Insônia — não tente vencê-la!

Não há pretensão alguma de examinar um tema tão vasto e complexo. Cabem aqui as considerações interessantes do filósofo norueguês Jon Elster, citado por Juan Antonio Rivera, in “O que Sócrates diria a Woody Allen (2004, Ed. Planeta), sobre a obsessão de certas pessoas com a insônia. Perseguir uma boa noite de sono é receita certa para o inverso:

  • a pessoa tenta esvaziar o pensamento, num esforço incompatível com a “ausência de concentração que se está tentando conseguir”;
  • a pessoa se coloca num estado de pseudo-resignação à insônia: uma leitura, TV, bebida, etc.. É a tentativa inútil de enganar a insônia… 🙂
  • finalmente, a autêntica resignação baseada na convicção, na certeza de que a noite será eterna e malvada; há a entrega, a luta acabou. Neste momento, o sono chega!

Jon Elster, com lucidez, compara esta situação com aquela em que perseguimos certos objetivos inatingíveis. Isto porque são subprodutos, assim como a serragem, quando se serra a madeira. A serragem vem gratuitamente e vale muito menos, mas não podemos obtê-la diretamente, como o sono e a felicidade, mesmo se concentrando e colocando todos os cinco sentidos em ação.

O sono, a felicidade, o desejo de se apaixonar, o aumento de auto-estima, o esquecimento de uma perda, entre uma infinidade de estados, não virão através de processos racionais, de metas programadas, de exercícios deliberados… porque tudo de bom nesta vida é de graça: é essencialmente subproduto. Esta “serragem” está ligada ao mais íntimo de nós.

O filósofo e economista inglês do séc.XIX John Stuart Mill já descobrira que a busca da própria felicidade é estéril. A única opção — o pulo do gato — é escolher um outro fim, escolher um outro objetivo como propósito de vida. A partir daí, o subproduto virá de mansinho, sem alarde, em silêncio: aí sim, a “serragem” da felicidade chegou!

Movimento Nossa BH

Um sonho para Belo Horizonte

Para BH, meu sonho
é simples e tristonho.
De enorme relevância,
e ninguém dá importância.
É óbvio degrau da educação
desprezado e inacessível.
Adivinhou o sonho impossível?
BH sem lixo na rua, na fonte
sem água servida
sem restos de comida
na triste avenida
no feio horizonte.
Este sonho terá saída?
Duvido. Depende somente
tão só, exclusivamente,
de cada cidadão
sem exceção!

Copyright©2014 Maria Brockerhoff

Aparência

Para alguém…

Corres saltitante
para o abismo!
Buscas gente brilhante
só em coluna social.
Gastas dias preciosos
atrás dos poderosos
vazios, tristes, pobres
de prazer e de ternura.
Desperdiças a esmo
tempo, suor, doçura
fugindo de ti mesmo.
Trocas as tuas origens
a emoção mais pura
por luzes e miragens.
Segues a via da loucura!

                 

Além desta carta
Posso ser, apenas, espectador…

Copyright ©2013 Maria Brockerhoff

Futebol e foguetório

“Nunca antes neste país” se viu tanta falta de civilidade, tanta “quebra de decoro” em todos os níveis, em todas as profissões, em todas as faixas etárias, em todos os graus de escolaridade!

Os índices de violência, de analfabetismo, de pobreza, de corrupção são negados, sistematicamente, pelas altas esferas governamentais; desconsideram a validade de TODAS as pesquisas, onde se aponta qualquer aspecto negativo “deste país”. Ao invés de verificar as causas, os fundamentos da pesquisa, claro, o desgoverno “deste país” prefere ignorar ou negar os FATOS. Essa omissão gera reflexos e resultados indesejados em todas as áreas.

Um exemplo disto é a exacerbação da selvageria dos foguetórios e buzinaços neste domingo — 10 de novembro de 2013 — como em centenas de outras ocasiões. Não há limites para a conduta inqualificável, grosseira, de grupos de vândalos, muitos de bairros nobres, classe AA, da capital mineira. Isto, também, é uma forma de violência.

O foguetório — com bombas cada vez mais fortes — começa bem cedo e continua noite adentro. Estes grupos dominam, decidem, fazem a baderna, a gritaria, a desordem, o barulho ensurdecedor AONDE, QUANDO E COMO querem e a grande massa dos cidadãos (existe esta categoria “neste país”?) apesar de profundamente indignada continua engolindo sapos, lagartos e bombardeios.

Recorrer a quem? Quem terá a independência necessária para estampar na folha de capa de jornais e revistas estes abusos e persistir até a solução? Onde estão a lei, o ministério público, os representantes políticos do povo, a decência e o convívio minimamente civilizado?

O único meio, ainda, é o jornal, a imprensa. Sem a força da mídia a conduta abusiva e a barbárie vão continuar campeando IMPUNEMENTE.

Quousque tandem abutere, baderneiros, patientia nostra?

Nas cavernas, as estalactites e estalagmites são formadas paulatinamente, gota a gota… é o mesmo processo  da formação cultural: a permissividade, a falta de limites na educação, a inércia da comunidade, vão transformando estes excessos em costume, em “cultura”. As crianças seguirão o triste exemplo. Por aqui, tudo se justifica, tudo é “assim mesmo”. Já é “cultural” o jeito brasileiro do mais-ou-menos… infelizmente.

O povo brasileiro tem muitas qualidade, sim; por isso é preciso cultivá-las e incentivá-las… esta baderna sistematizada, certamente, não é o caminho. A celebração é legítima, o exagero não!

Halloween… no Brasil

É intrigante acompanhar o avanço de certos movimentos vindos de fora.

Halloween — de “hallow”, termo antigo para “santo” — significa “Véspera dos Santos”, era uma celebração, na Irlanda, do fim das colheitas e da aproximação do inverno, desde os tempos medievais. Em países de língua portuguesa, Halloween passou a significar “Dia das Bruxas”.

A igreja de Roma comemorava o todos-os-santos em maio, a partir de 609 d.C. O papa Gregório III, no século VIII, mudou a comemoração para primeiro de novembro, com o suposto objetivo de esvaziar as festividades pagãs.
Enquanto os “pagãos” celebravam o Samhain alegremente com fogueiras, cantos, danças, rituais celtas de fertilidade e fartura de alimentos… …a igreja pregava abstinência, a peregrinação e o arrependimento. 🙂

Já em 1593, Shakespeare mencionava o Hallowmas, quando as crianças pobres iam de porta em porta, recolhendo os bolos dedicados às almas… um jeito — bem inglês! — de aplacar a consciência.

Um pregador africano explica o uso de fantasias e disfarces macabros no Halloween: esta era a última noite para as almas vagarem pela terra, assim todos se fantasiavam e usavam máscaras para escapar da vingança dos mortos.

A grande fome — Great Famine, 1845 a 1849 — dizimou e expulsou milhões de pessoas da Irlanda; um tanto destes emigrou para os Estados Unidos; a família Kennedy, por exemplo, é de origem irlandesa. Lá, os irlandeses continuaram a celebrar a véspera de todos-os-santos em suas comunidades. Somente a partir da década de 1920 a festa se espalhou, coincidindo com a colheita das morangas, mais fáceis de esculpir do que os nabos usados pelos irlandeses.

A origem de comemorações folclóricas é, além de controversa, muito rica em histórias e conjecturas. Em cada lugar, cada povo vai-lhe acrescentando o tempero dos próprios valores, usos e costumes. Nos Estados Unidos, ultimamente, os jovens se embebedam e os resultados, claro, passam longe da alegria original. O excesso de doces ingeridos pelas crianças tem gerado, atualmente, problemas muito sérios.

No Brasil, tem-se propagado o tal do Halloween nas academias, nos colégios, nas festas no final de outubro… qual o sentido disto? Assinalar a data em escolas de inglês pode se justificar, mas cá de fora? Nosso folclore tem motivos de sobra para comemoração: Saci Pererê, Mula-sem-cabeça, Bumba-meu-boi, a Catira Mineira, etc. etc. Nossas crianças certamente não sabem, nunca viram uma Congada ou uma Folia de Reis. É uma tradição belíssima, enriquecedora, com o ritmo contagiante de guizos amarrados nas canelas dos cantadores e tocadores. As festas vivenciadas e cultivadas aqui nesta terra podem ser mais interessantes, mais expressivas do que qualquer Halloween importado.

O importante é a força da tradição que o Halloween ou qualquer outra festa folclórica traz em si. Simplesmente importar modismo, copiar figurino, repetir refrão empobrecem qualquer manifestação, porque estará desconectada de significado cultural ou dos costumes de um povo.

A moça da Academia…

…a roupa de ginástica branca colante, o top bem decotado realça os seios fartos e o bronzeado; a risada alta, os dentes clareados, a boca carnuda… sente-se a dona do pedaço.

Com gestos amplos e requebros atrai os professores à sua volta e todos os olhares do salão.

Dá até gosto observar os volteios, a maquiagem perfeita, a satisfação de reinar ali entre os equipamentos de fortalecer o corpo, absolutamente invisíveis para a morena bonita, de bunda arrebitada.

… a voz — uma pena! — uma oitava acima, desafinada… com um mínimo de percepção ficaria caladinha.

A moça-corpo, acompanhada do personal trainer, finge malhar, disfarça com pesos leves, desfila a malha bem justa; mais gritinhos e, cumprida a pantomima, vai-se…

Copyright©2012 Maria Brockerhoff

A Violência Contra A Mulher

A cada dois minutos, cinco mulheres sofrem violência doméstica no Brasil; é uma situação gravíssima da qual não se discute uma das principais causas, aliás nem é mesmo admitida:

SÃO AS MÃES AS EDUCADORAS DOS FUTUROS MARIDOS AGRESSIVOS.

Esta lição é diária e subliminarmente ensinada quando:

  • é do rapaz a chance de ir à faculdade se os recursos financeiros são insuficientes para cobrir as despesas da filha e do filho;
  • é da menina a obrigação de lavar as roupas e/ou esquentar a comida do irmão;
  • as mães, já desde cedo, preparam o enxoval de noiva das filhas;
  • o grande sonho inculcado nas meninas é o de um feliz casamento, com um “bom partido” ($$$);
  • o Papai Noel traz para as meninas bonecas, panelinhas, maquiagem; para os meninos, aviões, carrinhos, aparelhos eletrônicos que já exigem deles tirocínio e exercício motor;
  • as meninas usam, desde bebê, brincos, lacinhos, roupas de fru-fru, incômodos sapatinhos duros e já com saltos, meias-calças colantes, apetrechos “lindos” mas impeditivos de uma boa corrida ou alegres brincadeiras. Isto é o treinamento precursor para que as moças se submetam às tiranias da moda e às mais insanas dietas e cirurgias plásticas;
  • quando a litania do “ruim com ele, pior sem ele” é despejada na orelha das meninas sob as mais variadas formas;
  • a gravidez é o golpe seguro para a realização de um casamento ou a possibilidade de polpuda pensão.

Não é preciso enumerar mais toda a diferença da criação entre meninos e meninas; contudo, tais costumes e métodos levam à internalização da submissão feminina, trazendo, mais tarde, a aceitação passiva da violência física e/ou psicológica por parte dos maridos, companheiros e namorados.

É uma questão polêmica e muito grave, porque acobertada pela sociedade conivente e hipócrita, principalmente quando o número de mulheres que retiram as queixas contra os parceiros violentos tem aumentado consideravelmente. Fazendo assim, as mulheres ensinam a mais terrível das lições:

AOS FILHOS, O PODER ILIMITADO DOS HOMENS;
ÀS FILHAS, O CAMINHO, SEM SAÍDA, DA HUMILHANTE DEPENDÊNCIA.