Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente ondas.
Sabendo bem que eras nuvem, depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil
fiquei sem poder chorar quando caí.
Erínias - Maria Brockerhoff
Páscoa — Passagem
…hoje percorremos a diversidade das passagens por este mundão sem fim!
• Mar Vermelho: um golfo do Oceano Índico entre a África e a Ásia. À esquerda, o Golfo e Canal de Suez; a peninsula do Sinai ao centro, Egito; à direita, o Golfo de Aqaba.
O significado da Páscoa / Passagem é bem marcante para os hebreus perseguidos pelos egípcios diante da barreira intransponível do Mar Vermelho. O mar se abriu em uma passagem segura e se fechou sobre o exército egípcio. Há muitos e variados estudos sobre essa passagem. O nome em hebraico, Yam Suph significa “pântano de juncos”; assim, a hipótese é a de que as bigas egípcias se atolaram no pântano.
• Antártida, Passagem Drake:
A sala de entrada da Antártida; Pacífico e Atlântico se fundem sob ventos fortes e manto de gelo.
• Bahia, Península de Maraú:
Na Lagoa do Cassange, a trilha do fim do túnel…
• Sérvia, Portão de Ferro:
As pontes, passagens acolhedoras, são imprescindíveis nesta vida!
• Irlanda do Norte, a Carrick-a-Rede Rope Bridge:
Esta ponte de cordas une dois penhascos de 30m de altura. É usada pelos pescadores de salmão. …silêncio profundo só cortado pelos ventos…
• Bhutan, emblemáticos os portões de entrada ao reino da felicidade:
Para os indianos, o portão de entrada é a passagem para a terra prometida como os Estados Unidos o são para os mexicanos. A imigração é severamente restrita.
• Egito, Canal de Suez; liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo:
Este é um Mar feito à mão. Aqui, a ficção imita a vida.
Nesta viagem, a travessia, desfiladeiros, desvios, gargantas, estreitos, meandros são muitos… e significativas passagens… levam-nos a encontros, separação, alívio, fuga, plenitude, libertação…
Copyright©2020 Maria Brockerhoff
2024
…eu vi os anéis de Saturno
naquele céu de AtacamaAventura incomum
até insanaTraz suspense espanto
Corta a respiraçãoMe transforma em poeira
à beira
do cosmos infinitoPara sempre no fundo d’olhos
escrito
este momento ameno
é pleno
Copyright©2024 Maria Brockerhoff
Águas de Setembro
O vento vira tudo
é o primeiro sinal
do redemoinho.Cai água pesada
ousada
em fios grossos limpos
entupindo a razão
a boca — e terra — de lobos.Um mar
fora de lugar.
A corrente luta
perde a disputa
para os restos
humanos nas ruas.Todos os anos
a selva urbana é surda
tirana
a cada verão
enchentes
pânico
perdas.Longe bem longe
a chuva é um presente
brinca em rodopios
enche cisternas
alimenta os rios
dá frescor à terra ardente
deixa o outono lavado
dentro e fora da gente.Fica o terreiro inchado
ansioso
por nova semeadura…
Copyright©Maria Brockerhoff
Primavera, 2023
A primavera traz
a voz de Olavo Bilac:
A alma da terra gorjeava e ria
Nascia a primavera… E eu te levava,
Primavera de carne, pelo braço.
Instituto Galo na Arena MRV
Em Belo Horizonte, a primeira casa do Galo foi em Lourdes — 1929 a 1968 — onde agora é o Diamond Mall. Hoje o Atlético Mineiro está na Arena MRV, bairro Califórnia, com 185 mil m2 de área construída, em terreno doado por Rubens Menin. O primeiro grupo do Clube dos 113 do Instituto Galo fez o tour pelo estádio.
O grande Bernardo Farkasvölgyi dispensa apresentação: é a arquitetura transformada em arte. O arquiteto e equipe visitaram mais de 20 estádios no Brasil e Europa para trazer mais tecnologia, segurança e conforto aos torcedores e jogadores.
Conseguiram admiravelmente: é possível evacuar a Arena MRV em até 8 minutos; não há pontos cegos, garantindo a visão do campo para todos, incluindo os portadores de deficiência. O acesso às arquibancadas superiores é pelas rampas inclinadas a 5%. As cadeiras são multicoloridas, resistentes e confortáveis:
Mais: o acesso dos torcedores visitantes ao estádio será por uma passarela direta para evitar contato com a torcida da casa. Excelente ideia é o setor sem cadeiras atrás de um dos gols: comporta 2800 torcedores para reviver a incrível Geral do Mineirão — esta, inspirada na Muralha Amarela do Westfalenstadium de Dortmund, Alemanha, onde os torcedores, também em pé, pressionam o time contrário.
O gramado é da espécie bermudas, Cynodon dactylon, indicada para climas quentes. Um moderno sistema de drenagem e irrigação automática lhe garante a saúde.
O isolamento acústico — cobertura da arena — mantém o máximo do barulho dentro do estádio, produzindo o efeito caldeirão: o som bate e volta, ensurdecedor e contagiante. Praticamente todas as 4800 cadeiras cativas já foram vendidas; os camarotes já se esgotaram. Notável a construção de uma rua em cada lateral do campo, com 7m de largura, onde os ônibus dos jogadores e carretas de até 24m entram e saem de frente. Neste sistema, o palco para eventos pode ser montado e desmontado em 24h; grande avanço, pois no Mineirão pode levar até 7 dias.
A Arena é também espaço de convivência e projetos sociais para a comunidade, além de realização de eventos. Importantíssimo é o compromisso da Arena com a revitalização da vizinha Mata dos Morcegos para o uso comunitário.
Novos troféus, novas conquistas hão de contribuir para o esporte transformar o mundo…
Bandas de Música — Caetanópolis – MG
Abrem-se as janelas, cabeças se voltam, a meninada dispara… o ritmo bem marcado dos instrumentos de sopro e percussão exerce fascínio desde sempre.
As primeiras bandas datam de 578–534 a.C. em Roma. No Brasil, a banda mais antiga — 1848 — em Goiana, Pernambuco, ainda em atividade.
Os músicos itinerantes ocuparam posição importante e conquistaram admiração e respeito em todas as épocas.
Assim também neste 12º Encontro Regional de Bandas de Música de Caetanópolis, organizado pelo maestro Basílio, discípulo do Mestre Nascimento.
BANDAS PARTICIPANTES:
- Cachoeira da Prata — maestro Fernando
- Caetanópolis — maestro Basílio
- Capim Branco — maestro André
- Cordisburgo — maestro André
- Matozinhos — maestro Matheus
- Papagaios — maestro Cristiano
- Pitangui — maestro Fred
- São Vicente — maestro André
- Sarzedo — maestro Joanir
- Sete Lagoas — maestro Hilton
- Vespasiano — maestro Robertinho
A um pulo de Belo Horizonte pela BR040, passa-se por Paraopeba, bem singular:
A poucos quilômetros, o típico e acolhedor anfitrião:
Já na Praça da Matriz de Caetanópolis, o aquecimento dá o tom…
…e une gerações em um objetivo comum: as bandas precisam de apoio, principalmente do poder público. Uma banda é, também, a semeadura de compositores. Carlos Gomes, o mais importante compositor de ópera brasileiro, foi músico de banda em Campinas; o acadêmico, linguista e regente Eleazar de Carvalho tocou na banda dos fuzileiros navais. Georg Händel, em 1749, compôs para banda. O rei Luís XIV, em Versailles, fazia-se acompanhar pelo conjunto sonoro em festas de gala e desfiles.
Encontro de banda, Caetanópolis — Copyright©2023 Rainer Brockerhoff
É o esforço, a dedicação do maestros e músicos, transformando vidas, desenvolvendo talentos. As bandas são a mais tradicional manifestação popular de cultura… e tudo começa com um coreto em uma praça qualquer e a determinação de um Mestre de Banda!
Cada banda, além do característico dobrado, executou outras músicas para o entusiasmo da platéia. As bandas sobrevivem com dificuldades e esta magnífica tradição corre o risco de desaparecer.
Na praça, há outra preciosidade: a trepadeira Jade — Mucuna Bennetti — ainda rara em cultivo. Também esta planta precisa de multiplicadores para não se extinguir.
Este encontro de bandas representa o esforço dos músicos — com o almejado e indispensável apoio do Estado e Prefeituras — aos projetos de resgate das bandas de música que, assim como a jade, continuarão a florescer.
2023
A vida traz alertas
aponta rota de fuga
saída de emergência
Fingimos não sentir
os desacertos
a desatenção
o desamor
Fazemos camuflagem
até à beira do abismo
do incontornável
Para os atentos e saudáveis
logo ali o sinal singular
plantado na praia:
Copyright©2022 Maria Brockerhoff
Domingo de Maio
…no livro da vida
as páginas do tempo nos aguardam
cheias de mistérios.
As páginas e o tempo
estão disponíveis
para os desejos
à espera
de impulsos
da ousadia de transgredir
da capacidade de ultrapassar.
As páginas
assim como todos os dias
serão preenchidos com seiva
lágrimas suor força…
cada um de nós usará a tinta das veias
para colorir umas e
outros…
Copyright©2001 Maria Brockerhoff
Fim de Linha
a gente quer segurar o passado
a surpresa da sintonia
os volteados da dança
as corridas na areia
os olhares sem palavras
os encontros completos
engano puro
o passado é lacrado
o afeto ficou
distante
vencido
hoje a conversa é caricatura
as lembranças distorcidas
machucam o presente
hoje temos nada
inútil buscar os laços
lá longe
deixemos assim
as lembranças permanecem.
Agora entre nós somos ninguém…
Copyright©2022 Maria Brockerhoff