La suerte está echada

A origem da expressão, o dado seja lançado ou a sorte está lançadail dado è tratto, the die is cast — é latina: alea jacta est! Júlio César, ao atravessar o Rio Rubicão, 49 a.C., em direção a Roma, desobedecendo ao Senado, lançou este brado cheio de esperança e desespero. Queimar os navios — ordem de Hernán Cortéz — tem significado semelhante. Uma escolha corajosa, uma decisão arriscada e a impossibilidade de retorno.

LSMas, este primeiro filme, 2005, de Sebástian Borensztein — também dele Un Cuento Chino — não carrega essa dramaticidade toda! Pelo contrário, é uma incitante história. Este jovem diretor está se firmando como um bom contador de “causos”. Neste La suerte, Borensztein não dá lições, não tem a pretensão de mudar alguém; conduz o fio com muito humor e sensibilidade.

A orquestra El Arranque, desde 1996, reconhecida pelo talentos dos músicos, já fez apresentações em Hongkong, Itália, Japão, Estados Unidos e no Canecão do Rio de Janeiro. Está perfeita no tango, a alma argentina! Aquele clube é o dos nativos. Já estivemos numa milonga, sem turistas, em Buenos Aires e a atmosfera é mesmo envolvente com a linguagem corporal do tango.

Mais uma vez é interessante perceber a diferença cultural no linguajar porteño. A franqueza é quase rude, o “politicamente correto” não está na moda na Argentina. O gestual completa o diálogo, onde PQP é uma interjeição (!).

LS2Perspicaz é o desenlace da questão amorosa de Clara (Julieta Cardinali) e Guillermo (Gastón Pauls). Inicialmente o término da relação foi muito rápido… y punto! O troco foi incisivo, sem palavras, cortante… y punto. Útil para ser colocado em prática no momento oportuno. Quem vir o filme vai decifrar.

A delicadeza de Felipe (Marcelo Mazzarelo), no final, ao proporcionar ao pai a mais doce das lembranças, revela a reconciliação completa dos laços familiares. Demonstra, ainda, o tesouro de possibilidades do talento do diretor Borensztein, ele próprio um filho amoroso. A preparação persistente de Guillermo, sob a batuta do mestre dançarino, para o tango do amor é a declaração mais eloquente…

Um comentarista argentino, cujo nome se perdeu, avalia este diretor como “incapaz de compreender cinema”, além de considerá-lo “prolixo, reacionário e discursivo”. Encaixa bem aqui o saber da vovó: ah, a inveja é má conselheira!

O clube dos azarados é a melhor das caricaturas, a bazuca é daquelas soluções que a gente acaricia por muitas e muitas vezes e “la mufa” nos deixará rindo bem depois de as luzes se acenderem.