Os desertos são caprichosos e cheios de mistérios. O Saara, na Líbia/Tunísia, o Vale da Morte no Mojave (Califórnia) e, agora, o Atacama são majestosos e impressionantes. Os desertos de sal de Uyuni e o Chott el Djerid (também na Tunísia) nos deixam sem palavras diante daquela imensidão luminosa.
A cidadinha de San Pedro de Atacama, construções do Séc.XVI, conseguiu manter suas construções baixas em adobe e pedras avermelhadas do deserto com as ruas cobertas de areia e cheias de sotaques de todas as partes. A igreja tem um teto de cactus e é coberta com um tipo lustroso de sapé.
Cheia de simbolismo, a bandeira de quadradinhos coloridos representa os povos indígenas do Chile, Peru e Bolívia.
Em San Pedro de Atacama o “tour astronômico do francês” é a atração noturna. Lá estão todas as estrelas escondidas nas cidades grandes. O cara é bem didático, bem-humorado e tem dez telescópios de boa qualidade. No sítio, com luzes na penumbra, as estrelas, favorecidas pela altitude e pelo ar limpo e seco, são escandalosas em luminosidade! Ao final, na sala acolhedora, um chocolate quente deixa o frio lá fora. O ônibus (transporte incluso) deixa cada um no seu hotel, não é um luxo?
A viagem de ida e volta — San Pedro/Uyuni — é uma maratona de aventura em 4×4, entre montanhas coloridas, areias de veludo, lagunas esmeralda, vermelha, cristalizada e gostosas termas a 38°C. Em contínua vigilância, os vulcões em 360 graus com os picos nevados; um deles expelindo fumarola traz excitação e, incrivelmente, relaxamento.
O sol brilha forte durante o dia, resfriando à tardinha com o vento constante. No deserto, o esquema é “de cebola”: tira e põe camadas de agasalhos, camisetas, chapéus, luvas, etc. etc..
Os hotéis são bons para os níveis da Bolívia. Estavam enfrentando racionamento de gás. Servem café solúvel (importado do Brasil!) ao invés de fresco/feito na hora, biscoitos/bolachas do tipo água e sal, parece o continental dos americanos. A comida é boa, há sempre a cheirosa e escaldante sopa; os atendentes são atenciosos e amáveis. No Chile, o desayuno já é bem mais farto e variado.
Há quatro “refúgios”, hotéis administrados pelos pueblos indígenas; ficamos no Tayka del Desierto, que já tem aquecimento solar. Contudo, há de se levar em conta as diferenças entre o nosso “paístropical” e a altitude de 4600m. Por exemplo, a recepcionista, quando lhe perguntaram naquela noite de 4°C, se costumavam acender a lareira, respondeu prontamente:
— Acendemos, sim. No frio!!
O hotel de sal é muito interessante, com o piso em sal crocante, esculturas, lareira, tudo salgado! Para brasileiros, para quem a água congela a 15°C (este é o chiste que rola por lá), o pernoite… bem, o pernoite já é outro desafio, vencido com os fartos cobertores, incluindo o de orelha. 😉
Nossa agência, Andarilho da Luz, escolheu um roteiro criterioso, com os “highlights” da região, brindando-nos, ainda, ao final da tarde com um delicioso Carménère e guloseimas.
Atacama e Uyuni são lugares fortes, a natureza desafiadora, merecendo um olhar cuidadoso, momentos de reflexão e gratificante silêncio.