Os vulcões, como os seres humanos, trazem grandeza e destruição dentro de si mesmos.
De Quito, a Avenida de los Volcanes avança para as montanhas, em direção ao Cotopaxi, um dos mais altos, com 5.897m. A Avenida dos Vulcões justifica o apelido dado pelo alemão Humboldt, naturalista, historiador e geógrafo, que esteve por 5 anos pelas Américas no século XIX. Ao largo da Cordilheira dos Andes — um maciço espetacular de, aproximadamente, 8000km — este caminho conecta o norte ao sul do país e abriga lugarejos remotos, vales, formas pitorescas, canions, rios e lagos. Nesta surpreendente avenida, com dezenas de soberbos vulcões, a vida ainda gira em torno das tradições e costumes andinos.
Chegamos ao Parque Nacional Cotopaxi e, daí, a rodovia se estende ao infinito, numa paisagem em 360 graus. O Cotopaxi, o segundo mais alto do Ecuador, se apresenta com o cumbre coberto de neve.
Nesta região dos Andes, o páramo guarda um ecossistema tão simples quanto admirável e eficaz:
a vegetação baixa, alpina, típica dos locais frios e úmidos, forma uma esponja natural, a maior do mundo, coletora de água gota a gota. Este incrível processo contínuo forma fontes cristalinas de pequenos riachos, sem origem glaciar, fundamentais para todos os seres vivos destas paragens.
É um sistema eficiente, mas frágil, e a pecuária é uma ameaça séria.
Chegamos ao estacionamento do Parque, de onde só se prossegue a pé ou de bicicleta. O Cotopaxi, por ser um cone perfeito com o formato de “ombros” arredondados, tem o apelido de cuello de la luna; isto se vê quando a lua cheia “pousa” na cratera.
A uma altura de 4660m começamos a subida. O vento castiga e a partir de um ponto a respiração é curta, a cabeça vira um insistente tambor-tum-tum, obrigando-nos a parar a cada dez passos. Cristian, nosso guia bem-humorado, nos empurrava morro acima. A 4864m está o Refúgio, um pequeno abrigo para os corajosos aspirantes ao cume.
As erupções do Cotopaxi, cuja cratera mede 480m, são arrasadoras; podemos ver a força da lava pelo extenso canion sulcado pela erupção de 1904.
A terra negra faz um belo contraste com um manto macio de neve que, egoísta, esconde o Cotopaxi. Aqui uma pedra! Oba! É um camarote para recuperar o fôlego e aproveitar o silêncio cheio de sons desse lugar especial. O Cotopaxi, de longe, é gentil e convidativo, mas… vamos dar meia-volta. Alguns continuam o aclive e já se transformam em pequenas figuras lááá em cima.
A descida “es papaya”, como dizem por aqui. Sim, agora, todo o santo ajuda, ainda mais com um caldo quente e chá de coca, aliás, muito raro no Ecuador. Além de artesanías, há no Parque um pequeno museu sobre vulcões e a demonstração dos danos da pecuária e agricultura quando ocupam o lugar das matas nativas.
…saímos daqui leves, quietos, trazendo a beleza do Cotopaxi com a gente…