Complexo do Bateia — Mato Grosso

Principalmente agora, nem é preciso voar… lugares surpreendentes estão na porta de casa!

Mato Grosso – Copyright©2014 Rainer Brockerhoff

Cada um se sente atraído por um tipo de lugar: muitos curtem o burburinho das noites e as luzes da cidade! Outros adoram as novidades da moda, da eletrônica, os cassinos, o mufurufo da Disney e adjacências. Alguns se aventuram pelas trilhas, florestas, montanhas e desertos. Cada qual escolhe a aventura que lhe dá na telha e, assim, todos se divertem. É o mais importante.

Este passeio é especial para os amantes de cachoeiras. É mágico. A Roncador Expedições nos leva ao Complexo do Bateia. Está a 60km de Barra do Garças, Goiás; parte asfalto, a outra melhor parte é por 4×4 e um tanto de caminhada. A natureza se esmera em curvas, rochas de arenito, cavernas e boas subidas; as flores daqui fazem inveja às pobres produzidas nas floras na cidade.

Mato Grosso – Copyright©2014 Rainer Brockerhoff

Melhor ainda não haver infras — como resumiu um guia de outras paragens — nada de lanchonetes, é mato puro: a água é a dos riachos cristalinos, potável e fresca. O lanche vai na mochila e passa-se muito bem. Aliás, nem há espaço para fome diante de tanta beleza.

Mato Grosso – Copyright©2014 Rainer Brockerhoff

As cachoeiras são como seus apelidos: Caldeirão da Bruxa, Pedra Furada, Esmeralda… e vão surgindo mais e mais! Cada uma mais fascinante e convidativa. A próxima cachoeira forma uma graciosa curva, despenca numa bacia revolta e… desaparece! Isto mesmo. Alguns metros abaixo, reaparece, toda faceira, sob uma pedra. Um capricho só.

Mato Grosso – Copyright©2014 Rainer Brockerhoff

O dia voa. A cabeça completamente esvaziada. É aqui o nirvana!

Na volta, a compra do queijo fresquinho e delicioso de D. Dalvina. Aí o abrigo dos animais:

Mato Grosso – Copyright©2014 Rainer Brockerhoff

Ao anoitecer, a mais bela das surpresas: o campo se ilumina com centenas de luzinhas no pisca-pisca dos vagalumes. A orquestra de luzes é emocionante, inigualável.
Com a alma lavada pelo banho nas águas cristalinas e fortes tudo está completo!

A Cultura Cigana — Buzescu

Um aspecto inteiramente novo na Romênia / Romania é a vida dos Roma, Romani, Romanes. Esta a designação correta, atual para os ciganos. Muitas vezes chamados gypsies, pois acreditava-se serem provenientes do Egito. O sufixo -ROM significa homem / povo. A caminho de București já há sinais do povo Roma nas vilas, praticamente abandonadas, com as construções típicas.

Romênia – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Provenientes do norte da Índia, a diáspora dos romani começou há 1500 anos. Desde então têm sido marginalizados e profundamente injustiçados. Sofreram também um holocausto — Porajmos — sob o regime nazista.

Esta minoria étnica — entre 12 e 15 milhões  — apresenta, claro, diversidade de costumes, regras e língua. Contudo predominam as andanças e a tradição oral da língua Roma. A maioria se encontra na Romênia, Bulgária e República Checa. Por volta de 1860 os roma se estabeleceram aqui para trabalhar nas minas e nos campos. Reforçando a perseguição, o ditador comunista Ceaușescu forçou-os a viver em guetos, tentando suprimir uma rica cultura.

Aqui, também, uma reveladora imagem: do lado esquerdo, a moradia enquanto se constrói o palacete dos sonhos à direita.

Romênia – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Contudo, a maior surpresa estava a 100km de Bucareste / București: o étnico e desconhecido vilarejo de Buzescu.

Buzescu, Romênia – Copyright©2014 Al Jazeera

Com apenas uma rua, os poucos habitantes levam anos e anos em construções rebuscadas. Fazem-se grandes e inespecíficos negócios. Aqui, também, vigora o código de honra do silêncio, tipo omertà. A preocupação com o luxo e a aparência das moradias é tão grande que a família vive em um só cômodo durante o inverno, pois não sobra 💲 para aquecer toda a casa.

Buzescu, Romênia – Copyright©2013 Dreamlands

O mercado imobiliário é paralelo: essas residências opulentas não têm valor nas transações oficiais. São negociadas apenas entre os roma. É cultural a exibição de riqueza pelas moradias, jóias e dentes de ouro. Curioso o preconceito dentro dos grupos: os pobres são menosprezados. A desigualdade é gritante. Grande o contraste entre as mansões de Buzescu e as choupanas dos camponeses e entre antigas carroças puxadas por cavalos e os Porsches e Mercedes nas garagens.

Buzescu, Romênia – Copyright©2014 Al Jazeera

Em geral, os rapazes não estudam regularmente nem frequentam universidades. São iniciados nos negócios. Preocupante é o casamento de meninas de 12 anos, sem nenhuma escolaridade ser, ainda, contratado entre as famílias.

Os festivais demonstram a riqueza cultural da música e da dança e a fartura das comidas e bebidas típicas. As melodias roma exerceram influência na música clássica e no jazz. Descendentes ilustres deste povo singular se sobressaíram — inclusive o Nobel — nas artes, teatro, ciência e literatura. No Brasil, dois presidentes: Juscelino Kubitschek e Washington Luís.

Se quiser duvidar dos próprios olhos, clique abaixo:

Alforria

Em 2014 as Erínias captaram a linguagem eloquente da foto do jovem príncipe… hoje, com o seu grito de liberdade, confirmou-se a intuição certeira do poema…

Caiu um príncipe
no buraco fundo
da copa do mundo.
O elegante rapaz
atraiu muita gente
batedores, holofote.
Teve brilho fugaz
o nobre filhote.
Cercado de menina
de mídia cretina
certamente o pobre Harry
trocaria a própria sina
— do pé à medula —
pela alegria simples
do moleque-gandula…

Copyright©2014 Maria Brockerhoff

Montes de Santana

A praça da Matriz de Santana dos Montes, hoje calçada com pés-de-moleque, era toda em grandes e originais lajotas de pedra, também usadas em passeios e alicerces.

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

O descuido e a falta de informação podem ter levado à troca desse calçamento ímpar e secular. Uma pena! Nesta faixa e na calçada, alguns preciosos remanescentes:

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

Alguns casarões das fazendas antigas se transformaram em confortáveis hotéis. O Solar dos Montes, no centro histórico, foi totalmente restaurado e ampliado, conservando-se o estilo e a elegância. Além da hospedagem de primeiríssima qualidade, o Solar é um abrigo de livros, história, música, cinema e workshops, com Medina, exímio contador de causos e Ana ao piano.

Aqui detalhes reveladores do bom gosto e finesse do Hotel Solar dos Montes:

Hotel Solar dos Montes – Copyright©2019 Rainer Brockerhoff
Açucareiro, Hotel Solar dos Montes – Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

No ambiente tranquilo a boa prosa é espontânea e alguns hóspedes se tornam já amigos de infância.

Hotel Solar dos Montes – Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

As delícias da cozinha mineira — o purê de inhame! — aquela comida redondinha com bons temperos, sem ressaltar o sal; no bufê de sobremesas criativas a compota de polpa de maracujá… tudo feito aqui mesmo, além de quitutes da culinária argentina e européia.

Aqui em Santana é relaxante submergir no passado:

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff
Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

O grupo escolar, sólida construção, infelizmente é mal conservado. O jardim poderia ser cuidado pelos próprios alunos orientados pelos professores; parece, aqui também, arraigada a idéia de ser apenas da prefeitura ou de outro órgão público — e não dos cidadãos — o dever de zelar pelo patrimônio.

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

Por aqui, ainda, trekking, cachoeiras, uma fábrica de cerveja, loja de artesanato e a oficina do capim Vetiver, cuja artesã Beverly faz um excelente trabalho com os adolescentes.

Santana dos Montes — Minas Gerais

Muita gente, ainda, não sabe dessa cidadinha — aqui, ó! — pra frente de Lafaiete.

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

Do séc.XVIII, é um circuito de casarões coloniais em estilo Bandeirante, antigas fazendas em meio a matas e serras repousantes.

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff
Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

Nestas bandas, a 130km de Belo Horizonte, o asfalto não conseguiu quebrar o tráfego sem pressa…

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

A praça da Matriz é uma surpresa a cada momento, quando se chega à janela: as casas quietas, o silêncio incomum. Faltam apenas árvores…

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

Santana guarda intrigantes detalhes do passado em muitas casas, infelizmente, abandonadas. Na Europa, por exemplo, estas ruínas seriam preservadas como um tesouro. Com um olhar cuidadoso são, certamente, um baú de lembranças.

Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff
Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff
Santana dos Montes — Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

Estes Montes de Santana, sua gente amável, os pássaros de todas as cores são um intervalo perfeito para suspender os pensamentos, a rotina, os sobressaltos…

Romênia — Rio Danúbio

Os Montes Cárpatos, a terceira cadeia mais longa de montanhas da Europa, ocupam um terço da România / Romênia. São incríveis grupos de pedra espalhados pelo sudeste. O nome, Carpați, em romeno, provém do grego Καρπάτauuς όρος (montanhas rochosas). Os Carpați abrigam nascentes de importantes rios europeus.

Creative Commons 4.0 / Wikimedia

Aportamos ao entardecer em Turnu Măgurele, România, a bordo do navio Rousse Prestige (Русе Престиж) da companhia Phoenix, na rota do Donau / Danúbio: de Passau na Alemanha ao Mar Negro.

Danúbio / navio Rousse Prestige – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Neste porto um olhar perspicaz capturou este original interruptor:

Turnu Măgurele, România – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

…e a elegante sineta do navio:

Danúbio / navio Rousse Prestige – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

București / Bucarest era a Micul Paris, a pequena Paris do Oriente. Infelizmente, sob o regime comunista do ditador Nicolae Ceaușescu, a rica arquitetura do centro histórico foi destruída, incluindo antigas igrejas. Os prédios da era comunista ainda subsistem.

București, România – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

A arquitetura residencial também foi dilapidada durante o regime:

București, România – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

O suntuoso parlamento é o segundo em tamanho na Europa. Houve um concurso para sua construção; venceu uma arquiteta de 27 anos. Supervisionada pelo casal Ceaușescu, a obra sofreu as mais disparatadas intervenções; em consequência, por exemplo, o parlamento consome hoje €3 milhões de eletricidade por ano, para refrigerar no verão e aquecer no inverno. Por fora… bela viola.

București, România – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

București é muito segura, a taxa de criminalidade bem baixa. No centro, alguns edifícios históricos foram restaurados:

București, România – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

A língua romenalimba română — é parecida com o italiano; aí ficamos animados em tentar ler, entender as pessoas… de repente, não se entende mais nada. Com ajuda de gentis romenos conseguimos trazer a mensagem:

A gente deve segurar o amor como um pássaro.
Se se sentir livre dentro da minha mão, o pássaro ficará.

Outra Vez

Outra vez primavera
brotam sementes — talvez
de amores irreverentes
Quem dera!…

Copyright©2019 Maria Brockerhoff

Copyright©2019 Rainer Brockerhoff

Vulcão-Laguna Quilotoa — Ecuador

A força, a grandeza do Quilotoa nos fazem emudecer e admitir a insignificância da condição humana! Está a 180km, sudoeste de Quito.

Parque Quilotoa, Ecuador – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Deixamos bem cedinho o Hotel Hacienda La Ciénega, no pueblo Lasso, próximo ao Parque Nacional Cotopaxi; haveria uma procissão de 40km da Semana Santa e as rodovias seriam fechadas. Mesmo antes do sol nascer, o hotel, confirmando os bons serviços, nos serviu um reforçado desayuno.

Carretera Panamericana, Ecuador – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

A rodovia, inaugurada no dia anterior — parte da Carretera Panamericana projetada para ligar o Alaska a Ushuaia — corta a região cheia de vales retalhados, vegetação de todas as cores e as mais pitorescas formações rochosas.

Parque Quilotoa, Ecuador – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

Uma se chama Guarida del Condor, pois a montanha se parece com um gigante condor de asas abertas; um vasto canion é apelidado de Machu Picchu del Ecuador

Parque Quilotoa, Ecuador – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

O rio Toachi, desaguando no Pacífico, sulcou profundamente o vale, transformando-o num Grand Canyon do Ecuador

As casas típicas de adobe com cercas vivas, as crianças pequenas a caminho da escola, envoltas em xales coloridos e bochechas vermelhas pelo frio, as mulheres pastoreando ovelhas completam esta paleta da natureza. Toda a paisagem se equipara à do Bhutan, com a vantagem de, para nós brasileiros, estar… logo alí, ó…

Parque Quilotoa, Ecuador – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

O parque do vulcão Quilotoa, próximo ao pueblo de Zumbahua, tem boa estrutura. De um mirante pode-se apreciar, com conforto, toda a magia deste lugar. As muralhas, o portal de entrada, são uma obra de engenharia de alto nível.

laguna do Quilotoa, cujas águas salinas abrigam apenas algas, tem 240m de profundidade. Suas paredes elevam-se a 400m da superfície. Nasceu da erupção em 1280 — uma das maiores do mundo no último milênio. A lava alcançou até 35.000 km² e tornou a região rica para agricultura, pastagens e fonte de estudos arqueológicos. O nível da água tem diminuído nos últimos anos.

Parque Quilotoa, Ecuador – Copyright©2015 Rainer Brockerhoff

O caminho até a laguna, com degraus e muretas de apoio, é limpíssimo e bem sinalizado. Pode-se descer em meia hora até às suas margens, onde não chegamos. E a volta?! Bem, na subida, o aclive muuuito acentuado e a altitude de quase 4000m tornam este percurso uma prova para maratonista. Os afoitos podem contratar mulas para içá-los de volta.

A vista da cratera, um espelho esmeralda emoldurado por montanhas onduladas, é de uma beleza ímpar! Já estivemos no Crater Lake, Oregon/USA, e nos lagos do Licancabur, no Chile e, a cada vez, um encantamento primevo.

Setembro

Chegou setembro
Ah! a primavera dos teus olhos…
Doído me lembro

Copyright©2019 Maria Brockerhoff

Zürich – Copyright©2018 Rainer Brockerhoff

Istambul — Turquia

Türkiye é a terra onde pode-se ir mil vezes… é fascinante. Os bazares, em İstanbul, são um mundo de sons, cores e cheiros. Os queijos enormes, colméias inteiras, doces e especiarias inigualáveis. A gente é bonita e os homens especialmente cavalheiros. Também nas ruas os vendedores são equilibristas.

İstanbul, Türkiye – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

A visita à Hagia Sophia, à Mesquita AzulBlue Mosque — e ao misterioso Topkapı — residência do sultão — se equipara a uma inesperada peregrinação, quando se vai pela primeira vez.

Blue Mosque, İstanbul – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

Porém, há um lugar impressionante nem tanto frequentado por turistas: a Cisterna da BasílicaYerebatan Sarnıcı — restaurada há mais de 30 anos, é um retângulo de 10.000 m² e 8 m de altura sustentado por 336 colunas, de vários tipos de mármore, bem abaixo do nível da rua.

Yerebatan Sarnıcı, İstanbul – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

Estes reservatórios, muito antigos, eram a provisão de água da cidade e estratégia de conservação, porque o inimigo atacava primeiramente os aquedutos. A água nessas cisternas chegava ao teto.

Atualmente fizeram passarelas por onde percorremos todo o espaço. O nível de água é baixo; se criam carpas para a limpeza do reservatório e sinalizar vazamentos.

A Coluna das Lágrimas veio de Creta, é cheia de olhos que minam as lágrimas dos escravos, daí o nome.

Yerebatan Sarnıcı, İstanbul – Copyright©2006 Rainer Brockerhoff

Curiosa a coluna com a cabeça de Medusa colocada de cabeça para baixo, segundo a lenda, por Justiniano para demonstrar que os deuses pagãos estavam mortos. Outros afirmam ser a intenção de neutralizar o olhar mortal da Medusa, uma das três Górgonas da mitologia grega.

A cisterna é um incrível museu vivo e abriga um pequeno palco para concertos. A construção da cisterna é engenhosa no estilo catedral, com 140m de comprimento por 70m de largura, uma escada de acesso com 52 degraus. Esta relíquia ficou esquecida por mais de cem anos até ser redescoberta em 1544 por um explorador francês.

A lembrança deste lugar nos leva lá de volta trazendo a mesma sensação de sossego e encantamento.