Santana guarda intrigantes detalhes do passado em muitas casas, infelizmente, abandonadas. Na Europa, por exemplo, estas ruínas seriam preservadas como um tesouro. Com um olhar cuidadoso são, certamente, um baú de lembranças.
Estes Montes de Santana, sua gente amável, os pássaros de todas as cores são um intervalo perfeito para suspender os pensamentos, a rotina, os sobressaltos…
Os Montes Cárpatos, a terceira cadeia mais longa de montanhas da Europa, ocupam um terço da România / Romênia. São incríveis grupos de pedra espalhados pelo sudeste. O nome, Carpați, em romeno, provém do grego Καρπάτῆς όρος (montanhas rochosas). Os Carpați abrigam nascentes de importantes rios europeus.
București/ Bucarest era a Micul Paris, a pequena Paris do Oriente. Infelizmente, sob o regime comunista do ditador Nicolae Ceaușescu, a rica arquitetura do centro histórico foi destruída, incluindo antigas igrejas. Os prédios da era comunista ainda subsistem.
O suntuoso parlamento é o segundo em tamanho na Europa. Houve um concurso para sua construção; venceu uma arquiteta de 27 anos. Supervisionada pelo casal Ceaușescu, a obra sofreu as mais disparatadas intervenções; em consequência, por exemplo, o parlamento consome hoje €3 milhões de eletricidade por ano, para refrigerar no verão e aquecer no inverno. Por fora… bela viola.
A língua romena — limba română — é parecida com o italiano; aí ficamos animados em tentar ler, entender as pessoas… de repente, não se entende mais nada. Com ajuda de gentis romenos conseguimos trazer a mensagem:
A gente deve segurar o amor como um pássaro. Se se sentir livre dentro da minha mão, o pássaro ficará.
Deixamos bem cedinho o Hotel Hacienda La Ciénega, no pueblo Lasso, próximo ao Parque Nacional Cotopaxi; haveria uma procissão de 40km da Semana Santa e as rodovias seriam fechadas. Mesmo antes do sol nascer, o hotel, confirmando os bons serviços, nos serviu um reforçado desayuno.
A rodovia, inaugurada no dia anterior — parte da Carretera Panamericana projetada para ligar o Alaska a Ushuaia — corta a região cheia de vales retalhados, vegetação de todas as cores e as mais pitorescas formações rochosas.
Uma se chama Guarida del Condor, pois a montanha se parece com um gigante condor de asas abertas; um vasto canion é apelidado de Machu Picchu del Ecuador.
O rio Toachi, desaguando no Pacífico, sulcou profundamente o vale, transformando-o numGrand Canyon do Ecuador.
As casas típicas de adobe com cercas vivas, as crianças pequenas a caminho da escola, envoltas em xales coloridos e bochechas vermelhas pelo frio, as mulheres pastoreando ovelhas completam esta paleta da natureza. Toda a paisagem se equipara à do Bhutan, com a vantagem de, para nós brasileiros, estar… logo alí, ó…
O parque do vulcão Quilotoa, próximo ao pueblo de Zumbahua, tem boa estrutura. De um mirante pode-se apreciar, com conforto, toda a magia deste lugar. As muralhas, o portal de entrada, são uma obra de engenharia de alto nível.
A laguna do Quilotoa, cujas águas salinas abrigam apenas algas, tem 240m de profundidade. Suas paredes elevam-se a 400m da superfície. Nasceu da erupção em 1280 — uma das maiores do mundo no último milênio. A lava alcançou até 35.000 km² e tornou a região rica para agricultura, pastagens e fonte de estudos arqueológicos. O nível da água tem diminuído nos últimos anos.
O caminho até a laguna, com degraus e muretas de apoio, é limpíssimo e bem sinalizado. Pode-se descer em meia hora até às suas margens, onde não chegamos. E a volta?! Bem, na subida, o aclive muuuito acentuado e a altitude de quase 4000m tornam este percurso uma prova para maratonista. Os afoitos podem contratar mulas para içá-los de volta.
A vista da cratera, um espelho esmeralda emoldurado por montanhas onduladas, é de uma beleza ímpar! Já estivemos no Crater Lake, Oregon/USA, e nos lagos do Licancabur, no Chile e, a cada vez, um encantamento primevo.
Türkiye é a terra onde pode-se ir mil vezes… é fascinante. Os bazares, em İstanbul, são um mundo de sons, cores e cheiros. Os queijos enormes, colméias inteiras, doces e especiarias inigualáveis. A gente é bonita e os homens especialmente cavalheiros. Também nas ruas os vendedores são equilibristas.
A visita à Hagia Sophia, à Mesquita Azul — Blue Mosque — e ao misterioso Topkapı — residência do sultão — se equipara a uma inesperada peregrinação, quando se vai pela primeira vez.
Porém, há um lugar impressionante nem tanto frequentado por turistas: a Cisterna da Basílica — Yerebatan Sarnıcı — restaurada há mais de 30 anos, é um retângulo de 10.000 m² e 8 m de altura sustentado por 336 colunas, de vários tipos de mármore, bem abaixo do nível da rua.
Estes reservatórios, muito antigos, eram a provisão de água da cidade e estratégia de conservação, porque o inimigo atacava primeiramente os aquedutos. A água nessas cisternas chegava ao teto.
Atualmente fizeram passarelas por onde percorremos todo o espaço. O nível de água é baixo; se criam carpas para a limpeza do reservatório e sinalizar vazamentos.
A Coluna das Lágrimas veio de Creta, é cheia de olhos que minam as lágrimas dos escravos, daí o nome.
Curiosa a coluna com a cabeça de Medusa colocada de cabeça para baixo, segundo a lenda, por Justiniano para demonstrar que os deuses pagãos estavam mortos. Outros afirmam ser a intenção de neutralizar o olhar mortal da Medusa, uma das três Górgonas da mitologia grega.
A cisterna é um incrível museu vivo e abriga um pequeno palco para concertos. A construção da cisterna é engenhosa no estilo catedral, com 140m de comprimento por 70m de largura, uma escada de acesso com 52 degraus. Esta relíquia ficou esquecida por mais de cem anos até ser redescoberta em 1544 por um explorador francês.
A lembrança deste lugar nos leva lá de volta trazendo a mesma sensação de sossego e encantamento.
Centenas de pessoas estão nesta fila de espera, por horas, para dar uma olhadinha no topo do Everest, Himalaya — Nepal. Quarta-feira, 22 de maio, três pessoas morreram.
A escalada tornou-se um negócio cada vez mais lucrativo desde 1953, quando o sherpaTenzing Norgay e o neozelandês Edmund Hillary, pela primeira vez, conquistaram o intocável pico. A permissão de escalada custa US$11 mil. Para esta estação já foram concedidas, pelo Nepal, 381 licenças somente para alpinistas, sem contar 140 licenças para a escalada pelo flanco tibetano. Acrescentando-se os guias, mais de mil pessoas enfrentam este congestionamento no Hillary Step.
No Nepal, o alpinismo, o glamour e as glórias da conquista do Everest são um mundo elitizado muito distante da realidade do gentil povo nepalês. O Himalaya é uma belíssima moldura fora do alcance de quase todos.
Em Kathmandu, o guia comentou, entre divertido e irônico: “aqui, a sola do pé já acabou”, ao esclarecer o desinteresse dos nativos de Kathmandu por escaladas; andam a pé grandes distâncias para trabalhar e tudo o mais.
Além do pesado gargalo na proximidade do cume, um outro desatino neste caminho é o acúmulo de lixo: em abril, foram retiradas 11 toneladas — uma pequena fração do remanescente. Curiosamente, alguns turistas tentam simular a chegada ao cume para receber o certificado, na situação embaraçosa de um casal de indianos em 2018, alterando fotos.
No Bhutan não é permitido escalar as montanhas, a morada dos deuses e, por isso, sagradas.
No Hotel Zugbrücke em Grenzau, o Centro de Treinamento de tênis de mesa tem uma programação especial para crianças, incluindo aulas particulares. Interessa à equipe a descoberta de talentos… quanto mais cedo melhor.
E este mercadinho de castanhas no passeio? Ninguém toma conta; o freguês faz o pagamento e o próprio troco; ah! a gentileza do quebrador de nozes… essa gente fina!
Grenzau é a terra do maior mentiroso do mundo: este viajante destemido — Theodor Schmidt, 1830 a 1890 — contara aos conterrâneos o espanto de não haver, em terras distantes, carruagens puxadas por animais de quatro patas. Havia, sim, um cavalo enorme de aço cheio de gente e de mercadorias, correndo sobre os trilhos e soltando nuvens de vapor. Ninguém, claro! acreditou; daí o apelido “Lügendores” (Theo mentiroso). …nem sempre se consegue ver além do próprio mundo estreito…
O nosso Theodor teve um glorioso revide em 1884, quando o cavalo de ferro — a locomotiva — apareceu aqui e fez a multidão desabalar num misto de admiração e pavor.
…o centro de treinamento de tênis de mesa dirigido pelo competente treinador, campeão checo, Anton Stefko e auxiliares. Os treinos são em variados níveis, de 9 às 21 horas. Anton está em Grenzau desde 1982; por aqui já passaram mais de 100 mil apaixonados pelo pingue-pongue. Muitos campeões europeus, inclusive Timo Boll, já treinaram com o bem-humorado Anton.
No entorno, trilhas para longos passeios a pé ou de bicicleta. Castelos, moinhos, e 800 anos de histórias. Ficamos 10 dias treinando pingue-pongue e andando ao léu… a sensação é de estar em uma ilha. O redemoinho da cidade grande, as obrigações, o cotidiano, ficam bem longe. Estar por um tempo fora do habitat, com pessoas, lugares e costumes diferentes, é saudável e renovador!
A viagem de Molly Brown no Titanic foi puramente fortuita. Estava em Paris com a filha e voltou, com urgência, a New York onde o neto estava doente. No filme, é aquela passageira bem-humorada que emprestou o smoking para o mocinho Leonardo di Caprio.
Molly Brown também era uma pessoa muito especial, em sintonia com as emoções do outro. Foi uma mulher muito avançada, quebrou muitos padrões e viveu intensamente.
Margaret Brown foi para Denver, Colorado, USA, ainda jovem e, como todas as donzelas da época, planejava arranjar um bom partido. Como em um filme, apaixonou-se por J.J. Brown, que… era pobre. Porém, mais tarde, J.J. inventou um método de calafetar as perfurações da mina na qual trabalhava, sendo regiamente recompensado com ações e um cargo mais elevado. Assim, Molly completou, merecidamente, seus sonhos de amor e riqueza.
Embora tivesse apenas o curso fundamental, Molly Brown leu muito, aprendeu línguas, viajou por países “remotos” como Egito, Rússia, Índia, Japão; tinha uma biblioteca variada e foi até, duas vezes, candidata ao senado federal.
A sua casa em Denver é hoje um museu, onde podemos reviver o ambiente requintado, alegre e ousado para a época. Molly Brown exigiu os últimos avanços tecnológicos: eletricidade, telefone, banho e o luxo de vaso sanitário com água corrente dentro de casa! Havia, também, máquina de lavar. No terceiro piso da casa eram celebradas festas e bailes. As louças e prataria enchem armários e são de muito bom gosto.
Claro que Molly Brown, pelas suas idéias progressistas e comportamento avançado, incomodava as 36 (!) famílias tradicionais da cidade. Contudo, esta mulher admirável seguiu seus impulsos e idéias, realizando um inédito trabalho voluntário com crianças carentes e serviços protetores dos animais; disto surgiram os juizados especializados para crianças e adolescentes, os primeiros dos Estados Unidos. Ainda, batalhou por causas feministas, inclusive pelo voto.
No naufrágio, Molly Brown teve uma iniciativa excepcional quando, recolhida com os outros sobreviventes, cansada, com fome e frio, ajudou os passageiros de segunda e terceira classe, ilhados num país estranho sem família nem pertences; seus conhecimentos de francês, alemão e russo a fizeram porta-voz dessa massa de imigrantes. Ainda a caminho do porto, angariou donativos entre os passageiros de primeira classe. Uma típica atitude de Molly Brown: imediatamente publicou uma lista de quem NÃO quis participar; surtiu um grande efeito!
Publicou, ainda, artigos em jornais exigindo melhorias na segurança e a ela se deve muitos dos procedimentos atuais, como a existência de coletes salva-vidas e botes suficientes para todos os passageiros.
Aqui, em Denver, a história do inafundável Titanic está intimamente ligada a essa ilustre moradora.