Darjeeling, uma cidade incrustada a 2045m de altitude no Himalaya, é emoldurada pelo imponente Kanchenjunga, o terceiro pico mais alto do mundo.
De Munique, voamos para New Delhi. Pernoite no Lemon Tree Hotel; muuito bonito e muuito confortável. Este contraste entre o luxo e a miséria da população nos choca a cada vez. O sistema de segurança no hotel é bem rigoroso: os veículos são parados em uma cancela e revistados, incluindo o motor. Os hóspedes passam pelo controle de raio-X e revista pessoal à parte. Pelo menos, o atendimento é cuidadoso e o pessoal muito cortês.
Vôo de Delhi a Bagdogra, com conexão em Kolkata/Calcutá. Tudo muito verde, cheio de palmeiras. A floresta exuberante, que cobre quase todo o Himalaya, já começa aqui. Nestas regiões chove quase todos os dias, daí a vegetação inigualável. Em Bagdogra começa a verdadeira Índia.
Somos recebidos pelo guia Anand numa simples e tocante cerimônia de origem tibetana. É a entrega da khata, uma echarpe de seda branca ou palha. É o símbolo budista de boa vontade, boas vindas, compaixão, amizade e pureza. É oferecida em solenidades oficiais com os lamas e, também, em casamentos, aniversários, funerais e em outras ocasiões significativas. Vimos, depois, essas echarpes/khatas amarradas em mosteiros, carros, varandas, jardins. É, sim, um sinal de gentileza e de paz.
Aqui em Bagdogra, onde pegamos um 4×4, é um espanto só: gente, vacas, cães, cabras, carroças se misturam ao buzinaço constante. Logo ali, um mercado ao ar livre de frutas e verduras, temperos e pós de todas as cores. Em qualquer canto, frituras em tachos fumegantes, sacos de peixes secos e duvidosos. Uma garota se aproximou, apontou para um saco. O vendedor pesou com uma pedra (!) e entregou-lhe uma “mão” de cascas de camarão numa folha de jornal. Lixo por toda a parte.
A gente vai subindo, subindo, passando por vilarejos em estrada muito estreita e precária. Os contorcionistas — ops! — os motoristas fazem incríveis manobras em ultrapassagens com os retrovisores recolhidos. Cada um se esforça e quem puder vai passando… sem xingatório. Nenhum acidente!
Em Darjeeling acrescente o trem ao mufurufo. Vem apitando de longe e o pessoal, carros, bichos desocupam, sem atropelos, os trilhos. Da janela do trem, que parece despencar às sacudidelas, dá para pegar qualquer produto no balcão ou dependurado nas vendinhas enfileiradas à margem. O comércio de bugigangas é intenso.
Darjeeling é uma cidade com uns 200 mil habitantes. No “centro” uma pequena parte plana e a outra grande encarapitada no Himalaya. Por causa das montanhas, os espaços são ocupados verticalmente. Casas boas e outras caindo aos pedaços. Janelas e varandas enfeitadas com flores “brasileiras”. As “trombetas” ou “saias-brancas” — Brugmansia — são imensas e belíssimas. Coloridas begônias nas varandas carcomidas pelo sol e chuva. Parece não haver coleta de lixo. Tudo, tudo é jogado na rua e nos quintais.
O Hotel Elgin é uma elegante e antiga vila inglesa com um jardim cheio de vasos de flores. A comida muito boa e variada. A pimenta bem forte é quebrada com molhos à base de iogurte. Ah! Café de verdade não tem, apenas o solúvel, argh! O chá, muito bom, é a bebida oficial de qualidade reconhecida internacionalmente.
• A atração pitoresca é o “Toy Train” — Darjeeling Himalayan Railway — com a mesma locomotiva desde 1881. É a segunda estrada de ferro mais alta do mundo! O apito e o barulho da locomotiva são ensurdecedores. O trajeto curto com paradas para fotos e para absorver a paisagem.
• O Museu do Everest, com uma boa maquete de toda a cordilheira, ressalta as escaladas dos indianos. Os equipamentos, vestimentas, aparelhagens, fotos, depoimentos mostram os sucessos, as tragédias e a tenacidade dos alpinistas de todas as épocas nos misteriosos cumes gelados.
• A Escola de Alpinistas, perto do Museu, recebe “alunos” de todas as partes do mundo. Não permitem visitas. A gente contempla cá de fora… com uma inveja danada!
• O Zoo de Darjeeling é renomado, grande, em meio a uma floresta. Entre outros, há ursos, tigres e o fofo panda vermelho, com um rabo peludão. Havia animais visivelmente estressados. Decididamente os zoológicos são prisões cruéis e deveriam ser fechados.
• Emocionante este mosteiro Yiga Choeling Ghoom, um agradável refúgio budista. Se houver alguma saída para este mundo… será pelo budismo.
No final da tarde, o fervedouro de Darjeeling é impactante… ali a imponderável ordem no caos…