Connemara — Irlanda

Galway, uma charmosa e hospitaleira cidade na belíssima baía com o mesmo nome, é o ponto de partida para Connemara, apelidada a Esmeralda da Irlanda. Connemara é uma região cheia de lagos, vida selvagem, ilhas e pedras na costa oeste irlandesa, muitíssimo bem aproveitada com a realização de incríveis maratonas e desafios como o “Turf Warrior” e o “Great Fjord Swim”. Aqui se fala o sonoro gaélico como primeira língua. Em outros lugares, as placas são bilingues.

Perto de Clifden, uma cidadinha muito agradável, o Abbeyglen Castle, construído em 1832 por uma família nobre é, hoje, um clássico hotel com extensos gramados, ambientes românticos ao som de piano e boa comida.

Connemara também tem os seus castelos, histórias de amor e traição. Richard Martin, um nobre da região, costumava passar férias com a mulher na França. O saldo destas viagens foi uma paixão fulminante da mulher por um ator aparentemente sem fortuna. Martin, o marido esperto, não lhe concedeu o divórcio mas acionou o amante por fraude (!!), alegando que a mulher fora vítima de ardis do amante. Ganhando a ação, teve a honra lavada sem se divorciar. A família do ator, muito rica, pagou uma fortuna de indenização; Martin jogou todo o dinheiro pela janela da carruagem. O trágico é que a esposa morreu logo depois ao dar a luz ao primeiro filho. Martin casou-se novamente e teve cinco filhos. Não, a história não termina aqui! Anos mais tarde, Martin perdeu a eleição para o parlamento, pois a família da primeira mulher ofereceu muito dinheiro aos eleitores para faltarem às urnas… morreu pobre.

Do pequeno aeroporto de Connemara, 8 minutos de vôo nos levam a Inis Mór, a maior das Ilhas Aran. A impressionante fortaleza pré-histórica Dún Aonghasa é conhecida como a mais grandiosa construção bárbara da Europa; à beira de altos penhascos, este forte ocupa uma grande extensão nos enormes campos verdes quase desertos. Os limites dos terrenos são de muros baixos de pedra. Interessantíssimo é que a “porteira” dos terrenos também é de blocos de pedra… são desempilhados e reempilhados, toda vez, para entrar e sair. O cemitério e outras ruínas antigas compõem este cenário incrível.

Atravessando campinas cheias de pedras, lagos onde a luz brinca com a paisagem, avista-se a Kylemore Abbey. Há muitos anos se transformou em renomado colégio interno, dirigido pelas Beneditinas; funcionou até 2010. Hoje é museu e atração turística. Só o bem-cuidado jardim já vale a visita!

Connemara tem o fascínio do vazio, pouca gente, raros telhados… é cheia de silêncio, de campos ondulados, de mar a perder de vista… Connemara traz repouso e imagens indeléveis.

Halloween… no Brasil

É intrigante acompanhar o avanço de certos movimentos vindos de fora.

Halloween — de “hallow”, termo antigo para “santo” — significa “Véspera dos Santos”, era uma celebração, na Irlanda, do fim das colheitas e da aproximação do inverno, desde os tempos medievais. Em países de língua portuguesa, Halloween passou a significar “Dia das Bruxas”.

A igreja de Roma comemorava o todos-os-santos em maio, a partir de 609 d.C. O papa Gregório III, no século VIII, mudou a comemoração para primeiro de novembro, com o suposto objetivo de esvaziar as festividades pagãs.
Enquanto os “pagãos” celebravam o Samhain alegremente com fogueiras, cantos, danças, rituais celtas de fertilidade e fartura de alimentos… …a igreja pregava abstinência, a peregrinação e o arrependimento. 🙂

Já em 1593, Shakespeare mencionava o Hallowmas, quando as crianças pobres iam de porta em porta, recolhendo os bolos dedicados às almas… um jeito — bem inglês! — de aplacar a consciência.

Um pregador africano explica o uso de fantasias e disfarces macabros no Halloween: esta era a última noite para as almas vagarem pela terra, assim todos se fantasiavam e usavam máscaras para escapar da vingança dos mortos.

A grande fome — Great Famine, 1845 a 1849 — dizimou e expulsou milhões de pessoas da Irlanda; um tanto destes emigrou para os Estados Unidos; a família Kennedy, por exemplo, é de origem irlandesa. Lá, os irlandeses continuaram a celebrar a véspera de todos-os-santos em suas comunidades. Somente a partir da década de 1920 a festa se espalhou, coincidindo com a colheita das morangas, mais fáceis de esculpir do que os nabos usados pelos irlandeses.

A origem de comemorações folclóricas é, além de controversa, muito rica em histórias e conjecturas. Em cada lugar, cada povo vai-lhe acrescentando o tempero dos próprios valores, usos e costumes. Nos Estados Unidos, ultimamente, os jovens se embebedam e os resultados, claro, passam longe da alegria original. O excesso de doces ingeridos pelas crianças tem gerado, atualmente, problemas muito sérios.

No Brasil, tem-se propagado o tal do Halloween nas academias, nos colégios, nas festas no final de outubro… qual o sentido disto? Assinalar a data em escolas de inglês pode se justificar, mas cá de fora? Nosso folclore tem motivos de sobra para comemoração: Saci Pererê, Mula-sem-cabeça, Bumba-meu-boi, a Catira Mineira, etc. etc. Nossas crianças certamente não sabem, nunca viram uma Congada ou uma Folia de Reis. É uma tradição belíssima, enriquecedora, com o ritmo contagiante de guizos amarrados nas canelas dos cantadores e tocadores. As festas vivenciadas e cultivadas aqui nesta terra podem ser mais interessantes, mais expressivas do que qualquer Halloween importado.

O importante é a força da tradição que o Halloween ou qualquer outra festa folclórica traz em si. Simplesmente importar modismo, copiar figurino, repetir refrão empobrecem qualquer manifestação, porque estará desconectada de significado cultural ou dos costumes de um povo.

Border Collies — Cães Pastores na Irlanda

Ainda no Ring of Kerry, um espetáculo formidável e incomum, pelo menos por estas bandas. O pastor de ovelhas Brendan Ferris faz uma excelente demonstração do trabalho dos cães nas fazendas irlandesas. O pequeno rebanho é movido em qualquer direção através de apenas assobios e gestos. Brendan tem marcado senso de humor, talento e muito carinho com os cães. São realizadas competições regulares e estes cães tem alto valor no mercado. Na Escócia, há os “bearded collies”.

Os “border collies” são treinados progressivamente a partir dos nove meses por um período intermitente de 12 a 18 meses. Exercitam-se árdua, alegre e diariamente por 8 a 9 anos, quando se aposentam. É significativo constatar que, em geral, eles são os mais longevos e saudáveis da raça canina. Este exemplo dá para pensar…

Inicialmente, à medida que Brendan vai pronunciando os nomes das ovelhas, cada uma se afasta do grupo para se apresentar ao público. São de tipos e temperamentos variados.

Com outro grupo, os cães demonstram suas habilidades, atenção e destreza ao conduzir as ovelhas dispersas pela montanha. Sob o sutil e, quase sempre, bem-humorado comando de Brendan, os cães levam as ovelhas para a direita, esquerda; rosnam, as fazem correr, as colocam em círculo ou as separam, enfim, são competentes guias.

É mínima a possibilidade de insurgência das ovelhas, cuja obediência imediata é o sonho de muitos governos e religiões! Alguns conseguem…

Observar este ofício tradicional, útil e interessante na magnífica paisagem do Ring of Kerry foi um momento delicioso de relax e diversão…

Irlanda de Trem #2

Próximo a Killarney — uma cidadinha muito agradável, com hotéis excelentes — está o Ring of Kerry, a sudoeste da Irlanda. É mesmo um anel de baías azuis numa extensão verde silenciosa cheia de parques e montanhas de até 1041m, consideradas bem altas por lá. A estrada contorna as belíssimas e intocadas baías de Kenmare e Dingle; nesta, foi filmada uma das cenas do clássico “A Filha de Ryan”.
Nas ilhas próximas monges agostinianos moraram em mosteiros desde o Séc. VI e foram um enclave de cultura e desenvolvimento até o séc. XII naquela região.

Limerick é a cidade do rugby irlandês e do ator Peter O’Toole. Nas proximidades, o Bunratty Castle data de 1425; é mais uma das típicas construções residenciais dos nobres da época. Na costa oeste, os “Cliffs of Moher”, considerados uma das maravilhas do mundo. São penhascos indomáveis de 200m de altura e 8km de comprimento, cortados pelo mar e ventos gelados. É um desses lugares onde as fotos ficam pálidas e as palavras muito pobres… fica-nos uma profunda impressão de mistério e força.
Neste lugar, é impressionante o cuidado dos irlandeses com o meio ambiente; não há construções à vista, é tudo subterrâneo. Assim, os penhascos continuam intactos e magníficos sem nenhuma interferência externa.

Chegando a Galway, na baía do mesmo nome, há o Parque Nacional do Burren: é uma enigmática paisagem lunar de calcáreo — similar à da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Em 1649 o Burren já foi descrito, de forma pitoresca, como um lugar onde “não há árvore para enforcar um homem, nem água profunda para afogar, nem terra suficiente para enterrar”.

Irlanda de Trem

Passageiros, todos a bordo… o tempo está perfeito, céu de brigadeiro!
De Dublin (Heuston Station) o trem parte para Cork, uma grande cidade (nos termos irlandeses), pois tem 150 mil habitantes. É a terceira depois de Dublin e Belfast. Aqui tem uma “concorrente” da Guinness e também uma conhecida destilaria de uísque. É uma alegre cidade universitária e hospeda filiais de multinacionais importantes, como Apple, Google e Yahoo. O mercado é limpíssimo, cheiroso com todos os tipos de queijos e peixes que se pode imaginar.

O destino é Cóbh, porto importante de emigração, último embarque no Titanic, tema muito bem exposto. Há uma mostra impressionante das péssimas condições dos emigrantes. Importantes as informações sobre “The Great Famine” e a consequente emigração de 3 milhões de irlandeses por este porto.

O highlight deste dia é a visita ao Castelo Blarney e jardins. O castelo foi construído em 1446 e a atração é a famosa Pedra de Blarney: você terá que alcançar o topo para beijá-la e ganhar o presente da “eterna eloquência”. Na realidade, é uma destas estórias que turista adora! Realmente, depois de dúzias de estreitos degraus em espiral, chega-se ao rampart onde o “beijo” exige uma ginástica de Cirque du Soleil… 🙂 deve-se deitar de costas, descer a cabeça até alcançar a pedra suspensa sobre o abismo. Claro, declinamos a honra! Esse tipo de “atração” não nos pega há muito tempo… valem o engenho da construção, o exercício, a vista do verde irlandês e os jardins.

Curioso o “jardim de venenos”. São plantas bonitas, mas não se engane: tem partes ou sementes venenosas. Interessante é que nossos “buchinho”, mamona, hortênsia e ruibarbo, entre outras, estão lá! O jardim das mais variadas samambaias é lindíssimo; a cascata, o frescor, a sombra levam-nos à meditação.

Dublin — Irlanda

A solidez, a imponência dos casarões de pedra, as ruas cheias de gente colorida, avenidas largas, flores em todas as portas, janelas e postes fazem de Dublin (parodiando Hemingway) uma festa. O Trinity College, em plena atividade, é um centro efervescente de cultura e eventos. Na biblioteca antiga, o Livro de Kells, manuscrito iluminado do séc. VIII, arte dos frades celtas, é prova da genialidade, da grandeza, da dedicação e altruísmo da humanidade. É absolutamente consolador verificar que o ser humano é capaz de uma obra tão grande, quando a guerra na Síria é o extremo oposto.

A exposição na antiga fábrica da Guinness, a cervejaria mais antiga da Irlanda, é uma demonstração de talento, organização e muuuito trabalho. Usa sistemas hi-tech para demonstrar equipamentos e processos muito antigos de fabricação. Arthur Guinness arrendou uma cervejaria menor quando, ainda muito jovem, quis botar em prática suas idéias mirabolantes: em 1759 nasce a Guinness!

Nem é preciso anotar endereço, o cheiro delicioso de cevada e malte conduz o turista à cervejaria…