Anna

…é uma figurinha adorável! Lembra muito a Maude de “Ensina-me a Viver“. Bem-humorada, com leves e coloridas roupas, curtiu intensamente os dias africanos ensolarados e bem quentes; adorava o contraste muito agradável aos graus negativos do inverno europeu.

Anna tem dois filhos. Uma nora é amigável, desfruta da boa companhia da nem-parece-sogra. A outra… bem… não pode suportar o riso fácil, a capacidade da “mãe-do-marido” de viver intensamente o agora, de receber cada momento como um presente dos deuses.

Sem qualquer preparo ou desejo, Anna se tornou diretora das empresas do marido. Foi a solução imediata e drástica para evitar uma falência. O marido morrera, depois de apenas quatro meses, com câncer no fígado. Ele nunca falou disto pra ninguém, como não costumara falar dos negócios ou de si mesmo. Entre todas as dificuldades, Anna enfrentou a ambição da vice-diretora em usurpar-lhe o lugar. Inteligentemente, Anna apresentou à “onça” o desafio:
— Vá ao banco, pague a dívida da empresa de 300 mil marcos — a moeda da época — e o cargo é seu!!
Claro, a interesseira nem voltou à fábrica para desocupar as gavetas.

A inexperiente, mas resoluta, diretora contratou novos empregados, pôs em prática idéias mirabolantes de tão simples 🙂 e saiu-se muito bem pelos 21 anos seguintes. O resultado é que viaja sozinha — um luxo! — por todos os cantos, com a $retirada$ da empresa. Recentemente esteve em Sri Lanka e na Índia.

Com boas risadas, conta as peripécias para vencer e curar um câncer de pele no nariz. Diz ser isto mais um motivo para aproveitar todos os dias. Simplificando a vida, Anna trocou a casa grande por um pequeno e confortável apartamento. Curte os netos, encontrando-se com eles nos aniversário, indo juntos ao cinema, teatro e concertos no parque. Ela faz parte do clube das “duas alegrias“…

Anna conseguiu uma convivência equilibrada com os netos e filhos que a procuram, porque fugiu do paradigma das mães-avós sempre disponíveis aos gostos, caprichos e vontades dos pimpolhos e adultescentes. Eles a tratam com uma séria dignidade.

Anna deixou-nos belas lembranças; o bom convívio nestas poucas semanas por este mundão africano valeu por muitos anos. Ah! Nossa amiga tem apenas 82 anos…