A Cidade das Mulheres — Ecuador

Existe, sim, um matriarcado em El Tambo. À espera de maridos e filhos, estas corajosas mulheres são Penélopes modernas.

Os pueblos equatorianos desenvolveram costumes, tradições tornando-os peculiares:

  • Latacunga é o das fritadas; porcos/chanchos são dependurados às portas. Nacos de carne são retirados e fritos ali mesmo em enormes frigideiras. O cheiro bom de especiarias vai muito longe;
  • Salcedo é o paraíso dos helados: sorvete de todos os gostos e cores;
  • Pelileo é o reino das fábricas e comércio de jeans de todos os tipos possíveis;
  • perto de Ambato, uma singular escola e cultivo de bonsais. Plantas antigas com um porte majestoso.
  • de Salasaca vem a lã fiada enrolada em novelos por alegres mulheres na praça, algumas velhinhas bem ativas.

O transporte regular entre os pueblos é de um luxo bem-humorado.

Curioso, mesmo, é El Tambo, um lugar já apelidado de “a cidade das mulheres”. Num êxodo maior que o de Governador Valadares em Minas Gerais nos áureos tempos, maridos e filhos emigram, principalmente, para os Estados Unidos.

A busca do El Dorado leva os seus homens e as mulheres, com as crianças pequenas, assumem todas as tarefas. Vimos mulheres ordenhando, pastoreando, carregando água, assentando tijolos, dirigindo velhos tratoretes…

Os dólares lá de fora são empregados na construção de casas muito grandes — 8 ou 10 quartos — com sobrados, varandas e janelas coloridas. Como um troféu, esta construção demonstra o sucesso na terra estrangeira! Enquanto os homens não regressam, a manutenção das casas vazias fica a cargo dos pais ou avós; estes cuidam do imóvel e continuam morando no casebre ao lado. Para eles, morar no “castelo” é impensável.

Muitos jovens nunca mais dão notícias… ficam as casas inúteis, inacabadas, como o testemunho da busca da fortuna, do sonho de uma vida diferente, enfim do surrado, nem por isto sem valor, American Dream.

Perto de El Tambo, as ricas ruínas de Ingapirca — simbólico presságio do destino de El Tambo?

Em ligeiras pinceladas, a história nos conta sobre a nação Cañari, uma adiantada civilização indígena, nesta região desde o século V. No início do século XVI foram conquistados pelos Incas, quando se iniciou a construção de Ingapirca. Logo depois, os cruéis conquistadores espanhóis destruíram este rico império indígena. Como sempre, sobre os cadáveres dos nativos construíram igrejas.

O guia especializado em Ingapirca é carismático; seus olhos brilham ao descrever o significado de cada pedra, de cada símbolo, de cada forma na rica cultura Cañari e Inca. Dá gosto ver alguém demonstrar, de dentro para fora, tanto entusiasmo pela profissão. Confirmando esta minha impressão, quando falei da sua excelente expressão corporal própria de um bom ator, respondeu-me:

— então sou ator de Ingapirca, onde quero morrer!