Fedra e Hipólito

Começa hoje, no Palácio das Artes, a apresentação da ópera do músico, compositor e maestro Christopher Park. Sob a direção artística e cênica de Fernando Bicudo, a venda de ingressos está esgotada; felizmente as Erínias conseguiram ingressos para quinta, dia 20/6. Certamente todo o grande elenco é responsável por esta acolhida impressionante.

Hipólito e/ou Fedra é uma peça do grego Eurípedes (428 a.C.), adaptada pelo romano Seneca. Desde então, este clássico da mitologia grega tem sido repetido na literatura, dramaturgia, filmes e óperas. Bem conhecida é a interpretação de Jean Racine em 1677. O papel de Fedra é magnífico, sendo o ponto máximo almejado, em todos os tempos, por exímias atrizes e sopranos. O nome Fedra deriva do grego φαιδρος, “brilhante”.

Racine se inspirou na tragédia grega e escreveu a peça “Hipólito”: a destruidora paixão de uma mulher por seu enteado. É a exploração das consequências de uma paixão proibida. Segundo um estudo muito interessante de Roland Barthes, Racine focaliza a tragédia da palavra. Para Fedra, a palavra reveladora do terrível segredo — seu amor pelo enteado — é a irreversível condenação. Nenhuma palavra pode voltar atrás. Para Hipólito, a palavra, o falar a versão dos fatos, seria a própria salvação. O não-dizer, a omissão, leva à destruição do nobre Hipólito.

Vargas Llosa, o grande escritor peruano, em “Elogio de la Madrastra“, faz uma interessante subversão do mito: o enteado seduz a madrasta. Também aí, como em Eurípedes, é a definitiva deterioração da família.

Os mitos formam a base das religiões, literatura, filosofia e artes. A sabedoria da mitologia é atingir a dimensão tipicamente humana; é muito diferente de fábulas ou lendas. Os mitos dizem respeito ao nosso relacionamento interior ou com o desconhecido. Podemos dizer que os mitos são espelhos que nos lembram quem somos e quão pouco mudamos desde a origem. Os mitos abrangem a história universal e constituem a base da psicanálise.

A tragédia mitológica trata de todas as emoções humanas e, o mais importante, através de símbolos oferece ao ser humano a solução dos conflitos. É função eficaz dos mitos demonstrar toda a gama dos sentimentos humanos sem culpa, sem censura, sem preconceitos. Aproveitemos, pois, a grande oportunidade de renovação interior que “Fedra e Hipólito” nos proporcionam.

A simbologia do mito é diversificada em cada região integrando o sistema de crenças de uma cultura ou civilização. Joseph Campbell, conceituado professor de mitologia, resume muito bem:

Mitos são sonhos públicos; um sonho é um mito privado.

 

Curso de Inglês…

…no paraíso! Este lugar existe; o clima é azul, o silêncio é cheio de pássaros e esquilos. Do alto, pode-se ver a cidadinha embaixo, envolta em neblina… o recorte das montanhas lá longe. A sensação é a de um Shangri-La abrindo-se para nos acolher. É Little England!

Uma invejável idéia de professores-pioneiros — como sempre, uns visionários, ainda bem! — de construir um hotel-escola, onde se vive inglês. Ali, em Nogueira/RJ, se faz imersão total com os mais variados exercícios, brincadeiras, treinamento, técnicas modernas e personalizadas de manejar uma língua.

Para começar, todos os professores são nativos: da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Escócia, da África do Sul. Há programas interessantes para os níveis mais variados e para o Business English. As situações lá de fora são vividamente representadas aqui; conferências e até conversas por telefone entre alunos e professores sobre o respectivo negócio. Há cursos durante todo o ano.

O plus nesta escola sui-generis é a dedicação de todos os professores. Estão sempre disponíveis, interessados, a postos. Às vezes, dois professores por aluno, viva! Os resultados, como tudo nesta vida, dependem também do interesse e da motivação de cada um. Aqui, todo o talento, a boa vontade e o empenho serão multiplicados. Certo, também, que para um aproveitamento melhor recomenda-se um conhecimento intermediário da língua inglesa.

Contudo, posso dizer, com a experiência de mil “cursinhos the-book-is-on-the-table” e de intercâmbio no exterior: a vivência Little England traz um rendimento incomparavelmente superior. O único senão é o cigarro; embora de uso restrito ao jardim, o cheiro inescapável quebra a harmonia.

A paisagem é exuberante, as acomodações confortáveis e a comida um pecado! Mas, não se engane, ali se trabalha duro com os professores bem-humorados e competentes “fiscais”. 🙂 Não há TV, telefone nem um pio em português.

A Little England é, no melhor sentido, um instigante tour-de-force. Experimente ir lá, dedique-se e sentirá um novo sabor da língua. Se você não sentir a transformação…

throw the towel! É isto mesmo… jogue a toalha.

Luís Vaz de Camões

Ao Desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando ao cansar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.

Big Band P. Artes — Nestor Lombida

Pela primeira vez, assistimos ao show da Big Band Palácio das Artes. Uma agradável e afinada surpresa! Há cinco anos, a BBPA vem apresentando boa música sob a batuta do pianista e violonista, maestro e arranjador Nestor Lombida, formado pela Escola Nacional de Arte de Havana, Cuba.

Nestor se envolve, se incorpora e se transforma em ritmo. Tem uma forte presença alegre e carismática. Com os outros talentosos músicos a Big Band executa arranjos modernos e desafiadores.

A platéia, praticamente lotada, entusiasmou-se em aplausos prolongados. É uma sorte para os brasileiros que Nestor tenha escolhido esta terra para multiplicar seus talentos!

Uma Big Band geralmente tem 17 músicos: 4 trombones, 5 saxofones, 4 trompetes ou similares, piano, bateria, contrabaixo e guitarra. A BBPA acrescenta um trompete e, em algumas peças, um percussionista. Em contraste com outras formas de jazz, onde o improviso é constante, uma BB toca arranjos complexos e muito bem ensaiados intercalados com um ou dois solos improvisados. Nesse espetáculo, gostamos especialmente de “Transit”, composição do jovem maestro canadense Darcy James Argue — já esteve em Belo Horizonte. Veja esta peça executada pela BB do compositor, a “Secret Society“:

Note o solo de trompete na marca dos 3:00 minutos. A “idade de ouro” das Big Bands foi de 1930 a 1945 nos Estados Unidos e, no Brasil, na década de 60. O formato foi perdendo a popularidade por ser caro, devido ao número de integrantes e difícil de ser bem executado, devido à complexidade dos arranjos. Felizmente as BBs ainda existentes são de excelente qualidade, sobejamente comprovado pela BBPA.

Uma parte do concerto foi executada pelo Lyrical Jazz, pequeno conjunto com Rita Medeiros, cantando também alguns “standards” com a BBPA. Tem uma voz belíssima e bem afinada. A técnica é impecável… falta-lhe uma pitada de sal ou de pimenta!

Basílica do Vaticano – uma visita

A Basílica de São João de Latrão foi construída no Século IV pelo imperador Constantino. Lá estão sepultados 21 papas. Esta Basílica é a Catedral do Bispo de Roma, hoje, Papa Francisco.

A Universidade Villanova, na Pennsilvânia, nos oferece a possibilidade incrível de viajar confortavelmente, com imagens panorâmicas e música belíssima, por todo o complexo da Basílica. Basta ligar o som do computador e, após seguir o link, clicar em qualquer dos pontos destacados no mapa. Gire o panorama segurando o mouse em qualquer ponto e movendo-o na direção desejada.

Cadeira do Papa - Wikimedia Creative Commons License

Se você gostou, veja mais aqui

…ao amigo Háj, nosso guia por estes caminhos mágicos.

Calendário Chinês – Tigre

O Tigre é o símbolo das virtudes reais: coragem, lealdade e generosidade. Os chineses o consideram protegido pelos deuses que lhe trazem muita sorte nos momentos difíceis.

Em linhas gerais, o nativo de tigre gosta de aventuras, é dinâmico, costuma lançar-se, de corpo e alma, em projetos diversos. É impulsivo, curioso e aproveitador da boa vida. Muitas vezes rebelde, não suporta uma vida rotineira. No trabalho o tigre precisa de espaço para se desenvolver, mas nem sempre tem paciência para isto; não gosta de obedecer horários e raramente pensa antes de agir. Contudo, ao invés de reclamar sai em busca de novos caminhos.

No seu aspecto negativo, o tigre é indeciso e cheio de caprichos, tendendo a decisões precipitadas. Interessante é que nem sempre fracassa em suas aventuras, pois a sorte parece viver ao seu lado. Se os seus talentos não são reconhecidos, o tigre pode tornar-se agressivo, briguento e mesquinho.

Na vida profissional, o tigre se adapta muito bem às vendas, às artes plásticas, administração de empresas e turismo. O tigre é romântico, bem-humorado, às vezes ciumento. A duração de uma relação sentimental com o tigre dependerá muito da liberdade que lhe é dada; a melhor maneira de afugentá-lo é querer prendê-lo, pois detesta pessoas dependentes. Gostam de companheiros/as fortes.

Compatibilidades: o tigre não se dá bem com boi, tigre, coelho e serpente. É incompatível com carneiro e galo. Boas possibilidades com dragão e cão. O relacionamento com cavalo e porco é muito bom. Boa relação profissional com o rato.

O tigre de terra (elemento do signo de Bruno) é responsável, com uma grande força de vontade. Interessa-se pelas pessoas, utilizando seus talentos na defesa de causas justas. A característica do tigre de terra é ser menos ousado que os outros tigres, preferindo manter-se dentro de um estilo de vida bem definido e ser socialmente bem aceito.

Poema – Mapa

A sutil descrença de Wisława Szymborska:

Mapa

Plano como a mesa
na qual está colocado.
Debaixo dele nada se move
nem busca vazão.
Sobre ele —meu hálito humano
não cria vórtices de ar
e deixa toda a sua superfície
em silêncio.

Suas planícies, vales, são sempre verdes,
os planaltos, montanhas, amarelos e marrons
e os mares, oceanos, de um azul delicado
nas margens fendidas.

Tudo aqui é pequeno, próximo, acessível.
Posso tocar os vulcões com a ponta da unha,
acariciar os polos sem luvas grossas.
Com um olhar posso
abarcar cada deserto
junto com o rio logo ali ao lado.

Selvas são assinaladas com arvorezinhas
entre as quais seria difícil se perder.

No Ocidente e Oriente
acima e abaixo do equador —
assentou-se um manso silêncio.
Pontinhos pretos significam
que ali vivem pessoas.
Valas comuns e súbitas ruínas
não cabem nesse quadro.

As fronteiras dos países mal são visíveis
como se hesitassem entre ser e não ser.

Gosto dos mapas porque mentem.
Porque não dão acesso à dura verdade.
Porque, generosos e bem-humorados,
estendem-me na mesa um mundo
que não é deste mundo.

(Tradução: Regina Przybycień)

Wisława Szymborska

…polonesa, Prêmio Nobel de Literatura (1996). A poeta, ensaísta e tradutora tem a modéstia proveniente da grandeza e competência. Certa vez, quando lhe perguntaram a razão de publicar tão pouco, respondeu:

Porque tenho uma lata de lixo em casa.

Considerava-se simplesmente uma mulher que escrevia versos; uma vez, ao ver uma enorme fila de pessoas aguardando o lançamento de seu livro, disse: “toda essa gente deve estar indo assistir a um jogo de futebol”. Ficou desesperada, quando recebeu o Nobel, ao enfrentar filmagens, convites, entrevistas de várias partes do mundo, impossibilitando-a de exercer o seu ofício. Levou quase 6 anos para se recuperar do susto do Nobel… o grande José Saramago também se queixou deste “mal”! 🙂

Como às vezes acontece, os grandes não são bem reconhecidos na terra natal. No caso de Wisława (pronuncia-se “vissuava”) católicos poloneses da direita não se esqueceram da homenagem que a jovem escritora fizera aos líderes comunistas Stalin e Lenin. Contudo, Wisława não se curvou às críticas, tornando-se importante ativista em prol da liberdade política e de expressão. Irrespondível a sua declaração ao receber o Prêmio Goethe na Alemanha:

Minha adesão aos ideais socialistas fez parte da minha geração pós-guerra, que acreditou na Utopia.

Fazendo um parênteses: aqui no Brasil, quando o Partido dos Trabalhadores apresentou um programa “democrático e limpo”, uma grande parte de nós acreditou, também, na Utopia.

Enviou para o seu editor alguns poemas em janeiro de 2012 com o título “Chega”. Veio a falecer logo depois, em 1º de fevereiro do mesmo ano. Possuía, sim, uma veia de fina ironia e humor. Gostava, ainda, de Ella Fitzgerald e de rifar entre os amigos os presentes “kitsch” recebidos às dúzias! Casou-se com um poeta, separou-se, embora tenham continuado amigos. Amou um outro escritor, cuja morte inspirou o poema “Kot w pustym mieszkaniu“:

Gato num apartamento vazio

Morrer – isso não se faz a um gato.
Pois o que há de fazer um gato
num apartamento vazio.
Trepar pelas paredes.
Esfregar-se nos móveis.
Nada aqui parece mudado,
e no entanto algo mudou.
Nada parece mexido,
e no entanto está diferente.
E à noite a lâmpada já não se acende.

Ouvem-se passos na escada,
mas não são aqueles.
A mão que põe o peixe no pratinho,
também já não é a mesma.

Algo aqui não começa
na hora costumeira.
Algo não acontece
como deve.
Alguém esteve aqui e esteve,
e de repente desapareceu
e teima em não aparecer.

Cada armário foi vasculhado.
As prateleiras percorridas.
Explorações sobre o tapete nada mostraram.
Até uma regra foi quebrada
e os papéis remexidos.
Que mais se pode fazer.
Dormir e esperar.

Espera só ele voltar,
espera ele aparecer.
Vai aprender,
que isso não se faz a um gato.
Para junto dele
como quem não quer nada,
devagarinho,
sobre patas muito ofendidas.
E nada de pular miar no princípio.

(do livro Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycień. Companhia das Letras, 2011)

A amante de Benito Mussolini

O filme “Vincere” de Marco Bellocchio (2009) retrata uma história de amor e ódio, como são as grandes paixões.

Ida Dalser, uma bela jovem, acreditou nos ideais de Benito Mussolini. Apaixonam-se. Ida vende tudo para financiar o jornal “Il Popolo dell’Italia” que contribuiu para que o socialista Mussolini se transformasse no amado e odiado “Duce”.

Por lutar publicamente pelo reconhecimento do filho e exigir direitos, Ida é internada em hospícios italianos dirigidos por padres e freiras católicos.

O ponto alto do filme é a lucidez de um psiquiatra ao tentar mostrar a Ida que, naquele mundo fascista, a verdade era intolerável. Ela teria, ponderava o médico, de comportar-se conforme o figurino, de fazer-se submissa, de, até, decorar poemas ao gosto da madre superiora… seria o único meio de se livrar do hospício para cuidar e proteger o filho, também internado em instituições para doentes mentais.

Contudo, Ida não conseguiu compreender e seguir as estratégicas recomendações que poderiam salvá-la. Como todo amante desesperado, não aceitou a rejeição da sua loucura de amor, envolvendo o filho desde a mais tenra idade neste drama doloroso, levando-os a um fim trágico.

Ao terminar o filme, fica a triste sensação de desperdício de vidas. Repete-se, ainda e sempre, de várias formas, a tragédia grega de Medéia, aquela poderosa mulher que, ao sentir-se abandonada pelo amado Jason, mata-se juntamente com os próprios filhos.

Apesar das controvérsias há documentos na cidade de Milão, onde Mussolini fora obrigado a pagar pensão alimentícia. Esta, ainda, é uma página obscura na história italiana, somente descoberta em 2005.