, com a “Exhibition Loch Ness”: cavernas, espelhos, ondas laser, pesquisas sérias e ilusão de ótica! O cruzeiro pelo lago é muito agradável; o café com chocolate, servido a bordo, tem um sabor especial, contemplando o infinito, as ondas brancas, as gaivotas… é um sentimento único de viver o presente intensamente…

Constatamos outra amabilidade escocesa quando o ônibus do tour nos deixou no nosso hotel. Não paramos em Aberdeen para evitar cidade grande. Subimos para Thurso onde a região continua invadida por canais fartos de água. Aí embarcamos no “North Link Ferries”. Esta balsa é muito confortável, bem bonita, com tapetes altos e macios, espelhos de bronze, corrimãos dourados e um restaurante com gosto muito bom do molho de hortelã. A travessia para Stromness já é um plus: os penhascos, a incrível formacão “Old Man of Hoy“, além da beleza destes mares desertos.

Stromness é um lugar maravilhoso com 2200 habitantes, curiosamente sem árvores. Os vikings ocuparam o arquipélago Orkney até 1231 e, até hoje, sua influência no dialeto, costumes e comidas é marcante.

As pousadas estilo B&B (Bed and Breakfast), maioria na Escócia, são confortáveis, bem decoradas e no “Miller’s House“, perto do cais, havia um skylight que deixava toda a casa ensolarada. O café da manhã, além do “tropeiro”, oferecia 6 tipos de geléia, frutas, torradas, sucos, peixes defumados, queijos… energia suficiente para perambular pelas ruelas.

No ferry de volta a Thurso, conversamos com uma senhora muito elegante e bem-humorada nos seus gloriosos 90 anos. Ela nos contou, encantada, sobre a aposentadoria, sendo uma novidade receber de “um buraco na parede” com um cartão. 🙂 O governo paga aluguel para os pensionistas, além de uma ajuda de custo de 70 a 130 libras por semana. A “nursery” — a casa dos idosos — é bem fiscalizada e a nossa amiga desfruta de uma velhice tranquila. Após 2 horas de agradável travessia tomamos um trem para Kyle of Lochalsh, através de Dingwall.

Kyle of Lochalsh está situada entre lagos e montanhas. O hotel “The Old Bankhouse” é muito romântico e confortável, administrado por um casal de aposentados. Ali vimos “100 Great World Cup Moments”: todos os melhores lances, vitórias, falhas e curiosidades no futebol, como o caso do gol contra de um jogador colombiano; por isso, foi assassinado por um torcedor fanático na Colômbia… 🙁  Neste hotel estavam um casal de Cambridge e uma amiga; conheceram-se na China e, desde então, viajam anualmente juntos. Estes encontros são, para quem está disponível, momentos especiais e criam laços afetivos que nos acalentam.

Escócia – Ilhas e Jardins

De Reykjavik, na Islândia, alcançamos o arquipélago de Orkney — ao norte da Escócia — com aproximadamente 70 ilhas, cuja capital é Kirkwall. O porto majestoso recebe balsas, navios de cruzeiro e de carga. A cidade é bem antiga (1305), sendo muito agradável perambular pelas ruas cheias de lojinhas, restaurantes, excelentes livrarias. A cidadinha é cheia de surpresas: na próxima esquina, um campo cheio de árvores enormes é um bucólico cemitério com interessantes histórias gravadas em lápides de 1804; mais além, as imponentes ruínas do Bishop’s Palace ou Earl’s Palace. As ruas e casas são agradavelmente floridas e os nativos muito atenciosos; todos cumprimentam os turistas. A Catedral de St. Magnus é uma belíssima edificação em arenito.

Subimos mais ao norte até Lerwick, a única cidade do arquipélago de Shetland. Como em outras cidadezinhas escocesas há os pitorescos “closes”, que são tradicionais becos ladeados por incríveis e agarradinhas construções de pedra. Numa lojinha, vimos novelos de lã composta de fibras de leite com 30% de seda, que torna as peças muito macias.

A gentileza mais uma vez se revelou, quando a prefeita, ao som de violino, veio ao cais receber os passageiros. As ilhas de Shetland são muito antigas e Lerwick tem mais de 5000 anos. A biblioteca é invejável! Oferece, gratuitamente, os mais variados cursos de informática, línguas, trabalhos manuais, etc.; empréstimo de DVDs, CDs; salas abertas aos cidadãos para reuniões e assembléias e um acervo surpreendente.

Pudemos constatar um desdém bem-humorado ao “invasor” inglês (a Escócia foi anexada em 1707), através de um diálogo com um casal, quando nos referimos às origens inglesas do futebol, a esposa, prontamente, respondeu: “aqui é a Escócia!” Perguntamos “não é Reino Unido?” Retrucaram os dois em uníssono: “depende com quem você fala!” 😉 Nota-se um desejo (e esperança) subjacente de independência através da sistemática preservação da cultura, língua e costumes. Curioso é que os três principais bancos da Escócia cunham moedas para circular apenas entre os escoceses – orgulhosos disto!

“Não existe clima ruim e sim roupa inadequada”, contudo a sensação de frio, na Escócia, aumenta devido aos ventos frequentes. Tivemos sorte e a temperatura foi muito agradável no “verão nas ilhas”: máxima de 14°C. Os nativos? Na praia!

A Escócia é rica, culta, sólida, bem plantada em seus castelos e construções de pedra. Suas extensas terras onduladas envoltas em silêncio e quietude são privilegiadas. Os jardins na Escócia são excepcionais em qualidade e beleza, cultivados desde o século XIII! Dispensam quaisquer adjetivos. É puro enlevo!

 

Brincadeiras das Nuvens

Nuvens lenticulares são formações raras resultantes de ventos em altitude constante, ar quente e úmido e um grande obstáculo, como uma montanha.

Não importam as definições! São nuvens brincalhonas em recreio… preparam essas preciosas e invulgares esculturas para alguém em especial: o sortudo a postos no lugar e no momento certos!

Curso de Inglês…

…no paraíso! Este lugar existe; o clima é azul, o silêncio é cheio de pássaros e esquilos. Do alto, pode-se ver a cidadinha embaixo, envolta em neblina… o recorte das montanhas lá longe. A sensação é a de um Shangri-La abrindo-se para nos acolher. É Little England!

Uma invejável idéia de professores-pioneiros — como sempre, uns visionários, ainda bem! — de construir um hotel-escola, onde se vive inglês. Ali, em Nogueira/RJ, se faz imersão total com os mais variados exercícios, brincadeiras, treinamento, técnicas modernas e personalizadas de manejar uma língua.

Para começar, todos os professores são nativos: da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Escócia, da África do Sul. Há programas interessantes para os níveis mais variados e para o Business English. As situações lá de fora são vividamente representadas aqui; conferências e até conversas por telefone entre alunos e professores sobre o respectivo negócio. Há cursos durante todo o ano.

O plus nesta escola sui-generis é a dedicação de todos os professores. Estão sempre disponíveis, interessados, a postos. Às vezes, dois professores por aluno, viva! Os resultados, como tudo nesta vida, dependem também do interesse e da motivação de cada um. Aqui, todo o talento, a boa vontade e o empenho serão multiplicados. Certo, também, que para um aproveitamento melhor recomenda-se um conhecimento intermediário da língua inglesa.

Contudo, posso dizer, com a experiência de mil “cursinhos the-book-is-on-the-table” e de intercâmbio no exterior: a vivência Little England traz um rendimento incomparavelmente superior. O único senão é o cigarro; embora de uso restrito ao jardim, o cheiro inescapável quebra a harmonia.

A paisagem é exuberante, as acomodações confortáveis e a comida um pecado! Mas, não se engane, ali se trabalha duro com os professores bem-humorados e competentes “fiscais”. 🙂 Não há TV, telefone nem um pio em português.

A Little England é, no melhor sentido, um instigante tour-de-force. Experimente ir lá, dedique-se e sentirá um novo sabor da língua. Se você não sentir a transformação…

throw the towel! É isto mesmo… jogue a toalha.

Ingrês…

…na criatividade baiana! 🙂

“in full” = em cheio?? “Whole Bread” é o correto.

“sleeve” = manga de camisa, de vestido. Em inglês, “Mango”.

Eng4

“canned noble” = “pessoa nobre enlatada”?? Eram tomates secos; “dried tomatoes”.

“pitiful” = “deplorável”. Deveras! 😉

Eram bolinhos/biscoitinhos “petit fours“: expressão da culinária francesa.

Para boas risadas, aqui mais: engrish.com

Arvorismo

Porto Seguro - Copyright©2013 Rainer Brockerhoff
 

O desejo de avançar
…e de recuar
os degraus atraem
soltos no ar.
Vencido o tremor
a sensação é boa
sente-se leve à toa
como a esperança
dependurada no fio…

Copyright ©2013 Maria Brockerhoff

A Cruel dona das Rosas

Na rua de pedra da cidade de concreto há um jardim de roseiras de todas as cores.

Aquele canteirão em frente à penúltima casa antiga, esquina da avenida do contorno é, ainda, um jardim de vovó, onde as roseiras fartas, já troncudas e altas, se enrolam, se estendem pelas grades das janelas e da cerca. Alguns “matinhos” rastejam aos pés das rainhas vermelhas, rosas, amarelas, grandes, pequenas, que atraem os olhos de quem os tem!

Aqueles buquês abertos, semi-fechados, os botões são uma belíssima miragem ali na esquina de asfalto, de carros barulhentos, da selva citadina. Uma paradinha ali, em frente ao roseiral, é uma pausa deliciosa!

Outro dia, um jardineiro com um tesourão. Em volta, o chão forrado de folhas e pétalas coloridas.

— Por que? Foi a pergunta incrédula. O jardineiro abaixou os olhos, parecendo envergonhado, respondeu:

— A dona não quer roseiras altas…

Copyright©2013 Maria Brockerhoff