A genialidade de Rosa dispensa qualquer superlativo. Na centésima leitura ainda há segredos, mistérios e achados.
Em “Jardins e Riachinhos” (1983), Guimarães Rosa faz uma confissão preciosa. É de uma clarividência doída, é um grito de alerta:
Não gosto de falar da infância. É um tempo de coisas boas, mas com pessoas grandes incomodando a gente, intervindo, estragando os prazeres. Recordando o tempo de criança, vejo por lá um excesso de adultos, todos eles, mesmo os mais queridos, ao modo de soldados e policiais do invasor, em pátria ocupada. Fui rancoroso e revolucionário permanente, então. Já era míope e nem mesmo eu, ninguém sabia disso. Gostava de estudar sozinho e de brincar de geografia. Mas tempo bom de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta.