Jorge Carlos Amaral de Oliveira, o poeta “Mané do Café”, edita a excelente idéia Folhinha Poética!
Cada dia tem o seu poema:
http://folhinhapoetica.blogspot.com.br/2015/02/13fev2015-maria-brockerhoff.html
Jorge Carlos Amaral de Oliveira, o poeta “Mané do Café”, edita a excelente idéia Folhinha Poética!
Cada dia tem o seu poema:
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Neste último Shangri-La, não é permitido escalar as montanhas sagradas — a morada dos deuses. Poluir as águas ou cortar as florestas atrai doenças e a ira das divindades. Invejável sabedoria!
De Sikkim se chega ao Bhutan por Phuentsholing, a cidade fronteira a 150 Km. O belo e característico portal de entrada estabelece as profundas diferenças culturais:
O Bhutan é a terra prometida para os indianos, como os Estados Unidos o são para os mexicanos. A imigração é restrita e os indianos são admitidos, normalmente, para serviços gerais e para o trabalho pesado nas estradas, incluindo as mulheres.
O país se abriu ao turismo nesta década e parece não desejar hordas de turistas. Somente turistas com guias locais tem permissão de entrada, além do pagamento da taxa diária de US$250 a US$280 por pessoa. Assim, temos a sorte de encontrar uma terra praticamente virgem sem os pecados do turismo em massa.
Os parques são protegidos e conservados pela população. Por todo lado, muitas hortas, campos de arroz, e as “farmácias” de variadas plantas medicinais, também usadas em festivais e outros rituais.
No centro de Phuentsholing, o mosteiro Zangdopalri muito rico em mandalas e significativas figuras budistas. À noite, o templo estava lotado. Por aqui, a arte de tecer é muito valorizada e os mestres são homens. Há pouco tempo, as mulheres foram iniciadas nesta arte.
O Hotel Lakhi é mais modesto com um atendimento perfeito e gentil. Os garçons, no jantar, se afastam de costas! O recinto de massagens é bem colorido, cheio de almofadas, com um cheiro gostoso de ervas; o eficiente serviço leva a gente para as nuvens dos Himalayas!
A caminho de Paro, na encruzilhada de Punakha e Phuentsholing, os rios Wong Chhu e Paro Chhu se encontram e, daqui da ponte, a dança das águas azuladas é de rara beleza. Neste ponto, outro belíssimo portal butanês.
Este polêmico livro do nosso baiano é de uma extrema e terrível lucidez.
O assunto é pesado, até assustador! Daí, talvez, a relutância de o leitor aceitar que a natureza humana é, sim, capaz de ultrapassar os limites do Bem e do Mal.
A parte final do livro é destoante e, mais uma vez, a gente desejou que um corajoso Editor tivesse usado, ali, um misericordioso bisturi…
Contudo, o objetivo aqui é, tão somente, transcrever — ipsis litteris — um trecho que, por si só, vale o livro. Cada releitura deste texto faz o coração saltar diante da perturbadora e dura verdade:
A vida é vitoriosa não quando se tem o que se costuma ver
como bênçãos, ou seja, beleza, dinheiro, honrarias e assim por diante.
Essas coisas podem perfeitamente conviver e entrar em simbiose
com a mais completa infelicidade.
Elas não representam uma vitória por mais que seus detentores
e os que erroneamente os invejam queiram pensar assim.
A vida é vitoriosa quando se satisfaz o que de fato há em cada um de nós,
aquilo que de fato ansiamos e quase nunca nos permitem,
nem nos permitimos, reconhecer.
A cidade, com a sua gente cordial e hospitaleira, é o ponto de partida para paisagens incomuns e mosteiros milenares. É uma importante referência para os estudiosos do Budismo tibetano.
O caminho para Gangtok — através de Pelling e Yuksom — é uma subida, uma subida verde, exuberante dos Himalayas. A vista é uma escada gigante com muitos telhados e o verde cristalino das plantações de arroz nos degraus. As águas-turquesa do Rio Rimbi lutam bravamente com as pedras enormes nas passagens estreitas. As pontes suspensas — quase pinguelas — onde, às vezes, passa apenas uma pessoa, acrescentam mais uma pitada pitoresca à natureza.
É curioso ver bando de crianças bem pequenas com os uniformes arrumadinhos, desacompanhadas de adultos, percorrendo longas distâncias a caminho da escola. As crianças da região são autosuficientes — uma diferença enorme das do lado de cá! — correndo pela rua, desviando-se dos bichos e dos veículos com a esperteza lhes transmitida pela vida difícil. Vimos grupos de jovens de idades variadas também de uniformes, bom sinal! Não há transporte público, todo o mundo anda a pé.
Também, curioso o trabalho pesado de quebrar pedras, sem proteção alguma, a cargo das mulheres. Vimos dezenas delas encarapitadas em montes de estilhaços, com os quais se recompõem as estradas. Curiosíssima a manobra da pá amarrada a uma corda, feita por dois trabalhadores. Um deles pega o cimento ou areia com a pá e um outro puxa na corda para ajudar no movimento. Se a moda pega por aqui…
Pernoitamos em Pelling, no Mount Pandim, um agradável hotel com inacreditável vista para o Kanchenjunga! Daqui para Yuksom há, em todas as cercas, extensíssimos pés de chuchu, enormes e velhíssimas mangueiras — exóticas novidades para os turistas alemães. As açucenas são um escândalo em beleza e cor.
Gangtok é antiga, com 100 mil habitantes amontoados em sobrados morro acima. Aqui está começando uma campanha para coleta de lixo e limpeza de ruelas, quintais e praças. O quarteirão fechado para pedestres, com lojas e cafés, é limpo; mas em geral há lixo por toda parte. Isto encerra uma interessante questão cultural: há anos, os nepalis e os nativos lepcha e bhutia jogavam fora folhas, palhas, cascas, sementes. Além disso, os bichos, ao devorarem os restos, faziam a limpeza. Com a “modernidade” vieram os plásticos, as latas, papéis alumínio, isopor, etc. etc. e o povo continua atirando tudo pela janela, como se ainda fosse degradável. É um problema seríssimo, como no Brasil também, infelizmente.
Em muitos pontos há painéis sobre o tratamento da Hanseníase, ressaltando não ser a doença hereditária, nem pecado ou maldição.
O Hotel Nor-Khill é um antigo palácio de verão do rei Namgyal, com belos jardins, boa comida apimentada e a tradicional cerveja chaang. Daqui vimos, também, um estádio no qual se desenrolava uma animada “pelada”. O futebol parece popular; muita gente veio nos consolar pelo escabroso 7×1 na última copa…
Neste hotel, ainda se serve o tradicional five-o’clock tea; o tal “chá inglês” tem origem prosaica. Foi o jeito de a Duquesa de Bedford acalmar o vazio do estômago, já que em meados do Séc. XIX o jantar era muito tarde. Assim, enganava-se com um chá Darjeeling por volta das 17:00; aos poucos, os famosos scones ou bolinhos ingleses vieram para a mesa. Não ficava bem a uma duquesa comer a sós, assim convidou algumas amigas também famintas e… ao longo do tempo virou o chá das cinco!
Gangtok não é uma cidade bonita; a gente tem excelentes motivos para vir:
Através de Gangtok chega-se a Nathu La Pass, um corredor de passagem entre Índia e Tibet, fechado em 1962. A antiga Rota da Seda, reaberta em 2006, é a mais alta estrada para veículos motorizados: 4.310m. Estrangeiros não tem autorização para percorrê-la.
Despedimo-nos de Sikkim e rumamos para o Bhutan, o reino do dragão.
A cadeia de montanhas oferece caminhadas de 280m a 8586m de altitude, onde se alcança o pico Kanchenjunga: “Os Cinco Tesouros das Neves”. É o paraíso dos trekkers. Cada um pode escolher o nível de desafio aos deuses do Himalaya.
Yuksom ou Yuksam, significa “lugar de encontro dos sábios”, é hoje um pequeno e pobre vilarejo. Foi a capital de Sikkim de 1641 a 1670. Neste lugar, três Lamas tibetanos escolheram o monarca dos Bhutia, a etnia predominante, de natureza dócil. O rei recebeu o título de Chogyal, i.é, rei virtuoso, e a dinastia o de Namgyal, que reinou até 1975, quando Sikkim foi anexado à Índia, como 22º estado.
Os Lamas coroaram o Chogyal em um trono de pedra, ainda hoje atração para turistas e peregrinos.
Yuksom é o portão de entrada para os picos nobres, incluindo o Kanchenjunga, a morada da deusa Dzo-nga. Daqui partem excursões durante todo o ano pelas trilhas de rododendros, pinheiros, abetos, pastos de yaks, rios, lagos e cachoeiras. Entre estas a espetacular queda da pedreira do Khangchendzonga. Aqui, apenas um detalhe:
O Kathok é o irmão menor do Khecheopalri. Curtimos lá um piquenique! Às margens dos lagos, centenas de bandeiras, rodas de oração e de sinos. Para a tradição tibetana são mensagens e sons de compaixão, de sabedoria e de paz levados pelo vento…
Os aventureiros mais bem preparados e audaciosos atacam o Goecha-La, a 4950m. É uma trilha duríssima, com temperaturas muito baixas. Quem consegue chegar lá se diz recompensado com a vista inigualável e espetacular do Kamchenjunga.
Um dos vencedores é o indiano George Thengummoottil. Ele teve, desde criança, seríssimos problemas de visão. A médica preferiu concluir que eram invencionices. Sofreu muito e, mais tarde, veio o diagnóstico: ceratocone, uma doença degenerativa incurável na córnea dos dois olhos… as imagens, as pessoas, a vida, tudo se transforma em borrões!
O ceratocone oferece as alternativas de perda de emprego, perda de esperança e até perda de vida. George escolheu outra bem diferente: luta com o ceratocone viajando pela Índia, alcançando os pontos mais altos do Himalaya. No seu blog, podemos até “ouvir” o brado:
Yes, I did it!
quando documentou a árdua subida do Goecha-La neste filme premiado:
A cerveja típica é a Chhaang ou Tongba. Uma mistura de milhete ou cevada despejada num tubo alto de bambu. Aos poucos, acrescenta-se água quente para absorver o gosto. Degustada lentamente por um canudo, também de bambu, é exótica, elegante e deliciosa!
A magnífica região de Sikkim esconde-se no Himalaya entre Nepal, Tibet e Bhutan, protegida pelo imponente Khangchendzonga. É a terra dos rododendros inigualáveis — principalmente em Barsey — orquídeas selvagens, picos nevados — o terceiro mais alto do mundo — rios cor de turquesa, majestosas cachoeiras, lagos sagrados, florestas de magnólias, bambus, pássaros raros e milenares mosteiros. Sikkim conversou-se intocada por séculos. Aqui é o lugar onde a terra e o céu se encontram, abençoado pelos lamas tibetanos. O seu povo de natureza dócil é descendente das etnias Lepcha, Limba e Buthia.
O reino de Sikkim passou por períodos turbulentos com invasões dos nepaleses, bhutaneses e a guerra Gurkha/Gorkha em 1841. Isto sem contar as intervenções do império britânico, quase sempre desfavoráveis às colônias e à vizinhança.
A história recente relata fatos que culminariam na desejada anexação de Sikkim — até então um país independente — pela Índia. A versão oficial é a do plebiscito de 1975 favorável à anexação; assim, o belo reino de Sikkim tornou-se o 22º estado indiano. Contudo, a versão do povo e dos jornais da época é bem diferente.
A consulta popular, através de plebiscito, foi organizada a toque de caixa. O resultado favorável à anexação — 97.5% (!) — é duvidoso, segundo fontes históricas e jornalísticas. O livro do conceituado jornalista Sunanda K. Datta-Ray — Smash And Grab — descrevendo este processo de anexação foi banido da Índia. O governo de Indira Gandhi teria manipulado a opinião pública, explorando a divisão étnica entre nepaleses e os nativos, desmoralizando a monarquia e, o mais grave, fraudando o plebiscito!
Entre as reviravoltas políticas, o romance entre o príncipe viúvo P. T. Namgyal, futuro rei/Chogyal, e a jovem americana Hope Cooke é um autêntico conto de fadas.
Eles se conheceram em Darjeeling no exclusivo e elegante Windamere Hotel em 1959, numas férias de verão de Hope. A solidão na infância de ambos os atraiu fortemente.
Hope ficou órfã aos 2 anos. Cresceu com os avós. Gente muito rica mas indiferente e sem calor afetivo. Estudou em bons colégios, é uma pessoa afável e interessante. Escreveu recentemente a autobiografia Time Change.
Casaram-se em 1963 num mosteiro real em Gangtok, sob as bençãos de 14 Lamas. A noiva, com um vestido de seda de Benares, um cinto de ouro com uma adaga e demais acessórios de pedras preciosas, percorreu o templo sob o som de trombetas tibetanas, toque de címbalos e cantochão dos Lamas.
A jovem rainha se interessou pela cultura do país, envolveu-se em programas educativos, melhorando a condição das crianças em idade escolar. Eles foram muito felizes… mas o conto de fadas não resistiu aos sérios problemas políticos. Com a anexação, o rei foi deposto e Hope voltou aos Estados Unidos com os filhos, onde mora até hoje. O 12º e último rei de Sikkim morreu com câncer em 1982, finalizando uma auspiciosa dinastia iniciada em 1642.
Este retorno ao passado é ao redor do Chhaang saboroso, aqui em Gangtok, a capital, nosso próximo post.
Elabora o poema como
a fruta elabora os gomos,
a fruta elabora o suco,
a fruta elabora a casca,
elabora a cor e sobre-
tudo elabora a semente.
Obra Poética — 2004
Ilustração Háj Ross
É indelével a imagem de homens e mulheres, exaustos e desnutridos, curvados sob o peso de botijões de gás, sacos de cimento… transportam tudo, como animais de carga.
O rumo é Kalimpong, uma cidade a 50km de Darjeeling. Se esta viagem tivesse nome, seria o roteiro do espanto, da perplexidade. Chega a ser brutal o contraste entre a natureza exuberante e as condições de vida nessas bandas ao norte da Índia.
A região é belíssima, com o Himalaya cada vez mais verde e recortado. Mas, os deslizamentos de pedras e terra — pela falta de contenção e corte de árvores na abertura de acessos — são uma roleta russa nessas estradas.
Aparentemente, a manutenção de estradas se faz, apenas, em casos extremos. Agora mesmo, fomos parados para uma desobstrução: uma pedra despencou, e não faz muito tempo.
As montanhas são salpicadas por incontáveis e belíssimas quedas d’água de centenas de metros de altura. Muitas vezes, essas correntes caudalosas inundam as estradas que serpenteiam à beira de profundos despenhadeiros e canyons. É de uma beleza arrepiante. Não há outro caminho. Ao cruzar com outro veículo, a gente fecha os olhos. Numa das curvas, vimos um veículo “aterrissado” lááá no fundão, com as rodas para cima.
Os campos de chá são uma incrível paisagem ondulante a perder de vista. Caminhar pelas cheirosas trilhas de chá é muito agradável. A gente tem vontade de ficar por ali. A colheita é feita, principalmente, por mulheres, a 2 dólares/dia — 130 rúpias. A fábrica de chá de uma multinacional está cheia daqueles chavões de marketing: missão, objetivos, proteção ao trabalhador, ao meio ambiente, etc. etc.. Na prática, tudo muito longe deste discurso.
O centro de Kalimpong, sem a vista ímpar do Kanchenjunga — o 3º pico mais alto do mundo — é ainda mais caótico do que Darjeeling. A cidade é velhíssima.
Mulheres de todas as idades são enfeitadas, envoltas em saris e echarpes de cores fortes e douradas. As sandálias com pedrarias mostram unhas — sim, a dos pés! — pintadas e compridas como garras.
Nesta mistura de mercado, frituras, gente, sujeira e montes de tubulações, as pessoas são muito amáveis; a cidade é segura para turistas. Não há notícias de roubos ou assaltos.
O comércio é intenso e variado. Não vimos grades e as mercadorias se espalham pelas ruas, pelos balcões sem aparente vigilância.
O Hotel Silver Oaks — da cadeia Elgin — pertenceu, no passado, a gente importante. Tem amplos salões, incluindo um bom restaurante. Os jardins mostram a riqueza da flora de Kalimpong, rododendros, orquídeas e magníficas folhagens.
Saindo da cidade — ufa! — as estupas do Mosteiro Durpin. Aqui, e onde há monges budistas, é significativa a diferença. Tudo limpo. A atmosfera é leve e cativante!
As pinturas e mandalas, ricamente detalhadas, contém a doutrina e a tradição do budismo tibetano. Dá para perceber que o budismo é um ponto de encontro: recolhe, aceita, incorpora as diferenças culturais; parece não haver exclusão do outro, nem donos da verdade.
Darjeeling, uma cidade incrustada a 2045m de altitude no Himalaya, é emoldurada pelo imponente Kanchenjunga, o terceiro pico mais alto do mundo.
De Munique, voamos para New Delhi. Pernoite no Lemon Tree Hotel; muuito bonito e muuito confortável. Este contraste entre o luxo e a miséria da população nos choca a cada vez. O sistema de segurança no hotel é bem rigoroso: os veículos são parados em uma cancela e revistados, incluindo o motor. Os hóspedes passam pelo controle de raio-X e revista pessoal à parte. Pelo menos, o atendimento é cuidadoso e o pessoal muito cortês.
Vôo de Delhi a Bagdogra, com conexão em Kolkata/Calcutá. Tudo muito verde, cheio de palmeiras. A floresta exuberante, que cobre quase todo o Himalaya, já começa aqui. Nestas regiões chove quase todos os dias, daí a vegetação inigualável. Em Bagdogra começa a verdadeira Índia.
Somos recebidos pelo guia Anand numa simples e tocante cerimônia de origem tibetana. É a entrega da khata, uma echarpe de seda branca ou palha. É o símbolo budista de boa vontade, boas vindas, compaixão, amizade e pureza. É oferecida em solenidades oficiais com os lamas e, também, em casamentos, aniversários, funerais e em outras ocasiões significativas. Vimos, depois, essas echarpes/khatas amarradas em mosteiros, carros, varandas, jardins. É, sim, um sinal de gentileza e de paz.
Aqui em Bagdogra, onde pegamos um 4×4, é um espanto só: gente, vacas, cães, cabras, carroças se misturam ao buzinaço constante. Logo ali, um mercado ao ar livre de frutas e verduras, temperos e pós de todas as cores. Em qualquer canto, frituras em tachos fumegantes, sacos de peixes secos e duvidosos. Uma garota se aproximou, apontou para um saco. O vendedor pesou com uma pedra (!) e entregou-lhe uma “mão” de cascas de camarão numa folha de jornal. Lixo por toda a parte.
A gente vai subindo, subindo, passando por vilarejos em estrada muito estreita e precária. Os contorcionistas — ops! — os motoristas fazem incríveis manobras em ultrapassagens com os retrovisores recolhidos. Cada um se esforça e quem puder vai passando… sem xingatório. Nenhum acidente!
Em Darjeeling acrescente o trem ao mufurufo. Vem apitando de longe e o pessoal, carros, bichos desocupam, sem atropelos, os trilhos. Da janela do trem, que parece despencar às sacudidelas, dá para pegar qualquer produto no balcão ou dependurado nas vendinhas enfileiradas à margem. O comércio de bugigangas é intenso.
Darjeeling é uma cidade com uns 200 mil habitantes. No “centro” uma pequena parte plana e a outra grande encarapitada no Himalaya. Por causa das montanhas, os espaços são ocupados verticalmente. Casas boas e outras caindo aos pedaços. Janelas e varandas enfeitadas com flores “brasileiras”. As “trombetas” ou “saias-brancas” — Brugmansia — são imensas e belíssimas. Coloridas begônias nas varandas carcomidas pelo sol e chuva. Parece não haver coleta de lixo. Tudo, tudo é jogado na rua e nos quintais.
O Hotel Elgin é uma elegante e antiga vila inglesa com um jardim cheio de vasos de flores. A comida muito boa e variada. A pimenta bem forte é quebrada com molhos à base de iogurte. Ah! Café de verdade não tem, apenas o solúvel, argh! O chá, muito bom, é a bebida oficial de qualidade reconhecida internacionalmente.
• A atração pitoresca é o “Toy Train” — Darjeeling Himalayan Railway — com a mesma locomotiva desde 1881. É a segunda estrada de ferro mais alta do mundo! O apito e o barulho da locomotiva são ensurdecedores. O trajeto curto com paradas para fotos e para absorver a paisagem.
• O Museu do Everest, com uma boa maquete de toda a cordilheira, ressalta as escaladas dos indianos. Os equipamentos, vestimentas, aparelhagens, fotos, depoimentos mostram os sucessos, as tragédias e a tenacidade dos alpinistas de todas as épocas nos misteriosos cumes gelados.
• A Escola de Alpinistas, perto do Museu, recebe “alunos” de todas as partes do mundo. Não permitem visitas. A gente contempla cá de fora… com uma inveja danada!
• O Zoo de Darjeeling é renomado, grande, em meio a uma floresta. Entre outros, há ursos, tigres e o fofo panda vermelho, com um rabo peludão. Havia animais visivelmente estressados. Decididamente os zoológicos são prisões cruéis e deveriam ser fechados.
• Emocionante este mosteiro Yiga Choeling Ghoom, um agradável refúgio budista. Se houver alguma saída para este mundo… será pelo budismo.
No final da tarde, o fervedouro de Darjeeling é impactante… ali a imponderável ordem no caos…