O Ritual da Cremação — Kathmandu

Indefinível a sensação diante da pira incandescente… o corpo é consumido pouco a pouco.

O Templo de Pashupatinath está a 10km do centro de Kathmandu em um parque muito grande cortado pelo rio Bagmati, cujas águas parecem uma massa pesada, escura e lenta. Aqui a divindade Shiva teria repousado e “Pashupati” significa “o senhor e protetor de todos os seres vivos”. À entrada é cobrado, justificadamente, um ingresso dos turistas e bancas de todo o tipo de artesanato tem a oportunidade de bons negócios em um dos países mais pobres do mundo.

Pashupati tem centenas de templos, santuários e edificações, tudo muito antigo. Entre estas, visitamos um asilo onde os velhos sem família são levados para aguardar a morte e a cremação ali bem pertinho.

No alto, o templo principal de Pashupatinath, com a cúpula em ouro, é um dos maiores do Nepal.

No interior, vimos de longe o gigantesco boi Nandi, que teria sido a montaria de Shiva. Só é permitida a entrada de hinduístas.

É inusitado, no portal do templo, um modernoso display com informações em nepalês e inglês.

A plataforma de cremação tem degraus até o rio, onde se lavam os pés do morto e as famílias se aspergem. Os ricos são cremados na parte superior do rio. Há algum tempo, a pira dos ricos era de sândalo, uma madeira perfumada; como está quase extinta, hoje coloca-se apenas uma pequena tora.

Os sadhus — uns homens seminus, cabelos aos metros, faces coloridas e corpos cobertos de cinzas — estão em toda parte e sobrevivem posando para os turistas. Dizem as boas línguas que são “sadhus para turista”; os verdadeiros, sim existem, estão em cavernas distantes em jejum e meditação.

A gente assiste, esbugalhados, a preparação da pira, o ritual de envolver o morto em lençóis brancos e laranja. Na boca se coloca um pavio de cânfora e manteiga, onde se acende a chama, pois pela boca começa e termina a vida. Significativo é o “leito” formado sobre as toras para aconchegar o corpo coberto de palha; não se usa líquido inflamável.

Toda a cerimônia é envolta numa atmosfera de respeito e silêncio.
O restante das cinzas e todos os resíduos são lançados ao rio. Ali, crianças e mulheres recolhem as sobras de madeira e possíveis moedas, anéis, brincos no rescaldo.

Mais abaixo no rio, custei a acreditar ao ver — e conferir! — duas mulheres recolherem os restos de um tronco humano.