Zimbabwe — Victoria Falls

O vôo de Johannesburgo a Victoria Falls é de 90 minutos. O desembarque na pequena cidade das cataratas é um refinado exercício de burocracia, durando quase o mesmo tempo do vôo. Chega até a ser cômico:

  • antes de entrar no galpão da imigração, uma farda distribui os formulários para preenchimento, ali de fora mesmo, numa fila que outra farda organiza. Cada passageiro ajeita-se como pode em pé, procura caneta dali, daqui, apoia o papel na mala, na parede, abre/fecha mochila para tirar o passaporte, etc.
  • Aí começa o malabarismo das fardas neste saguão com ventilação e iluminação precárias. Duas fardas andam pra lá e pra cá, outra abre gavetas, mexe, mexe; conversam entre si, saem. Volta outra, liga computador, mexe na gaveta, pega papel, sai. São dois guichês sem funcionário. Um para o pagamento de 30 dólares, outro para apresentar o passaporte. Para isso, uma farda organiza outras duas filas. Uma pessoa fica, pelo menos 10 minutos, em cada guichê. No primeiro paga-se; uma farda sinaliza e troca-se de guichê (!) para o passaporte… dizem as boas línguas que no Brasil já foi assim…
  • Neste ínterim, o senta-levanta das fardas continua em câmara lenta. As longas filas em silêncio, só os olhos se reviram uns para os outros… discretamente. Se alguém esboçar um mínimo gesto de impaciência, a coreografia é interrompida e — bem depois — recomeça-se mais devagar ainda!
  • É muito interessante a demonstração de poder — exercido somente ali — pelo staff da imigração. Compondo o teatro, há uns 3 ou 4 imitadores dos doríforos, parecendo dormir de olhos abertos, imóveis ao fundo. Doríforos eram aqueles soldados ou lanceiros antigos que, em rígida posição de sentido, seguravam as lanças…
  • As malas — uma montanha! — ficam à parte. Vencido o túnel da paciência 🙂 pegamos nossa única mochila e as férias recomeçam!

O pessoal da terra fora do galpão, com um sorriso fácil, é prestativo e gentil. Um grupo de rapazes de etnia Shona, em peles de antílopes como guerreiros, dança e canta vigorosamente. O ritmo é contagiante. O convite para cair na dança é aceito num impulso, para o gáudio/espanto dos turistas europeus! Os guerreiros se alternam para ensinar os passos, as reviravoltas, aí tudo se transforma em risadas e boa ginástica.

Os policiais, na praça, usam um cassetete muito comprido ou um estilingue cuja forquilha termina em uma ponta aguda como uma faca. Isto causa mal-estar e revela o nível de opressão à qual aquele povo cordial está submetido.

Victoria Falls, a vila, é cheia de lojas de artesanato, saias e turbantes coloridos e muitos hotéis. Nas ruas, exposição de esculturas e pinturas exóticas belíssimas.