Uummannaq — Groenlândia

Uummannaq — é outro espanto! O relevo da Groenlândia é uma sucessão inimaginável de pedras emoldurando a vila.

Uummannaq, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

O monte tem 1175m e o formato, apelidado pelos nativos, de Coração de Foca, significado de Uummannaq. Realmente esta imagem nos emudece.

Uummannaq, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Em toda a Groenlândia não há uma árvore sequer: impressionantemente, não há terra apropriada além da cobertura extensa de gelo por quase todo o ano. Os icebergs daqui são maiores ainda. Alguns mais altos do que o navio.

Uummannaq, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

No centro, as antigas moradas dos Inuit, uma construção penosa de pedras e turfa. O telhado será um adereço turístico?

Uummannaq, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Bem perto, um toque moderno.

Uummannaq, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Aqui, o sonho de todo menino é abater a primeira foca, cuja pele é macia como seda. É um rito de passagem, comemorado com muita festa.

Ilulissat — Groenlândia

Pelos padrões da Groenlândia é cidade grande com 4 mil habitantes. É um mundo de fiordes cheios de icebergs gigantes formados pela movimentação das geleiras; neste a magnífica visita de baleias jubarte.

Ilulissat, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Estes icebergs têm, pelo menos, 800m abaixo da superfície e 100m ou mais de altura. Em um barco pequeno navegamos entre os gigantes que nos levam a um perplexo silêncio.

Ilulissat, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Através dos fiordes, as catedrais, castelos, cavernas, rendas de gelo.

Ilulissat, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

As fotos não captam toda a beleza e mistério desta Ilulissat — significa iceberg.

Ilulissat, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Diante destas esculturas fortes o ser humano é a menor das formigas.

Ilulissat, Groenlândia – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Canal de Suez — o Mar Feito à Mão

O sonho dos faraós — desde 640 a.C. — de navegar pelo deserto, unindo o Mediterrâneo ao Mar Vermelho, tornou-se um triunfo da engenharia em 1869.

Alexandria, Egito – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

De Alexandria — Egito — contornamos o delta do Nilo até Port Said, onde começa o Canal de Suez, hoje com 195 km. É a rota mais curta entre o ocidente e o oriente. Esta via marítima situa-se na região montanhosa e desértica da Península Sinai, entre Egito e Israel. Aí, o pico de granito do Monte Sinai sagrado para o Cristianismo, Islamismo e Judaísmo.

Copyright© Marine-Knowledge

A construção do Canal de Suez, durante dez anos, é uma odisséia magnífica e trágica. Vinte mil trabalhadores escravos eram substituídos a cada dez meses, tal a dificuldade em escavar à mão as pedras e remover as areias do deserto. Sequer havia carrinhos de mão; só mais tarde foram importadas pás e picaretas da França. Um milhão e meio de egípcios participaram da construção. Houve cerca de cento e vinte mil mortos.

Ismaília, Canal de Suez – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Ainda havia os empecilhos provocados pelos caprichos do deserto: muitas vezes as tempestades de areia cobriam e fechavam as vias já escavadas, como também na tentativa dos faraós de unir o Rio Nilo ao Mar Vermelho, projeto abandonado após mil anos de reveses.

O jovem diplomata e engenheiro francês Ferdinand de Lesseps foi o grande visionário e propulsor desta obra.

Canal de Suez – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

O objetivo de Lesseps foi uma via de comércio e comunicação para todos os povos. Sem a ousadia deste determinado empreendedor os faraós modernos não veriam navios…

Do deck do MS Amadea se descortina este oásis além de um muro de pedras.

Canal de Suez – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Este canal é uma caixa de Pandora! Traz encantamento e perplexidade…

Canal de Suez – Copyright©2016 Rainer Brockerhoff

Seguimos em direção à cidade de Suez.

Lagoa do Cassange — Bahia

A massa de água doce com 1500m de comprimento, bem próxima do Oceano Atlântico, se esconde na Península de Maraú — Costa do Dendê, sul da Bahia.

Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

O nome Maraú vem da antiga aldeia indígena Mayrahú descoberta por frades capuchinhos em 1705; está a 140km do aeroporto de Ilhéus. Chega-se à Pousada do Cassange pela rodovia BR101, com uma parte de terra. A viagem é agradável, com muito verde e vista para o mar.

Por esta trilha no meio do mato, bem pertinho da pousada, chega-se à lagoa.

Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff
Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Aqui, nesta reserva da Mata Atlântica, é ótimo para esportes à vela, stand-up, caiaque e repouso na água.
Esta singular arquibancada nos reserva um luminoso entardecer.

Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

A Pousada do Cassange, em meio a belíssimos coqueiros e bromélias, oferece estes chalés com rede, ar condicionado, sossego.

Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Da varanda deste chalé abrem-se a infinitude e o balanço do mar.

Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

As ondas valentes e mornas são massagens revigorantes e saram tudo! Todo o tempo é curto. Daí ser inexplicável o turismo-vitrine, quer dizer, “observar apenas”… a uma distância regulamentar. A propósito, e para reflexão, um comentário no livro de hóspedes:

Mar maravilhoso. Desta vez, entrei pouco, não faz diferença, porque voltarei ano que vem.

Não é mesmo um grande desperdício deixar para o “ano que vem” tudo isso?

Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Fizemos a viagem pela Andarilho da Luz, inclusive o transporte de ida e volta para Ilhéus. Nas imediações há dezenas de outras praias e cidadinhas antigas, além da Cachoeira de Tremembé.
Nosso motorista e guia — Zé Domingos, (73)99824-8297, muito eficiente e bem-humorado — nos levou, também, às piscinas naturais de Taipu de Fora e nos apresentou a elegante graviola:

Lagoa do Cassange – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

No restaurante com deliciosos e fartos frutos do mar, Helinho e todos da jovem equipe são muito acolhedores e nos fazem querer voltar.

Mamirauá — no fundão da Amazônia

Aqui o viajante apreciador dos mistérios dos rios e das florestas vai descobrir um lugar maravilhoso! Já o turista apressurado poderá submergir em ondas de tédio.

Mamirauá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

A aventura começa com um pernoite em Manaus. O Teatro Amazonas é muito elegante:

Teatro Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Em um vôo de 50 minutos chega-se a Tefé. A cidade bem antiga com, aproximadamente, 70 mil habitantes, era a região dos índios Tapibas e centenas morreram na luta contra os espanhóis.

Tefé, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff
Tefé, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Na região cultiva-se a mandioca brava para a produção de farinha e, também, a macaxeira para o consumo culinário. A venda e compra de peixes é importante fator econômico. Incontáveis barcos de todos tipos, apinhados de gente, cortam de cima a baixo o lago formado pelo rio Tefé, afluente do Solimões.

Tefé, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

No porto o esgoto corre a céu aberto para o rio, parecendo bem precário o recolhimento de lixo. Aliás, o hábito de brasileiros jogarem tudo na rua é incompreensível e, infelizmente, impõe-se uma conclusão: se nós somos incapazes de um ato civilizado tão simples, jamais alcançaremos a cidadania.

Tefé, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Neste porto embarcamos no barco da Pousada Uacari para uma imersão na floresta. São deliciosos 90 minutos flutuando entre árvores, flores, frutos e pássaros.

Mamirauá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Na várzea entre os rios Solimões e Japurá entra-se pelo Canal do Lago Mamirauá. Aí, presa às margens por cordas a pousada flutuante Uacari, nosso destino.

Mamirauá — Pousada Uacari

Logo depois da confluência dos rios Japurá e Solimões entra-se no Canal Mamirauá… aqui a primeira imagem — ou será uma miragem? — das telhas cor de tijolo feitas de garrafas-PET ao estilo das ilhas do Pacífico sul: a Pousada.

Pousada Uacari, Mamirauá – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

O visionário e brilhante biólogo Márcio Ayres anteviu, num projeto pioneiro de 1997/99, uma reserva ambiental protegida cuidada pelos ribeirinhos, os legítimos senhores da floresta.

Reserva Mamirauá – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Este incrível primatologista tornou possível a utopia de promover o manejo sustentável dos recursos naturais com a efetiva participação das seis comunidades integrantes da reserva.

Comunidade Caburini, Mamirauá – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

A região é muito quente; a umidade triplica a sensação térmica. Assim, os passeios são, inteligentemente, programados para bem cedo e à tardinha. Ao meio-dia, o zênite solar leva todos — até os jacarés vizinhos — a uma reparadora soneca depois do delicioso almoço. A temperatura e a umidade nos fizeram antecipar a volta!

Pousada Uacari, Mamirauá – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

A varanda traz o gostoso e cantante silêncio das águas… as fotos são apenas desbotadas imagens…

Pousada Uacari, Mamirauá – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

O exótico macaco Uacari — o querido de Marcio Ayres — corria sério risco de desaparecer, assim como peixes-boi, pirarucus, tracajás e, em consequência, outras espécies endêmicas. Hoje essas espécies se multiplicaram e a degradação regrediu drasticamente. Ainda há muito trabalho, mas o resultado de Mamirauá, através do desenvolvimento e capacitação das comunidades deveria ser buscado por todo este Brasil.

No próximo post: pássaros e mais surpresas!

Mamirauá — o reino das aves

O regime de enchentes e vazantes estabelece modus vivendi específico e diferente para bichos, peixes, aves, plantas e ribeirinhos da Reserva de Mamirauá. Nas cheias, de dezembro a maio, 1 milhão de hectares ficam submersos. Na seca, de junho a novembro, a admirável cigana ou hoatzin

Hoatzin em Mamirauá – Copyright©2009 Pedro Meloni Nassar

…as garças elegantes…

Mamirauá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff
Mamirauá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

… e os biguás, úteis fiscais das águas limpas, não se alimentam em águas poluídas.

Mamirauá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Exímios mergulhadores preferem peixes pequenos, não representando assim concorrência para os ribeirinhos que os protegem. Aí o merecido descanso depois do expediente.

Mamirauá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Embaixo destas árvores, nas cheias, alguns peixes fazem cavernas nas margens e ali depositam ovos; pode-se ver este “estacionamento” de buracos. Também nas cheias, em uma adaptação formidável, outros peixes se alimentam dos frutos altos das árvores e desovam entre suas raízes. As enchentes podem alcançar até 15m ou mais. O único meio de transporte é o barco.

São preciosas as fotos de aves do biólogo Pedro Nassar, gentil guia bilingue da Pousada Uacari. É uma fartura; há passeios exclusivos para observação de aves. Este Uirapuru-de-chapéu-azul é mais um presente de Pedro.

Uirapuru – Copyright©2015 Pedro Meloni Nassar

Mesmo com todos os cuidados da Reserva de Mamirauá há, na Amazônia, segundo estudos recentes, 48 espécies de aves ameaçadas de extinção, principalmente pela implantação de hidroelétricas e do desmatamento. Estes passarinhos enfrentam, sim, a ameaça cruel: a indiferença do homem…

Mamirauá — comunidade Caburini

Aqui, a marca indelével é a diversidade deste mundo de águas. Visitamos Caburini descendo pelo rio Japurá. As margens oferecem o toque pitoresco das moradias…

Rio Japurá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

…as esculturas…

Rio Japurá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

…o vai-vém…

Rio Japurá, Amazonas – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Impressiona a boa adaptação dos bichos e dos homens. Nas cheias, as onças, por exemplo, se empoleiram nos galhos mais altos das árvores. A comunidade Caburini transporta as casas conforme o deslocamento do rio nas cheias. É uma praia de areias ricas em nutrientes transportadas pela correnteza. Perfeito o banho nas águas mornas do rio!

Comunidade Caburini – Copyright©2017 Maria Brockerhoff

É frequente, também, elevar o nível das “pernas” das palafitas, pois a água chega a ultrapassar os 5 metros. Implantaram a boa idéia de uma cozinha comunitária; cada qual leva um ingrediente.

Comunidade Caburini – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Os ovos de tartaruga são cuidados e protegidos sob orientação do patriarca, seu Sandro. Para multiplicar a sobrevivência, enterram-nos mais perto de suas palafitas e ajudam os filhotes a alcançar o rio. Afastam os pássaros fregueses do manjar de ovos!

Comunidade Caburini – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Aqui vive a maioria dos funcionários da Pousada Uacari. A criatividade dessa gente amável atinge o máximo nessa academia; aí o seu Sandro “puxando ferro”:

Comunidade Caburini – Copyright©2017 Maria Brockerhoff

Os frutos de Mamirauá se devem à iniciativa de mentes brilhantes e dos saberes dos ribeirinhos longe dos centros do poder e de gente cheia de teoria. O grande mérito de Marcos Ayres foi acolher o jeito de cuidar dos bichos e plantas transmitido pelos bisavós, acrescentando-lhes a técnica adequada e pesquisa científica. A participação dos ribeirinhos tornou-se fundamental para fixá-los à terra de origem, incentivo à propriedade privada e à limpeza das áreas sem uso do fogo.

Ao voltar, é forte a sensação de ter vivido nem um milésimo de toda a fartura deste universo.

Reserva Mamirauá, Amazonas – Copyright©2017 Maria Brockerhoff

Mamirauá, au revoir

Para contato: Andarilho da Luz / Reserva Mamirauá.

Mauritius — Oceano Índico

As Ilhas Mascarenhas — descobertas pelo português Pedro Mascarenhas em 1505 — compreendem Mauritius, Réunion e Rodrigues perdidas em um Éden tropical, sudeste de África. As extensas areias brancas e vegetação exuberante.

Mauritius – Autor ignorado

De Seychelles, o navio MS Amadea rumou para a República de Mauritius, a aproximadamente 1700km; depois de quase 3 dias em alto mar, aí está…

Mauritius – Copyright©2013 Miwok

A ilha vulcânica é próspera, uma rica cultura preservada, há séculos, por indianos, creoles, chineses, franceses, holandeses, portugueses e africanos. É a maior renda per capita da África. Port Louis é a capital colonial:

Caudan Waterfront, Mauritius – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

A população multiracial favorece o exercício cotidiano da cidadania e da tolerância. São perceptíveis a tranquilidade e o viver democrático pela variedade de sotaques ouvidos nas ruas da capital: créole, hindi, tamil, marathi, além do francês, inglês… …envolvidos pelas músicas e danças contagiantes. Há ainda o fator principal para esta convivência: em Mauritius não há religião oficial e, portanto, nenhuma restrição a qualquer culto.

Port Louis, Mauritius – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

Port Louis é o ponto de partida para os melhores mergulhos do mundo e para qualquer outro desejo de trekking, balões, cavalos e esportes aquáticos. O litoral brasileiro tem praias belíssimas, sem dúvida. Contudo a diferença indiscutível é a limpeza e a segurança nestas ilhas.

Mont Choisy, Mauritius – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

A França dominou Mauritius entre 1710-1810. A princípio, como aconteceu em outras regiões, os indianos foram enganados por falsos contratos e viveram, por muito tempo, em regime de severa escravidão. Desde 1968 não se tem notícias de disputas políticas ou militares, levantes e ditadores. Vigora o sistema democrático parlamentar com eleições regulares a cada 5 anos para os chefes de estado e de governo.

Imagens contrastantes de Port Louis moderna…

Caudan Waterfront, Mauritius – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

…e o mercado antigo, a ainda efervescente Chinatown…

Chinatown, Mauritius – Copyright©2017 Rainer Brockerhoff

O nome Mauritius foi homenagem ao princípe Maurits van Nassau, aquele mesmo holandês apelidado de “o brasileiro”, cuja excelente administração (1637-1644) iria transformar Recife em uma cidade moderna. Cabe aqui uma indagação: como teria sido o Brasil holandês? Apesar de toda a crueza envolvida em uma colonização, as ocupações holandesas tiveram um nível de desenvolvimento razoavelmente mais alto.

A ilha ocupa o terceiro lugar em produção mundial de açúcar. Cultiva-se também tabaco, flores e chá. Por falar nisto, experimente nestas tardes quentes o chá das ilhas: um punhado de capim-cidreira, torcer bem ou picar ou bater no liquidificador; colocar água quente, abafar e… geladeira por 2 dias antes de coar. Uma delícia!

Aqui se fabricam navios em miniatura; depois de 200 horas de trabalho manual, o resultado é a mais requintada das artes. O Jardim Botânico é um dos mais bonitos do mundo. Vimos, também, o selo “Mauritius Two-Penny”, avaliado em torno de US$2 milhões.

©Petr Kalivoda, Wikimedia Commons

A nota dissonante na Ilha Rodrigues é a pesca incessante e prolongada de octopus. Nesta atividade, as mulheres vêm quebrando os corais. Os polvos dependem dos corais e, assim, ambos estão em risco de extinção. Este trabalho típico de mulheres beira a crueldade; é pouquíssimo dinheiro e drásticas as consequências ambientais.

Mark Twain, o pai da literatura americana, em definição primorosa:

Criou-se Mauritius primeiro, depois o paraíso foi a cópia.

Vasa — o resgate de um navio

Em Stockholm, Suécia, todos os caminhos levam ao Vasa Museet. A história deste navio ultrapassa qualquer ficção.

Vasa, Suécia – Copyright©Peter Isotalo, Creative Commons

O Vasa — nome da dinastia — afundou numa clara manhã de 10 de agosto de 1628, em poucos minutos, a 1300m do porto do arquipélago de Stockholm, diante do rei, de toda nobreza e de convidados ilustres. Dos 445 tripulantes e soldados pereceram entre 30 e 50 pessoas.

Na maiden voyage — viagem inaugural — a nave mais potente da marinha sueca, a menina dos olhos de Gustavo Adolfo II, inclinou-se sob uma rajada de vento; a água infiltrou nas canhoeiras abertas e a obra-prima desapareceu nas profundezas do Báltico. Aí permaneceu por mais de três séculos.

Vasa, Suécia – Copyright©Rainer Brockerhoff

O Vasa foi projetado corretamente; contudo o rei fez exigências extravagantes para o seu palácio flutuante. Por exemplo, transportar 64 canhões, o dobro do peso previsto. A idéia do resgate, por volta de 1950, veio de Anders Franzén, arqueólogo e técnico naval. Com a obstinação dos visionários, Franzén localizou o navio e a ressurreição do Vasa levou 30 anos! Somente a retirada do mar exigiu quatro de trabalho árduo. Os mergulhadores furaram túneis sob o casco, lançaram cabos de aço e içaram o navio com o madeirame praticamente intacto.

Vasa, Suécia – Copyright©JavierKohen, Creative Commons

O motivo do bom estado da madeira é também uma grande sorte: o molusco Teredo Navalis é um devorador de madeiras de navio. Não teria sobrado uma lasca do Vasa se o Mar Báltico não estivesse poluído e se fosse mais salgado. O gosto das águas salobras não são do paladar do Teredo.

O Vasa Museet foi construído especialmente. São 7 andares de onde se vê tudo de todos os ângulos. Há réplicas de compartimentos onde a gente pode entrar, bisbilhotar, como se estivesse navegando…

Vasa, Suécia – Copyright©Peter Isotalo, Creative Commons

A equipe altamente especializada conseguiu montar o gigantesco quebra-cabeças das milhares e milhares de peças soltas, 700 esculturas de leões, deuses, heróis gregos e romanos, animais marinhos, símbolos da cultura sueca e ambições políticas; eles refizeram, também, esqueletos humanos e pertences.

Vasa, Suécia – Domínio Público

Para a preservação das velas, da madeira, das cores reavivadas cuidadosa e fielmente, a temperatura tem de ser muito baixa e a luz comedida. Tudo aqui exige manutenção contínua. Um ritual cotidiano reconhecido pelos 1 milhão de visitantes / ano.

O resgate e a reconstrução representam uma esplêndida odisséia. Aqui a atmosfera do passado, futuro, devaneio, aventura nos faz ficar suspensos…