Titanic — Belfast

Curtir o luxuoso e romântico navio era um desejo bem forte. O navio foi construído em Belfast, Irlanda do Norte, onde, até hoje, as mesmas companhias mantém os guindastes trabalhando nas docas. O Titanic sempre foi motivo de especulação; a partir de 1985 tornou-se a grande atração na literatura, filmes, pesquisas e fofocas. Naquele ano, Robert Ballard, oficial da marinha mercante americana, professor de oceanografia conhecido e respeitado pelos trabalhos em arqueologia submarina e em naufrágios, descobriu os destroços, depois de varrer com a equipe e o robô Argo centenas de quilômetros no fundo do mar.

Ballard tentou, inicialmente, manter em segredo o exato lugar do naufrágio e impedir a invasão daquele “sagrado cemitério”. Relevante descoberta dessa expedição foi a confirmação de que o navio se partira em dois e a popa sofrera danos muito maiores. O competente oceanógrafo descreveu a primeira imagem da proa:

…rios gelados de ferrugem cobrem os lados do navio e se espalham no fundo do oceano.

Ballard retornou em 1986, desta vez com o submarino tripulado Alvin, para uma pesquisa detalhada do mais famoso naufrágio de todos os tempos. A curiosidade, para o bem ou para o mal, trouxe à tona os mistérios, as histórias e os mitos.

A partir de 1986 a RMS Titanic Inc. dedicou-se a preservar o legado do navio; em sucessivas expedições foram resgatados 5500 artefatos. Com este magnífico acervo, complementados por filmes, fotos e testemunhos vários, a empresa recriou espetacularmente toda a atmosfera do Titanic em exposição por todo mundo.

Não escapamos ao fascínio e já corremos atrás do Titanic: assistimos o documentário de Ballard nos Estados Unidos; visitamos em Halifax, Canadá, o belo cemitério onde estão centenas de vítimas; a gente pôde se arrepiar ao tocar em um enorme iceberg de verdade na primeira exposição da RMS Titanic em San Francisco. Em Denver, Colorado, envolvemo-nos emocionalmente com Molly Brown, famosa sobrevivente do Titanic. Na Irlanda, estivemos em Cobh, último porto de onde partiu o Titanic, hoje museu da emigração.

Titanic/Belfast - Copyright©2013 Rainer BrockerhoffAgora, em Belfast, completamos a peregrinação ao visitar o maior museu do mundo sobre o Titanic. A grandiosidade, o avanço tecnológico, os detalhes, enfim toda a Mostra é comparável à construção do próprio navio. Resumindo:

uma ida a Belfast apenas (!) para reviver todas as emoções daquela viagem e voltar no dia seguinte é altamente compensadora.

Atlético e companhia aérea no Marrocos

Parece conexão esdrúxula? Nem tanto.

A multidão atleticana voando para o Marrocos, certamente pela Royal Air Maroc, poderá ter sérios problemas com a desorganização da companhia, como se pode constatar pelas inúmeras queixas no Skytrax. Ontem recebemos pedido de ajuda de passageira cuja mala extraviou-se. O sumiço de bagagem é constante, comum, e insolúvel.

Entre outros problemas, malas de passageiros de origens diversas desaparecem sem deixar vestígios e, na Royal Air Maroc, as queixas, os problemas daí decorrentes, as causas do sumiço, o “destino” (?) das bagagens também tornam-se invisíveis, irrespondíveis, intocáveis, misteriosos e sem vestígios…

As operadoras e agências de viagem sérias e a ABAV (Associação Brasileira de Agentes de Viagem) têm a obrigação de alertar os consumidores da gravidade do problema, já público e notório, na Royal Air Maroc. As seguradoras de viagem sérias também deveriam fazer o alerta.

No caso presente, a seguradora está seguindo o trâmite legal dos prazos e tenta a recuperação da bagagem tão somente na própria companhia aérea.

Claro, extravio de bagagens acontece. Mas aos precedentes, à frequência, ao descaso, à omissão contínua, já não se pode mais chamar de extravio ou perda fortuita. Há outro nome para isso…

De Papel Passado

Somos donos dos dias
cheios de carícias.

Somos donos da noite
embalada pela chuva.

Somos donos da magia
ímpar do presente.

Somos donos de um mundo
cercado de hortelã.

Somos donos do amanhecer
de mãos entrelaçadas.

Somos donos da química
irresistível do corpo.

Somos donos da morte
do riso e do amor!

Copyright©2013 Maria Brockerhoff

Giant’s Causeway — Belfast

O tal do Giant’s Causeway — a calçada dos gigantes — é magnífico, duvidamos dos próprios olhos! São milhares e milhares de colunas de basalto agarradinhas, formando as mais exóticas figuras geométricas. Em dias claros, avista-se a costa escocesa. Esta paisagem de favos de uma colméia tem origem vulcânica de uma erupção de 60 milhões de anos aproximadamente.

Nesta floresta de pedras uniformes, com colunas de 4, 5, 6, 7, 8 ou 9 lados, parecendo lápis gigantescos de até 12m, avançando sobre o mar, se encaixa perfeitamente a lenda de dois gigantes — um irlandês e um escocês — na construção e destruição do enigmático calçadão, numa disputa de poder.
Através deste calçadão, o gigante irlandês alcançaria a pequena ilha Staffa na Escócia. Lá, a Gruta de Fingal se estende espetacularmente por 80m rochedo adentro. Esta caverna tem a mesma surrealista formação basáltica; veja aí mais uma razão para creditar aos gigantes 😉 esta incrível obra de arte, considerada patrimônio da humanidade.

Próximo do Giant’s Causeway está, entre outras atrações, a Carrick-a-Rede Rope Bridge. É uma ponte de cordas de 20m de comprimento, unindo dois penhascos de 30m de altura; era usada, tradicionalmente, pelos pescadores de salmão. A vista é esplendorosa e uma sensação de plenitude é trazida pelo profundo silêncio só cortado pelos ventos.

A Causeway Coastal Route é considerada uma das mais maiores jornadas do mundo: de Belfast a Londonderry, ou vice-versa. Além de castelos, da Bushmill’s, uma destilaria de uísque de 400 anos, de campos de golfe, é uma rota de descobertas onde a natureza brincou como uma criança livre, travessa e engenhosamente criativa: trilhas, jardins selvagens, florestas, cachoeiras, penhascos banhados pelo mar, este guarda-costas temperamental.

Ao final da tarde até um banco de madeira pareceu aconchegante para um cochilo… os olhos tão cheios precisavam guardar aquelas imagens inesquecíveis!

Brasil, um grande lixão?

É desanimador o resultado da celebração do reveillon. As pessoas saem às ruas para a festa de passagem do ano, bem vestidas, confraternizam-se, fazem planos e projetos, têm alegres expectativas… e o saldo em 2014? Centenas de toneladas de lixo nas ruas, praias e praças!

O Estadão, em maio/2013, publicou os dados alarmantes: as cidades brasileiras não cuidam do lixo. Por ano, são 168 (!) estádios do porte do Maracanã cheios de lixo despejados em condições impróprias, em lugares inadequados.

Em 1876 o francês Aleixo Gary criou o serviço de limpeza de rua no Rio de Janeiro, que só mais tarde passou para a administração municipal. Os coletores de lixo foram denominados “garis” em homenagem a este visionário, que não ficaria nem um pouco satisfeito ao constatar a situação do lixo no Brasil. Mais de um século depois, a cidade do Rio de Janeiro está em 9º lugar entre as 20 cidades mais sujas do mundo. Mais de um século depois, nós brasileiros não conseguimos fazer o ato mais simples, rudimentar, primário e elementar da civilização: colocar o lixo no lixo.
A consequência deste comportamento leva à irrespondível dúvida: se não conseguimos compreender e executar este ato básico, seremos capazes de exercer a cidadania? Haverá possibilidade de o povo brasileiro se desenvolver dignamente?

O primeiro sinal do grau de cultura e civilidade de um povo é a limpeza dos espaços públicos. Tóquio está em primeiro lugar na lista das cidades mais limpas do mundo. Vimos lá grupo de pessoas recolhendo, se houver, um mínimo de lixo às margens do rio, nas ruas e praças. Isto é uma rotina das famílias japonesas. Vimos, pela manhã, os proprietários de lojas e restaurantes limpando a poeira da porta de seus estabelecimentos. Aqui, “neste país”, quando alguém varre as calçadas, joga o lixo na rua, nos bueiros.

Nas copas do mundo de futebol, as equipes de limpeza entram nos estádios imediatamente após os jogos para recolher o lixo. Em 2006, na Alemanha, os garis tiveram uma grande surpresa: no lado da torcida japonesa não havia, sequer, um papelzinho de bala nas arquibancadas. Este fato nos traz uma ínfima e desesperada esperança:

Se outros povos podem, se outros conseguem, por que não os brasileiros?

Movimento Nossa BH

Um sonho para Belo Horizonte

Para BH, meu sonho
é simples e tristonho.
De enorme relevância,
e ninguém dá importância.
É óbvio degrau da educação
desprezado e inacessível.
Adivinhou o sonho impossível?
BH sem lixo na rua, na fonte
sem água servida
sem restos de comida
na triste avenida
no feio horizonte.
Este sonho terá saída?
Duvido. Depende somente
tão só, exclusivamente,
de cada cidadão
sem exceção!

Copyright©2014 Maria Brockerhoff

Insônia — não tente vencê-la!

Não há pretensão alguma de examinar um tema tão vasto e complexo. Cabem aqui as considerações interessantes do filósofo norueguês Jon Elster, citado por Juan Antonio Rivera, in “O que Sócrates diria a Woody Allen (2004, Ed. Planeta), sobre a obsessão de certas pessoas com a insônia. Perseguir uma boa noite de sono é receita certa para o inverso:

  • a pessoa tenta esvaziar o pensamento, num esforço incompatível com a “ausência de concentração que se está tentando conseguir”;
  • a pessoa se coloca num estado de pseudo-resignação à insônia: uma leitura, TV, bebida, etc.. É a tentativa inútil de enganar a insônia… 🙂
  • finalmente, a autêntica resignação baseada na convicção, na certeza de que a noite será eterna e malvada; há a entrega, a luta acabou. Neste momento, o sono chega!

Jon Elster, com lucidez, compara esta situação com aquela em que perseguimos certos objetivos inatingíveis. Isto porque são subprodutos, assim como a serragem, quando se serra a madeira. A serragem vem gratuitamente e vale muito menos, mas não podemos obtê-la diretamente, como o sono e a felicidade, mesmo se concentrando e colocando todos os cinco sentidos em ação.

O sono, a felicidade, o desejo de se apaixonar, o aumento de auto-estima, o esquecimento de uma perda, entre uma infinidade de estados, não virão através de processos racionais, de metas programadas, de exercícios deliberados… porque tudo de bom nesta vida é de graça: é essencialmente subproduto. Esta “serragem” está ligada ao mais íntimo de nós.

O filósofo e economista inglês do séc.XIX John Stuart Mill já descobrira que a busca da própria felicidade é estéril. A única opção — o pulo do gato — é escolher um outro fim, escolher um outro objetivo como propósito de vida. A partir daí, o subproduto virá de mansinho, sem alarde, em silêncio: aí sim, a “serragem” da felicidade chegou!