Sou assaltante de livros: se a vítima está nas mãos de um amigo sem tempo para ler ou aguardando o próximo final de semana para isso, zás! tomo-o de assalto e cumpro o prometido, devolvo o volume encapadinho dois dias depois.
O último butim foi As Avós de Doris Lessing, inglesa, nascida na antiga Pérsia, de 91 anos.
O livrinho (os autores devem se arrepiar com o diminutivo) somente pelo volume bem fino, é instigante, profundo. Descreve um invejável estado de felicidade e a solução amorosa dos amantes incomuns.
Mostra, com maestria, o emaranhado das relações humanas, assim como quem não quer nada… sem lições… sem propósitos… Lessing se dá ao luxo de, às vezes, deixar no ar frases do diálogo!
Do assunto “avós” passa longe. Li, reli. Ao terminar voltava ao início consecutivamente.
A cada leitura um novo ângulo, um outro lado do personagem, uma faceta não apreendida…
Quem já aprendeu a ler subtextos enxerga a interpretação que Lessing dá ao esquecido adágio “os incomodados que se mudem”. É que, nos triângulos desamorosos, quando a pessoa tem a sensacão de não pertencer ao grupo, à tribo, ao mundo do parceiro e não sente ter importância naquele ninho, se tiver auto-estima, bate em retirada! Irá buscar o seu lugar afetivo longe dali, sem exigências, sem “indenizações”.
Se, ao contrário, for ressentida e invejosa tentará destruir o parceiro, o grupo, a tribo… não importam as feridas, os golpes, ainda que na própria pele… Lessing demonstra, com lucidez, estas duas escolhas.
Este é apenas um dos insights que o livro provoca… há muitos outros… descubra-os!
Olá,
Se você é assaltante de livros… viva a violência!
Se pudéssemos ao menos reverter tudo e levar essa forma de assalto até ao governo, invadindo os morros e tomando as escolas, os grupos escolares, as esquinas… Viva a violência! Agora encontrei um blog que adorei e vou divulgar! Parabéns!