Blue Jasmine — filme de Woody Allen

Mais uma vez, o grande cineasta desnuda, como por acaso e de forma divertida, a natureza humana. Combina magistralmente humor e profundidade para retratar cada um de nós na tela. É um filme rico para quem estiver disposto a uma viagem interior, a repensar os motivos, as razões do cotidiano e as — aparentemente pequenas — concessões diárias ao parceiro/parceira, à família, ao consumo… enfim, a agir como Jasmine, absolutamente incapaz de conversar sobre a escolha de um possível curso para uma possível profissão.

Certamente muitos pensarão estar aquela gente muito longe de nós; ledo engano! Seguindo a característica principal — a leveza e a ausência de “dramalhão” — Woody Allen mostra como cada uma das irmãs é capaz de enxergar, com lucidez, as soluções… …para a outra! Jamais para si mesma. Outro ponto abordado é a falta de discrição generalizada; todos “contam” tudo de todos. Não há cuidado algum pelo sentimento e pela privacidade do outro.

A vista da baía de San Francisco e da Golden Gate traz saudades, as músicas de primeira, os atores muito bons. Nem faltou a pequena armadilha presente em todos os filmes. Desta vez, Jasmine, em mais um acesso de megalomania, típico de gente insegura e vazia, diz ter viajado de primeira classe. Em retrospectiva, pode-se constatar que os assentos do avião, nas primeiras cenas, não são de primeira; nem mesmo de classe executiva! 😉

O filme nos acompanha e, como toda boa história, continuamos a trama da carente Jasmine e do pessoal em torno como se fizesse parte do nosso aqui e agora.

Meia-Noite em Paris

Woody Allen confirma, mais uma vez, a sua genialidade. O filme é riquíssimo pelas histórias paralelas de Hemingway, Dalí, Gertrude Stein, Picasso e muitos outros. A semelhança dos atores com os personagens é mais um ponto alto. A gente fica em suspenso na poltrona. Em cada encontro com os personagens do passado há um contexto especial e excitante. Conhecendo essas passagens, o filme se completa. As músicas são deliciosas.

Woody deve ter vivido muitas vezes aquela situação e, profundo conhecedor das ziguiziras humanas, retratou tão bem o personagem Gil Pender.

No meio daqueles americanos consumistas, superficiais e pedantes, Gil era mesmo um excêntrico. Também sensível, romântico e inteligente. Cada um nesta vida encontra a sua “turma” e Gil soube curtir, aproveitar as lições e a vida dos grandes escritores, artistas, gente bonita e interessante que não “aparece à meia-noite” para turistas idiotas… magistral a idéia de convidar a elegante e fina Carla Bruni. Quem mais conseguiria tamanha glória de levá-la a fazer uma ponta?

Como toda obra-prima, os insights posteriores continuam nos divertindo muito tempo depois da saída do cinema. A noiva de Gil tem os defeitos já apontados pelo poeta Trasíbulo Ferraz, na poesia “Orgulhosa”, cujo final se encaixa aqui. Gil encontra o caminho para os seus anseios e dúvidas; despacha, com firmeza e classe, a rica noiva:

Tola, vaidosa, atrevida
Soberba, inculta e banal.