A Passageira do Titanic

A viagem de Molly Brown no Titanic foi puramente fortuita. Estava em Paris com a filha e voltou, com urgência, a New York onde o neto estava doente. No filme, é aquela passageira bem-humorada que emprestou o smoking para o mocinho Leonardo di Caprio.

Margaret Brown – Wikimedia Commons

Molly Brown também era uma pessoa muito especial, em sintonia com as emoções do outro. Foi uma mulher muito avançada, quebrou muitos padrões e viveu intensamente.

Margaret Brown foi para Denver, Colorado, USA, ainda jovem e, como todas as donzelas da época, planejava arranjar um bom partido. Como em um filme, apaixonou-se por J.J. Brown, que… era pobre. Porém, mais tarde, J.J. inventou um método de calafetar as perfurações da mina na qual trabalhava, sendo regiamente recompensado com ações e um cargo mais elevado. Assim, Molly completou, merecidamente, seus sonhos de amor e riqueza.

Embora tivesse apenas o curso fundamental, Molly Brown leu muito, aprendeu línguas, viajou por países “remotos” como Egito, Rússia, Índia, Japão; tinha uma biblioteca variada e foi até, duas vezes, candidata ao senado federal.

A sua casa em Denver é hoje um museu, onde podemos reviver o ambiente requintado, alegre e ousado para a época. Molly Brown exigiu os últimos avanços tecnológicos: eletricidade, telefone, banho e o luxo de vaso sanitário com água corrente dentro de casa! Havia, também, máquina de lavar. No terceiro piso da casa eram celebradas festas e bailes. As louças e prataria enchem armários e são de muito bom gosto.

Denver, Colorado – Copyright©2012 Rainer Brockerhoff

Claro que Molly Brown, pelas suas idéias progressistas e comportamento avançado, incomodava as 36 (!) famílias tradicionais da cidade. Contudo, esta mulher admirável seguiu seus impulsos e idéias, realizando um inédito trabalho voluntário com crianças carentes e serviços protetores dos animais; disto surgiram os juizados especializados para crianças e adolescentes, os primeiros dos Estados Unidos. Ainda, batalhou por causas feministas, inclusive pelo voto.

No naufrágio, Molly Brown teve uma iniciativa excepcional quando, recolhida com os outros sobreviventes, cansada, com fome e frio, ajudou os passageiros de segunda e terceira classe, ilhados num país estranho sem família nem pertences; seus conhecimentos de francês, alemão e russo a fizeram porta-voz dessa massa de imigrantes. Ainda a caminho do porto, angariou donativos entre os passageiros de primeira classe. Uma típica atitude de Molly Brown: imediatamente publicou uma lista de quem NÃO quis participar; surtiu um grande efeito!

Publicou, ainda, artigos em jornais exigindo melhorias na segurança e a ela se deve muitos dos procedimentos atuais, como a existência de coletes salva-vidas e botes suficientes para todos os passageiros.

Aqui, em Denver, a história do inafundável Titanic está intimamente ligada a essa ilustre moradora.

Denver: de Pompéia ao Titanic

Denver (Colorado) é uma cidade agradabilíssima; parques por todo lado, gramado a perder de vista, ruas largas, muitos museus, livrarias, bibliotecas; os motoristas educadíssimos (é uma maravilha!) apesar da cidade ser do porte de Belo Horizonte.

Ontem voltamos ao ano 79 DC, em 24 de agosto, quando o dia amanheceu claro e brilhante na cidade de Pompéia, perto de Nápoles (Itália). 24 horas depois, milhões de toneladas de cinzas e pedras vulcânicas já haviam sepultado Pompéia e a cidade vizinha de Herculanum, matando cerca de 16 mil pessoas.

No Denver Museum of Nature and Science as réplicas dos artefatos, os mosaicos e objetos originais, os filmes em 3D das casas da cidade de 20 mil habitantes, rica e progressiva, são tão bem feitos que nos faz estar em Pompéia naquele dia, incluindo a devastadora erupção do Vesúvio. Pompéia permaneceu intocada por quase 1700 anos. Vem sendo desenterrada gradualmente, quarteirão por quarteirão, casa por casa; é um dos maiores trabalhos arqueológicos do mundo.

A natureza destrói e conserva: há utensílios domésticos, adornos, jóias e pães (!) perfeitamente conservados pelas cinzas. Muito interessantes são os dados com os quais os romanos gostavam de jogar. Um dos dados foi perfurado e continha um chumbinho para favorecer a jogada máxima… demonstrando que os mais “sabidinhos” existem desde sempre. 🙂

Impressionante o trabalho iniciado pelo arqueólogo Giuseppe Fiorelli em 1860, através do qual pode-se ver as pessoas, os animais congelados em seus últimos momentos (inclusive um cão asfixiado pela sua própria corrente). As cinzas úmidas moldaram os corpos que, ao longo do tempo, se desintegraram, deixando uma cavidade que serviu de molde preenchido com gesso pelo arqueólogo. Hoje essas “esculturas” demonstram o terror, o pânico da fuga e, em alguns casos, a aceitação fatalista do fim.

No próximo post: o Titanic!