Labirinto

Minh’alma perdida,
por aí sem guarida,
fecha-me a ferida:
onde está a saída
nesta luta bandida?
e a terra prometida
— bela e atrevida —
vive escondida
em funda jazida?

Copyright ©2013 Maria Brockerhoff

Brincadeiras do Destino

José Saramago, em “Levantado do Chão”, o impressionante romance do Alentejo, revela:

…porque os tesouros têm o seu destino marcado, não podem ser distribuídos pela vontade do homem.

Os caprichos do destino são deliciosos! Vamos lá:

O anel de casamento

Numa fazenda na Suécia, uma jovem senhora tirou a aliança para fazer um bolo. Num gesto habitual, colocou-a sobre a pia. A aliança de ouro branco e 7 pequenos diamantes sumiu!

O casal aflito procurou por toda parte; até o piso da cozinha foi levantado. Nada. Passados 16 anos, a dona do anel viu algo brilhando no canteiro da horta. Curiosa, puxou a planta; ali estava o anel abraçado a uma cenoura.

O patinador australiano

Steven Bradbury batalhou, invejavelmente, pela sua vocação. Começou a patinar no gelo aos 8 anos.  Não teve patrocinadores, sobrevivou fabricando patins, até para os adversários.

Nas olimpíadas de 1994 sua equipe conquistou a medalha de bronze. Numa competição no Canadá, a lâmina de um outro atleta, ao cair, cortou-lhe profundamente a coxa, perdeu rios de sangue com um corte de 111 pontos. Depois de meses de fisioterapia, Steven conduziu a tocha olímpica de Brisbane a Sydney.

Quanto mais difícil o caminho, mais forte a vontade de continuar. Steven, em 2000, fraturou duas vértebras cervicais, quando treinava. Ficou 6 semanas imobilizado.

Muita garra e um tanto de sorte levaram-no às semifinais das olimpíadas de Salt Lake City em 2002. É que nas quartas de final dos 1000m os dois primeiros colocados se chocaram e foram eliminados. Incrivelmente na semifinal houve outra colisão entre os primeiros colocados e Steven ficou em segundo lugar, qualificando-se para a disputadíssima final.

Steven sabia que não teria chance entre aquelas quatro feras: Apolo Anton Ohno (USA), Li Jiajun (China), Kim Dong-Sung (Coréia) e Mathieu Turcotte (Canadá). Se se juntasse ao bando, correria sério risco de se machucar mais uma vez. Então fez a inteligente opção de ficar atrás e se divertir naquela final.

Nesta escolha, o australiano demonstrou ser, além de valoroso atleta, uma pessoa com a grande qualidade de reconhecer as próprias limitações. Ao invés de desanimar-se, quis aproveitar intensa e alegremente aquele momento. Steven foi recompensado regiamente pelo padrinho-destino: última curva, a torcida enlouquecida… na arrancada final, os quatro primeiros se embolam e caem espalhados na pista… Steven alcança, majestoso, seguro, feliz, a marca dos vencedores.

Ao receber a primeira medalha de ouro em patinação para a Austrália, Steven declarou com um largo sorriso: “Fate is still smiling at me!” [em tradução livre, “o destino ainda sorri para mim!”]

Ingrês…

…na criatividade baiana! 🙂

“in full” = em cheio?? “Whole Bread” é o correto.

“sleeve” = manga de camisa, de vestido. Em inglês, “Mango”.

Eng4

“canned noble” = “pessoa nobre enlatada”?? Eram tomates secos; “dried tomatoes”.

“pitiful” = “deplorável”. Deveras! 😉

Eram bolinhos/biscoitinhos “petit fours“: expressão da culinária francesa.

Para boas risadas, aqui mais: engrish.com

Arvorismo

Porto Seguro - Copyright©2013 Rainer Brockerhoff
 

O desejo de avançar
…e de recuar
os degraus atraem
soltos no ar.
Vencido o tremor
a sensação é boa
sente-se leve à toa
como a esperança
dependurada no fio…

Copyright ©2013 Maria Brockerhoff

Luís Vaz de Camões

Ao Desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando ao cansar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.

Big Band P. Artes — Nestor Lombida

Pela primeira vez, assistimos ao show da Big Band Palácio das Artes. Uma agradável e afinada surpresa! Há cinco anos, a BBPA vem apresentando boa música sob a batuta do pianista e violonista, maestro e arranjador Nestor Lombida, formado pela Escola Nacional de Arte de Havana, Cuba.

Nestor se envolve, se incorpora e se transforma em ritmo. Tem uma forte presença alegre e carismática. Com os outros talentosos músicos a Big Band executa arranjos modernos e desafiadores.

A platéia, praticamente lotada, entusiasmou-se em aplausos prolongados. É uma sorte para os brasileiros que Nestor tenha escolhido esta terra para multiplicar seus talentos!

Uma Big Band geralmente tem 17 músicos: 4 trombones, 5 saxofones, 4 trompetes ou similares, piano, bateria, contrabaixo e guitarra. A BBPA acrescenta um trompete e, em algumas peças, um percussionista. Em contraste com outras formas de jazz, onde o improviso é constante, uma BB toca arranjos complexos e muito bem ensaiados intercalados com um ou dois solos improvisados. Nesse espetáculo, gostamos especialmente de “Transit”, composição do jovem maestro canadense Darcy James Argue — já esteve em Belo Horizonte. Veja esta peça executada pela BB do compositor, a “Secret Society“:

Note o solo de trompete na marca dos 3:00 minutos. A “idade de ouro” das Big Bands foi de 1930 a 1945 nos Estados Unidos e, no Brasil, na década de 60. O formato foi perdendo a popularidade por ser caro, devido ao número de integrantes e difícil de ser bem executado, devido à complexidade dos arranjos. Felizmente as BBs ainda existentes são de excelente qualidade, sobejamente comprovado pela BBPA.

Uma parte do concerto foi executada pelo Lyrical Jazz, pequeno conjunto com Rita Medeiros, cantando também alguns “standards” com a BBPA. Tem uma voz belíssima e bem afinada. A técnica é impecável… falta-lhe uma pitada de sal ou de pimenta!

Basílica do Vaticano – uma visita

A Basílica de São João de Latrão foi construída no Século IV pelo imperador Constantino. Lá estão sepultados 21 papas. Esta Basílica é a Catedral do Bispo de Roma, hoje, Papa Francisco.

A Universidade Villanova, na Pennsilvânia, nos oferece a possibilidade incrível de viajar confortavelmente, com imagens panorâmicas e música belíssima, por todo o complexo da Basílica. Basta ligar o som do computador e, após seguir o link, clicar em qualquer dos pontos destacados no mapa. Gire o panorama segurando o mouse em qualquer ponto e movendo-o na direção desejada.

Cadeira do Papa - Wikimedia Creative Commons License

Se você gostou, veja mais aqui

…ao amigo Háj, nosso guia por estes caminhos mágicos.

O Vestido Branco — Conto

O melhor das reuniões na casa do avô era justamente o fim de festa.

Quando a maioria dos convidados já havia se retirado, cada um dos veteranos destes encontros se acomodava para ouvir as narrativas bem-humoradas.

Assim, começa o avô:

— Coragem e medo se entrelaçam de tal forma, impedindo saber qual emoção forjou os heróis e os covardes em situações incomuns.

A atenção de todos se mobilizou, pois viria a seguir, como sempre, um caso inédito e — melhor — verdadeiro.

— Uma amiga dos tempos de juventude viveu uma experiência na qual a mistura frenética de temor e audácia trouxe-lhe assombrosa presença de espírito.

Mariana fora a uma festa. À saída, alguém propôs acompanhá-la, devido à hora tardia e à distância do sítio, fora da cidade. Ela declinou o oferecimento, pois gostava de dirigir pelas pistas vazias na madrugada e o mundo era outro. A violência urbana estava longe, figurava nos jornais da cidades grandes; os assaltantes, ainda, pareciam seguir um código de honra e a figura do malandro se enquadrava na romântica descrição de Chico Buarque.

A amiga dirigia sem pressa, quando veio um vento forte anunciando chuva boa. Depois de alguns instantes, a estrada pareceu-lhe estranha, embora passasse por ali algumas vezes, erma e abandonada.

Nenhum carro à vista; Mariana, sem saber bem a razão, subiu os vidros; naquele trecho não havia postos de gasolina, botecos, nem fiscalização; sentiu laivos de arrependimento por não ter aceito companhia. Com mais alguém, certamente, a ameaça de tempestade não a perturbaria tanto.

Para aliviar a tensão, Mariana tenta planejar a viagem da semana seguinte. Um ruído diferente no motor, porém, desviou-lhe o pensamento. A velocidade do carro diminuiu mesmo com pé no acelerador. Falta de gasolina? Tinha de sobra.

Dirige-se ao acostamento onde o motor morre. Um pesadelo! Acordar… o único remédio para se livrar dos receios apertando-lhe o peito. Respirou fundo para se controlar e refletir sobre uma possível saída.

Como num ritual para baixar a excitação, retirou, lentamente, as pulseiras, os anéis, os brincos, o colar, colocou todas as jóias na bolsa, deixando-a debaixo do banco.

Ao descer do carro o vento fustiga-lhe o rosto, agita-lhe os cabelos. Mesmo assim, tentaria fazer o motor funcionar; possuia, para a gozação da turma, alguns dons de mecânica e, até, sabia trocar pneus… com rapidez!

Abriu o capô.  A sua figura esguia, num longo esvoaçante vestido branco, era mesmo surrealista… antes de se curvar sobre o motor, uma voz grossa a faz virar:

— A bolsa ou a vida! (este era o jargão naqueles bons tempos)

Diz-lhe um sujeito forte apontando-lhe um revólver.

O susto imobilizou Mariana à luz de um relâmpago, tornando-a terrivelmente pálida. O pavor a faz fitar diretamente os olhos do assaltante, respondendo com uma firmeza e segurança que, naquelas circunstâncias, somente um ser sobrenatural teria:

— É interessante, quando eu era viva, ninguém pediu-me a bolsa… agora, já morta, você quer a minha vida?!

O ladrão, como atingido por um raio, desaparece morro abaixo sem sequer olhar para atrás.

Copyright ©1970-2013 Maria Brockerhoff